Flag of Great Britain Flag of Brazil

domingo, 20 de setembro de 2015

Pé na estrada: Itália (Parte 1 - Milão e Como)


Sem muita conversa e depois de alguns dias de sumiço, vamos ao relato de nove dias na linda e quente Itália. Peço desculpas de novo pelo tamanho do post, mas além da explicação inicial, nessa primeira parte estou relatando quatro dias de viagem, ou seja, é bem difícil simplesmente resumir tudo. Mas vamos lá!

Tudo começou há mais de 2 meses atrás, quando eu num momento de cara de pau como poucas vezes na vida questionei um amigo italiano da minha sala se havia um quarto disponível na casa dele para eu e um dos meus amigos coreanos ficarmos, em um final de semana que aconteceria o GP de Fórmula 1, em Monza.

Pausa pra uma explicação rápida: Acho que nunca falei aqui antes, mas já há quase quinze anos acompanho F1 fanaticamente. Mesmo após a era de ouro do Senna e dos brasileiros em geral, sempre me empolguei assistindo, mesmo que isso significasse acordar ou ir dormir nas altas horas da madrugada. Assim que cheguei na Irlanda, já comecei a cogitar a possibilidade de ir para algum país ver uma corrida pois mesmo tendo o GP no Brasil nunca fui, já que é bastante caro. Dentre as opções disponíveis desde que cheguei, a Itália sempre se mostrou a mais viável, considerando passagem, ingresso e hospedagem, que pra esse caso sairia na faixa. Fecha parênteses.

Meu amigo não só gostou da ideia, como incentivou por várias vezes. Depois, dentre várias conversas que tivemos com outras pessoas na época (isso aconteceu também há uns 2 meses), acabamos decidindo por reunirmos todos na terra da Marguerita, encontrando amigos que já teriam deixado Galway e voltado pra suas casas, para desfrutarmos do país e de nossas companhias.

A princípio meu planejamento já que orçamento de intercambista desempregado não é fácil era basicamente assistir o GP e encontrar o pessoal na casa desse amigo, que fica em Como, província da Itália na divisa com a Suiça e muito famosa por seu lago homônimo. A questão é que, indo junto com mais dois amigos coreanos, fui convencido de que não fazia sentido desperdiçar uma oportunidade única de visitar terras italianas e apenas assistir uma corrida. Com isso, acabei desistindo da F1 (apesar de ainda assim mantermos a ideia do mesmo final de semana!), e planejamos uma esticada depois de encontrar o pessoal nos primeiros dias, fazendo um tour por mais alguns outros locais país afora.

Assim, nosso plano se consistiu em 4 dias em Como e Milão, 2 dias em Veneza e 3 dias em Roma. Depois de algum tempo criando roteiro, planejando lugares pra visitar, e reservando acomodações, passagens aéreas, de trem e visitas a museus (aliás, ninguém nunca fala do quanto é cansativo fazer essa parte nada glamourosa das viagens), lá estávamos nós, 3 malucos saindo de Galway para nossa primeira viagem internacional, e em grupo! Detalhe: sequer dormimos no dia anterior, pois o ônibus pra Dublin era 1 da manhã, e antes disso precisamos ajudar uma amiga em uma mudança zumbi: mode on.

A viagem pela companhia preferida dos pobres e oprimidos Ryanair foi tranquila. Não tem conforto nenhum, mas sendo apenas 3 horas e por um preço difícil de se encontrar em outra companhia, acaba sendo justo. Mesmo com um coral de crianças chorando, consegui dormir quase a viagem toda, coisa extremamente difícil de acontecer comigo.

Chegando em Milão (aeroporto Milano Bergamo), algo curioso aconteceu na imigração: meus amigos passaram tranquilamente e sem questionamentos, mas na minha vez, os oficiais perguntaram o que eu estava indo fazer no país. Respondi tranquilamente que estava viajando pelo país com amigos, e um deles me pediu pra ver a passagem de volta. Repliquei que infelizmente ela estava com o rapaz que já havia passado antes, e fizeram uma cara de "ok" (aliás, depois percebi que na verdade NÃO ESTÁVAMOS com a passagem de volta impressa, pois a Ryanair libera o check-in apenas 10 dias antes e ainda não estava disponível, ou seja, poderia ter dado muita merda). Depois ainda questionaram se eu iria na "Expo" (explico depois), e eu disse que havia uma possibilidade. O estranho é que eles perguntaram isso de uma maneira que não entendi se estavam me sugerindo, ou algo como "não acredito que você não vai!". Enfim, qualquer das duas reações, eu não necessariamente esperava nesse tipo de situação!

