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sábado, 2 de maio de 2015

Comprando euros (e a situação geral do país)


Plantando euros, porque não está fácil pra ninguém...


Aviso: Esse post também fala sobre política. Se você: (1) acha o assunto chato e não quer nem ouvir falar sobre, (2) toma qualquer discussão a respeito com uma postura de torcedor fanático polarizada do tipo "nós versus eles", ou ainda (3) é simpatizante das ideias "autoritárias" de senhores como Jair Bolsonaro, eu recomendo FORTEMENTE que não leia esse post, desligue o computador e se mate leia um livro.


Assim que a ideia de intercambio pra Irlanda já estava mais ou menos certa na minha cabeça (em meados de Outubro de 2014, ou seja, antes mesmo do resultado das últimas eleições presidenciais), uma das primeiras coisas que me preocupei em avaliar era a cotação do euro no momento. Me recordo que meus cálculos sempre se basearam num valor final (ou seja, "euro turismo") por volta de R$ 3,20.

O que eu não esperava era acontecer a avalanche de coisas que ocorreram nos meses seguintes, que me fizeram assustar bastante sobre a situação do país, bem como no impacto direto disso no custo do meu intercâmbio (visto que muito do que precisei pagar aconteceu ainda nesse momento de "turbulência"). O que se iniciou como uma reviravolta na possibilidade de que a então presidentA antes estudanta, e quando foi mãe, lactanta perdesse as eleições no primeiro turno para Marina Silva, passando pela vitória de Dilma num segundo turno apertadíssimo com Aécio Neves, e sendo seguido por escândalos de corrupção revelados na época (o mais divulgado sendo o "petrolão") e ações pouco populares do governo pra conter a crise energética e estancar um buraco econômico (conhecido como "pacote de maldades", rs), trouxe uma animosidade geral pra população e para os "senhores investidores" que fazem a economia mundial girar, impactando em como as moedas internacionais são negociadas no país.

Resumindo um pouco a história, resolvi dividir uma parte em espécie, e o solicitado pela imigração em 2 cartões pré-pagos. Preferi não levar só um, pois dizem que há um limite de saque diário, e assim conseguirei ter o dinheiro pra depositar no banco irlandês mais rápido. O valor em espécie consegui por meio de um contato, e os cartões comprei pelos sites da Confidence e da Graco, um Mastercard e um Visa, e não tive maiores problemas. Até a data desse post ainda não adquiri todo o valor que pretendo levar, mas dos euros que comprei durante todo o mês de abril peguei cotações entre R$ 3,40 e R$ 3,50, ou seja, beeeeem acima do planejado. A única vantagem pra mim foi a baixa que ocorreu no final de janeiro (por uma ação consciente do Banco Central Europeu, ou seja, nada a ver com o Brasil, que fique claro), quando corri pra comprar o curso, como já citei aqui.

Estive e estou de fato preocupado em como as coisas estão e vão ficar no Brasil, e não quero soar como individualista e pessoa-que-só-olha-pro-próprio-umbigo, mas a ideia desse post no blog (de intercâmbio), até pra não ficar completamente off-topic, é justamente de entrelaçar como uma coisa impactou na outra. Com isso, me permitam um parêntese a respeito da situação toda no país.

O que mais me assustou durante todo esse período, foi o quanto (e como) as pessoas discutiram política. Já é dito popular que esse assunto não deve ser discutido, mas acho isso bobeira. O que aprendi nos últimos tempos, entretanto, é que deve-se escolher com quem ter esse tipo de conversa, ainda assim correndo o risco de errar (true story!). E nem entro na questão de discutir apenas com quem tem ideias parecidas com as suas, porque aí também é muito fácil.

Sempre acompanhei política como quem vê as noticias do dia, sem lá muita profundidade, mas sem ignorar completamente a situação corrente. A minha mudança, no entanto, veio durante os protestos ocorridos em 2013, onde (na minha opinião) uma onda de descontentamento geral tomou o país, tendo sido iniciada com os protestos pelo aumento das passagens na cidade de São Paulo e que, até por conta do momento e da visibilidade do país (estava pra começar a Copa das Confederações, evento que antecede em 1 ano a Copa do Mundo), a coisa eclodiu para o país todo. A partir desse momento, vi de fato as pessoas enxergando o tamanho do seu poder ("o gigante acordou!"), e era perceptível a sensação de "WTF?" dos políticos de todas as esferas Brasil afora. A cultura pacifista (ou seria "colonizada"?) do brasileiro nunca tinha sido colocada em xeque como estava ocorrendo, e a sensação de Basta! nas ruas (sim, eu vi pela TV, pelas redes sociais E pessoalmente) era motivadora. Nesse momento, o que eu mais queria saber era quais as possibilidades de ação a serem feitas, já que a sensação era que a hora era aquela, mas era preciso que algo acontecesse além do protesto (principalmente o digital, como essa entrevista da BBC ajuda a esclarecer). E nesse instante foi aí que percebi que eu entendia pouco de política, direitos e deveres na Constituição e coisas do tipo.

"Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente", diz a Constituição. Mas você sabe o que ela quer dizer com "exercer diretamente"? Sabe qual é a capacidade de atuação de cada um dos três poderes que compõem o nosso modelo democrático? Indo além, e trazendo para questões mais recentes, sabe em quais momentos pode se dar um impeachment, bem como quem assume o cargo numa situação dessas? Pois é, eu não sabia direito naquele momento. O que fiz, e tenho feito desde então, é tentar me informar. Estudar mesmo, desde sistemas, correntes e ideologias políticas, notícias vindas de diversas mídias e fontes, e tentar filtrar isso com o máximo de senso crítico que possuo. Não digo que alguém deva me copiar, até porque realmente acredito que meu interesse pelo assunto seja um pouco maior do que o das pessoas em geral, mas cara, o que não dá pra aceitar é ignorância. Acho que quase todo mundo tem alguns (pré?) conceitos sobre o assunto, principalmente em como aquilo vai afetar a sua vida e o seu bolso, mas acredito que é preciso mais, muito mais.

O que vi desde o momento em que se começou a falar sobre as eleições, se agravando quando elas foram encerradas, e juntando isso ao "escândalo do petrolão" e do "pacote de maldades", foi uma enxurrada de discussões e posicionamentos, no mínimo, carregados de ignorância. De uma hora pra outra formou-se uma polarização que não sei dizer até hoje se seria entre pobres e ricos, azul e vermelho, direita e esquerda, perdedores e ganhadores (e não seríamos todos hoje perdedores?). E qualquer pessoa que expresse sua opinião que de alguma maneira possa parecer pertencente "a um lado", automaticamente corre o risco de ser escorraçada "pelo outro lado". Junto disso, a perceptível necessidade atual das pessoas de se mostrarem tendo uma opinião formada sobre tudo, especialmente nas redes sociais, me levou de fato a não crer muito no futuro da humanidade. Há de se dizer, entretanto, que creio ter sido vital a possibilidade de uso de redes sociais em momentos como esse, assim como houve nos movimentos da Primavera Árabe e Ocupe Wall Street mais ou menos na mesma época. Poder acompanhar a utilização da tecnologia como apoio em ações como essas me deixa muito animado! Mas ver o quanto a desinformação misturada à pura vontade de "falar" pôde produzir incontáveis relatos de estrumes digitais me assustou como poucas coisas nesse mundo. Ah, e pelo menos comigo, nas discussões e relatos que presenciei pessoalmente ou acompanhei, incluindo aí os protestos de 2015 e os "panelaços", foram igualmente dignos de pena e vergonha alheia. Que se fique provado crime, que haja mais é cadeia mesmo! Mas enquanto isso não ocorrer (se é que de fato algum dia vai), saiba pelo que protestar, cara pálida. Impeachment e renúncia são coisas alcançadas por meios diferentes, onde sua revolta pode fazer muita ou (quase) nenhuma diferença.

Pra fechar, obviamente possuo meu posicionamento político, acredito que o governo atual (assim como qualquer outro no passado) tenha seus erros e acertos, e possuo meus argumentos sobre o que acho que é o melhor para o país e consequentemente pra mim. Mas se pudesse dar um conselho a todos além de dizer: use filtro solar seria: educação é a saída! Por mais clichê que isso possa parecer, a única forma de mudarmos o país é através do conhecimento! Se informe sempre, mas também crie uma maneira de processar o que ouve, lê, assiste. Enquanto a ignorância imperar, política for um assunto "chato demais", e ações cotidianas forem apenas visando a si próprio, iremos continuar no mesmo barco. Afinal, "O castigo dos bons que não fazem política, é ser governados pelos maus", segundo um tal de Platão :) .


PS: Como disse anteriormente, a ideia pra mim atualmente é discutir política com quem acho que devo. Assim, preferi deixar os comentários desse post desativados (nem sei se teria algum mesmo), por motivos de: (1) blog, ao contrário do Brasil, NÃO É uma democracia, e (2), não sou obrigado. Voltamos à nossa programação normal.

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