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Plantando euros, porque não está fácil pra ninguém... |
Aviso: Esse post também fala sobre política. Se você: (1) acha o assunto chato e não quer nem ouvir falar sobre, (2) toma qualquer discussão a respeito com uma postura de torcedor fanático
polarizada do tipo "nós versus eles", ou ainda (3) é simpatizante das
ideias "autoritárias" de senhores como Jair Bolsonaro, eu recomendo
FORTEMENTE que não leia esse post, desligue o computador e se mate leia um livro.
Assim
que a ideia de intercambio pra Irlanda já estava mais ou menos certa na
minha cabeça (em meados de Outubro de 2014, ou seja, antes mesmo do
resultado das últimas eleições presidenciais), uma das primeiras coisas
que me preocupei em avaliar era a cotação do euro no momento. Me recordo
que meus cálculos sempre se basearam num valor final (ou seja, "euro
turismo") por volta de R$ 3,20.
O
que eu não esperava era acontecer a avalanche de coisas que ocorreram
nos meses seguintes, que me fizeram assustar bastante sobre a situação
do país, bem como no impacto direto disso no custo do meu intercâmbio
(visto que muito do que precisei pagar aconteceu ainda nesse momento de
"turbulência"). O que se iniciou como uma reviravolta na possibilidade
de que a então presidentA antes estudanta, e quando foi mãe, lactanta
perdesse as eleições no primeiro turno para Marina Silva, passando pela
vitória de Dilma num segundo turno apertadíssimo com Aécio Neves, e
sendo seguido por escândalos de corrupção revelados na época (o mais
divulgado sendo o "petrolão") e ações pouco populares do governo pra conter a crise energética e
estancar um buraco econômico (conhecido como "pacote de maldades", rs),
trouxe uma animosidade geral pra população e para os "senhores
investidores" que fazem a economia mundial girar, impactando em como as
moedas internacionais são negociadas no país.
Resumindo
um pouco a história, resolvi dividir uma parte em espécie, e o solicitado pela imigração em 2 cartões
pré-pagos. Preferi não levar só um, pois dizem que há um limite de
saque diário, e assim conseguirei ter o dinheiro pra depositar no banco irlandês
mais rápido. O valor em espécie consegui por meio de um contato, e os
cartões comprei pelos sites da
Confidence e da
Graco, um Mastercard e um Visa, e não tive maiores problemas. Até a data desse post ainda não adquiri todo o
valor que pretendo levar, mas dos euros que comprei durante todo o mês
de abril peguei cotações entre R$ 3,40 e R$ 3,50, ou seja, beeeeem acima
do planejado. A única vantagem pra mim foi a baixa que ocorreu no final
de janeiro (por uma ação consciente do Banco Central Europeu, ou seja,
nada a ver com o Brasil, que fique claro), quando corri pra comprar o
curso, como já citei
aqui.
Estive
e estou de fato preocupado em como as coisas estão e vão ficar no
Brasil, e não quero soar como individualista e
pessoa-que-só-olha-pro-próprio-umbigo, mas a ideia desse post no blog
(de intercâmbio), até pra não ficar completamente off-topic, é
justamente de entrelaçar como uma coisa impactou na outra. Com isso, me
permitam um parêntese a respeito da situação toda no país.
O
que mais me assustou durante todo esse período, foi o quanto (e como)
as pessoas discutiram política. Já é dito popular que esse assunto não
deve ser discutido, mas acho isso bobeira. O que aprendi nos últimos
tempos, entretanto, é que deve-se escolher com quem ter esse tipo de
conversa, ainda assim correndo o risco de errar (true story!). E nem
entro na questão de discutir apenas com quem tem ideias parecidas com as
suas, porque aí também é muito fácil.
Sempre
acompanhei política como quem vê as noticias do dia, sem lá muita
profundidade, mas sem ignorar completamente a situação corrente. A minha
mudança, no entanto, veio durante os protestos ocorridos em 2013, onde
(na minha opinião) uma onda de descontentamento geral tomou o país,
tendo sido iniciada com os protestos pelo aumento das passagens na
cidade de São Paulo e que, até por conta do momento e da visibilidade do
país (estava pra começar a Copa das Confederações, evento que antecede
em 1 ano a Copa do Mundo), a coisa eclodiu para o país todo. A partir
desse momento, vi de fato as pessoas enxergando o tamanho do seu poder
("o gigante acordou!"), e era perceptível a sensação de "WTF?" dos
políticos de todas as esferas Brasil afora. A cultura pacifista (ou
seria "colonizada"?) do brasileiro nunca tinha sido colocada em xeque
como estava ocorrendo, e a sensação de
Basta! nas ruas (sim, eu
vi pela TV, pelas redes sociais E pessoalmente) era motivadora. Nesse
momento, o que eu mais queria saber era quais as possibilidades de ação a
serem feitas, já que a sensação era que
a hora era aquela, mas era preciso que algo acontecesse além do protesto (principalmente o digital, como
essa entrevista da BBC
ajuda a esclarecer). E nesse instante foi aí que percebi que eu
entendia pouco de política, direitos e deveres na Constituição e coisas
do tipo.
"Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente",
diz a Constituição. Mas você sabe o que ela quer dizer com "exercer
diretamente"? Sabe qual é a capacidade de atuação de cada um dos três
poderes que compõem o nosso modelo democrático? Indo além, e trazendo
para questões mais recentes, sabe em quais momentos pode se dar um
impeachment, bem como quem assume o cargo numa situação dessas? Pois é,
eu não sabia direito naquele momento. O que fiz, e tenho feito desde
então, é tentar me informar. Estudar mesmo, desde sistemas, correntes e
ideologias políticas, notícias vindas de diversas mídias e fontes, e
tentar filtrar isso com o máximo de senso crítico que possuo. Não digo
que alguém deva me copiar, até porque realmente acredito que meu
interesse pelo assunto seja um pouco maior do que o das pessoas em
geral, mas cara, o que não dá pra aceitar é ignorância. Acho que quase
todo mundo tem alguns (pré?) conceitos sobre o assunto, principalmente
em como aquilo vai afetar a sua vida e o seu bolso, mas acredito que é preciso mais, muito mais.
O
que vi desde o momento em que se começou a falar sobre as eleições, se
agravando quando elas foram encerradas, e juntando isso ao "escândalo do
petrolão" e do "pacote de maldades", foi uma enxurrada de discussões e
posicionamentos, no mínimo, carregados de ignorância. De uma hora pra
outra formou-se uma polarização que não sei dizer até hoje se seria
entre pobres e ricos, azul e vermelho, direita e esquerda, perdedores e
ganhadores (e não seríamos todos hoje perdedores?). E qualquer pessoa
que expresse sua opinião que de alguma maneira possa parecer pertencente
"a um lado", automaticamente corre o risco de ser escorraçada "pelo
outro lado". Junto disso, a perceptível necessidade atual das pessoas de
se mostrarem tendo uma opinião formada sobre tudo, especialmente nas
redes sociais, me levou de fato a não crer muito no futuro da
humanidade. Há de se dizer, entretanto, que creio ter sido vital a
possibilidade de uso de redes sociais em momentos como esse, assim como
houve nos movimentos da Primavera Árabe e Ocupe Wall Street mais ou
menos na mesma época. Poder acompanhar a utilização da tecnologia como
apoio em ações como essas me deixa muito animado! Mas ver o quanto a
desinformação misturada à pura vontade de "falar" pôde produzir
incontáveis relatos de estrumes digitais me assustou como poucas coisas
nesse mundo. Ah, e pelo menos comigo, nas discussões e relatos que
presenciei pessoalmente ou acompanhei, incluindo aí os protestos de 2015
e os "panelaços", foram igualmente dignos de pena e vergonha alheia.
Que se fique provado crime, que haja mais é cadeia mesmo! Mas enquanto
isso não ocorrer (se é que de fato algum dia vai), saiba pelo que
protestar, cara pálida. Impeachment e renúncia são
coisas alcançadas por meios diferentes, onde sua revolta pode fazer muita ou (quase) nenhuma diferença.
Pra
fechar, obviamente possuo meu posicionamento político, acredito que o
governo atual (assim como qualquer outro no passado) tenha seus erros e
acertos, e possuo meus argumentos sobre o que acho que é o melhor para o
país e consequentemente pra mim. Mas se pudesse dar um conselho a todos
além de dizer: use filtro solar seria: educação é a
saída! Por mais clichê que isso possa parecer, a única forma de mudarmos
o país é através do conhecimento! Se informe sempre, mas também crie
uma maneira de processar o que ouve, lê, assiste. Enquanto a ignorância
imperar, política for um assunto "chato demais", e ações cotidianas
forem apenas visando a si próprio, iremos continuar no mesmo barco.
Afinal, "O castigo dos bons que não fazem política, é ser governados pelos maus", segundo um tal de Platão :) .
PS: Como disse anteriormente, a ideia pra mim atualmente é discutir política com quem acho que devo. Assim, preferi deixar os comentários desse post desativados (nem sei se teria algum mesmo), por motivos de: (1) blog, ao contrário do Brasil, NÃO É uma democracia, e (2), não sou obrigado. Voltamos à nossa programação normal.