Na sequência, pegamos um ônibus no aeroporto com destino à estação ferroviária de Milão, onde nosso anfitrião italiano e uma amiga suíça nos esperavam. Após uns 20 minutos, lá estávamos todos, aos abraços e risos depois de alguns meses desde a última vez em que nos vimos. Proseamos um pouco e pegamos um trem com direção a Como, e a essas horas estávamos caindo de fome, pois já era início da tarde. Ah, faltou dizer: a estação é enorme e linda!

Após chegar em Como, ainda precisamos caminhar uns 15 minutos e pegar um ônibus até a casa do nosso amigo. Durante essa caminhada, conhecemos um pouco da cidade, que é super fofa, e pude ter momentos de extrema felicidade ao sentir, depois de quase quatro meses, o que era calor novamente! Pra se ter uma noção da situação, apenas nessa viagem de fato tirei camisas e bermudas da minha mala desde que cheguei na Irlanda! Afinal, esse tipo de "traje" não faz parte do meu dia a dia aqui né! #SadButTrue

Ao chegar na casa do meu amigo (aliás, que casa! Ninguém esperava, mas ele parecia ser a versão italiana do "Riquinho" do Macaulay Culkin, haha!), uma lasanha tamanho família nos esperava! Aliás, tenho a impressão de que os dias em que passamos na casa dele foram os que melhor comi na minha vida!

Depois de um tempinho na "nossa" casa, voltamos a Como pra conhecer o lago. Passamos rapidamente pela catedral da cidade, e já fiquei encantado com a beleza e magnitude da igreja de uma cidade não tão grande, mas que era maior e mais imponente do que todas que já visitei no Brasil. O lago é lindo, e as casas ao redor são bem chiques (George Clooney tem uma mansão lá), e passamos um final de tarde muito agradável, mas não sem antes provarmos a maior delícia da Itália melhor que espaguete e pizza: gellato. Gente, o que é aquilo?! Aliás, me recuso a dizer que gellato é simplesmente sorvete em italiano. Qualquer gellato é melhor do que todos os sorvetes que já provei na vida e ponto!

Nosso amigo precisou fazer uma aula em auto-escola, e acabamos dando uma volta mais longa no lago, e depois de algum tempo de escolha, encontramos um restaurante pra jantar. O lugar era meio chique, mas não nos fizemos de rogados, e como bons intercambistas quebrados, pedimos um macarrão ao pesto amo!, um risoto e uma pizza, e dividimos pra cinco. Além de claro, pedirmos a "deliciosa" e "super em conta" bebida tap water.

No outro dia, depois de uma noite de sono num quarto que improvisaram pra gente que era maior do que meu apartamento todo no Brasil, tomamos um café da manhã com uma torta maravilhosa feita pela "Mama", e jogamos um pouco da versão italiana do jogo de tabuleiro War (acho que nunca joguei esse jogo direito antes, porque dessa vez achei extremamente divertido!). Combinamos na sequência de irmos almoçar na pizzaria favorita do nosso amigo, mas após algum tempo andando, demos com a cara na porta! Atenção: guarde esse evento na memória, vou citá-lo novamente.

Decidimos voltar à parte central de Como, e visitamos outra atração turística da cidade: o bondinho! Ele basicamente sobe um lugar beeeeem íngrime e alto, e após isso há mais de 30 minutos de caminhada até o topo de um parque, que dá uma vista linda da cidade ao longo do lago. Achei bastante cansativo, mas a vista e a experiência como um todo compensam.

Voltando pra casa, a "Mama" do nosso amigo resolveu nos ensinar a preparar o jantar. Mesmo falando um inglês básico, aprendemos como preparar a entrada - bruschetta amo² - e o prato principal: pasta à carbonara amo²³³³²³², além de ter preparado um outro prato chamado Caponada, que mesmo tendo berinjela (que não sou muito fã), era bem gostoso. Sentados à mesa, reunidos com toda família (Mama, Papà, nosso amigo e sua irmã), podemos notar o quanto o processo de se alimentar é importante e sério para os italianos, com todas as etapas separadas e definidas, e até alguns comportamentos metódicos (Papà quase teve um treco quando nossa amiga suíça misturou queijo parmesão na salada!). Tivemos um bom papo, e conhecemos sobre curiosidades da família e diferenças culturais de todos.

No outro dia, acordamos cedo e depois de outro café da manhã estonteante fomos "bater perna" em Milão. Como nosso amigo estava nos guiando (aliás o roteiro que criei pra Milão antes da viagem se mostrou inútil), não me lembro completamente onde fomos. Do que me recordo: demos uma volta ao redor do Castello Sforzesco, um castelo enorme e muito imponente, mas que visitamos apenas a parte gratuita. Depois, fomos na direção da praça da Catedral de Milão, ou em bom italiano a Piazza del Duomo, o principal ponto turístico da cidade. Ela é enorme (como aliás quase toda praça na Itália), e já de longe é possível ver a catedral.

A Catedral de Milão é um show a parte. Ela possui estilo gótico, é simplesmente a quinta maior igreja do mundo, e levou incríveis 6 séculos pra ficar pronta! São tantos, mas tantos detalhes em todos os cantos mínimos que se olha, que seria preciso mais de um dia só pra apreciar o lado de fora. A entrada não é de graça, e pagamos 11 euros em um ticket que dava direito à parte interna, aos "telhados" e a um museu que não entendi onde ficava nem sobre o que era, ou seja, nem fomos. Por dentro ela é linda, mas confesso que por fora achei bem mais bonita. De qualquer maneira, os vitrais que sempre fico vidrado, perdão pelo trocadilho são belíssimos, as colunas que sustentam a estrutura e as esculturas são também um show a parte. O telhado permite uma visão completa da cidade, além de poder se notar mais detalhes da parte externa e a reluzente estátua da Madonnina, que está no ponto mais elevado da catedral (o que quer dizer MUITO alto). A tradição diz que nenhuma construção em Milão é mais alta que a Madonnina.

Após desbravarmos a catedral, fomos almoçar em um restaurante em Milão. A cidade é bem chique, e mesmo tendo aquele ar característico de cidade grande, não me deixou com aquela sensação estranha de Dublin (cheguei basicamente a conclusão de que simplesmente Dublin não é bonita como eu esperava, mas enfim, isso é papo pra depois). Sem ter muito como escapar, fomos também em um restaurante chique. Pedimos de entrada uma seleção de frios, e de prato principal fui de pizza porque né! aos quatro queijos. Aliás, ainda que o restaurante seja chique, percebi que essa separação de entrada, prato principal, etc, é muito comum lá, assim como a cultura de sempre oferecerem uma cesta com fatia de pães logo no início, coisas que só presenciei em restaurantes bem refinados no Brasil.

Depois de pagar a conta, fomos andar mais um bocado pela cidade. Passamos na porta do maior teatro da cidade, o Teatro alla Scala, e voltamos pra "Piazza" pra poder ir pra outro grande ponto turístico: a Galleria Vittorio Emanuele II. O lugar poderia ser considerado apenas um grupo de lojas, mas é tão lindo que mais parece um museu, além de contar com caríssimas chiquérrimas lojas como Prada, Louis Vuitton, Swarovski, Gucci, Armani, e outras que você nem eu terá bufunfa pra se esbaldar. Outro ponto famoso é o "búfalo da sorte". Dizem que se pisar (e dar voltas) nos testículos do pobre animal pintado no chão da galeria, você terá sorte na vida. Não sei se é verdade ou não, mas o coitado já tem um buraco no lugar, e eu preferi não atormentá-lo ainda mais.

Depois disso, continuando o momento "ryca", passamos pelas ruas famosas do "Quadrilátero da moda", sequência de ruas onde estão localizadas várias lojas de roupas. Comentários dizem que mesmo nas lojas mais chiques, o preço em Milão acaba sendo um pouco mais em conta do que no resto do mundo. Como o máximo que estou chegando é na moda de incríveis 2 ou 3 euros na Penneys aqui na Irlanda, declinei a oportunidade. Cruzamos com uma loja da Disney (de novo!), e ganhamos da nossa amiga suiça pulseiras dos personagens do "Inside Out", exatamente um pra cada um. Voltando à infância, yay!

Inside Out!

Pra encerrar o dia, fomos buscar uma outra amiga italiana que não pôde viajar antes, e concluímos o dia tendo um jantar composto por bisteca à milanesa. E teria um lugar melhor, rs?

Nosso último dia em Como/Milão começou cedo, e embarcamos cedo rumo a famosa Expo. Como prometi, vai aqui a expolicação (desculpa, não resisti): A Expo, também conhecida como "World Fair", é um evento que reúne centenas de países em torno de algum tema em específico. Pra se ter uma ideia da importância e da idade do evento, a Torre Eiffel foi construída como ponto de entrada da Expo de Paris, em 1889. No ano de 2015, ela está sendo realizada em Milão, de 1º de Maio a 31 de Outubro, reunindo mais de 140 países sobre o tema: comida. São esperados mais de 20 milhões de espectadores durante o período, nos mais de 1 milhão de metros quadrados construídos para a exibição de uma plataforma de troca de ideias e soluções sobre o tema da comida, com sugestões de inovação sobre um futuro sustentável, sendo possível encontrar e provar pratos de todo o mundo, enquanto se descobre o melhor sobre as tradições gastronômicas dos países participantes sim, eu traduzi a descrição.

Resumindo muito a história: andamos o dia inteiro pelos pavilhões dos países participantes, onde era possível perceber ainda nas construções (normalmente eram quase prédios), características de cada nação, bem como a estrutura padrão dos países que não tinham condições de bancar algo mais elaborado (especialmente os da África). O lugar é imenso, e sendo um sábado, estava também lotado. Apesar da entrada ser paga (com os contatos do nosso amigo pagamos "apenas" 20 euros, ou seja, quase metade do valor original), a comida disponível "em cada país" também era vendida.

Visitamos a Bélgica (além de provar as originais "Belgium fries" chupa French fries), comemos uns petiscos na Espanha, e por motivos das nacionalidades do grupo, fomos: a um stand/fábrica da Lindt (Suíça), ao pavilhão da Coréia (muito tecnológico e com muitas informações sobre o processo de preparo de seus pratos tradicionais) e ao pavilhão do Brasil. Esse tinha uma espécie de rede/cama elástica gigante na entrada que fez a alegria de todos que esperavam em torno de uma hora nas filas até conseguir entrar, já que esse era o tempo padrão "em cada país". Além dessa estrutura e de uma parte que exibia várias plantas típicas que não entendi o contexto, internamente era possível obter informações sobre vários aspectos da agropecuária do nosso país, sempre com números estratosféricos mostrando o quanto o Brasil é grande em extensão, e um enorme produtor em diversos setores. Claro que as coisas estavam apresentadas de uma maneira mais "bonita" do que sabemos que realmente é, mas prefiro deixar quieto. Uma observação para a parte de "souvenir", sempre bem completa e com preços relativamente justos nos outros pavilhões: no Brasil tinha uma lojinha com meia dúzia de coisas a preços exorbitantes, um bar vendendo caipirinha a 10 euros (faça-me o favor!!!!!) e um restaurante com um cardápio bem simples a quase 50 euros. Amiga, não tem como te defender!

Já exauridos e bem tarde, saímos da Expo e fomos pegar o trem de volta pra Como, onde Mama e Papà nos aguardavam pra nos dar carona, pois já não havia mais ônibus aquele horário. A cara de pau só não foi menor porque dali a poucas horas iríamos novamente contar com a ajuda deles. Explico: compramos as passagens de trem pra Veneza num horário muito cedo (6:25 da manhã), imaginando baseado em nada que a casa do menino fosse perto da estação. O problema é que, como disse antes, precisamos pegar um ônibus e um trem pra chegar em Milão, e simplesmente não havia ônibus antes daquele horário! Até cogitamos pegar um táxi, ou passar a última noite em um hostel em Milão, mas os preços eram absurdos, e nosso amigo não deixou S2 nossa família italiana.

Assim, nas primeiras horas do dia no domingo, apenas pegamos nossas tralhas malas, nos despedimos dos nossos amigos mais uma vez :'( e partimos rumo à Veneza. Nossos dias em Como e Milão foram ótimos, e poder estar com amigos, viajando num lugar tão bonito, com clima e comida agradáveis, já tinha feito da nossa primeira etapa da viagem algo pra nunca mais esquecer. E olha que tava só começando...

Nenhum comentário:

Postar um comentário