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domingo, 15 de maio de 2016

1 ano de Irlanda! Reflexões sobre passado, presente e futuro

Este post tem um dia de atraso pela contagem original, mas pra ser sincero, who cares?


Um ano. Há um ano atrás eu dizia adeus à minha antiga vida. Uma vida que já não me agradava mais, e que por inúmeros fatores só parecia me empurrar para o que parecia inevitável: eu precisava abrir as portas e descobrir como era a vida - literalmente - lá fora.

Tendo como plano aprimorar o conhecimento no idioma inglês - assim como na minha almejada área de atuação à qual eu queria dar um novo passo, acho que posso parafrasear Júlio César nessa minha jornada de realização pessoal: Veni, vidi, vici (vi, vim e venci). 

Venci porque tive a oportunidade conhecer e conversar com pessoas de diversos cantos da Europa e do mundo, e aprender muito com elas, suas particularidades e referências culturais que muitas vezes gritavam mostrando diferenças, mas o se provava que no final de contas somos todos seres humanos. Venci porque pude ter a companhia de amigos com os quais tive uma afinidade instantânea, e lembrarei pra sempre todas as intermináveis conversas sobre os mais filosóficos momentos (outros nem tanto), viagens e risadas. Venci porque mesmo sendo a pessoa mais "friorenta" que se teve notícia, suportei e aprendi a conviver com o frio, vento e chuva na Irlanda e sinceramente, depois do perrengue em Galway com isso, nada em Dublin me abala! Venci por conhecer e aprender muito sobre um país que eu pouco conhecia, e mesmo ainda sem me sentir uma real parte dele, tenho muita admiração, e sei que uma parte da minha vida e da minha história ficará pra sempre ligada a ele.

Venci, penso eu, porque dei minha cara à tapa em tudo que tentei: fosse diretamente com a língua, a tentativa da bolsa em uma universidade irlandesa e os diversos currículos enviados. Vieram incontáveis "nãos". Mas no final das contas, analisando das minúsculas às maiores coisas, também vieram incontáveis "sims". E é difícil não pensar em ter conseguido um emprego aqui como um dos maiores deles. Agora já oficializado, sou um trabalhador na República da Irlanda, e cara, isso é muito legal! Eu, vendo de onde saí, e onde cheguei! E confesso que isso só me dá mais vontade de ir ainda mais longe!

Venci porque consegui enxergar mais claramente como o mundo gira pelas bandas de cá. Entender pontos políticos e econômicos que muitas vezes pareciam distantes ficou mais fácil e coeso. No entanto quero aprender ainda mais sobre toda a história desse continente tão peculiar (e de início um livro de 1400 páginas me aguarda, rs). Mas mais do que isso: ironicamente, acredito que, mesmo de longe e com fontes de certa forma limitadas, consigo entender (e admirar) muito mais o meu país e sua história. Poder analisar de fora de fato ajuda a entender ainda mais o todo, na minha opinião.

Venci porque soube me adaptar. Nova comida, novo modo de se vestir, novo clima, nova língua, novas pessoas, novos lares, nova vida. Venci porque nos últimos tempos precisei - mais do que nunca - aprender a ser minha melhor companhia. Fazer várias coisas que jamais imaginei ou quis fazer sozinho hoje na realidade faz parte da minha vida e rotina. E juro, adoro sempre estar com amigos e pessoas interessantes, mas desfrutar da minha companhia não trás e nunca me trouxe o menor problema, muito pelo contrário!

Venci, afinal, porque consigo sentir quase fisicamente o quanto toda essa experiência mudou meu modo de agir e pensar. Sei que nunca mais vou ser o mesmo depois de tudo que vivi durante esse período, e preciso ser sincero: isso me soa maravilhosamente bem.*


*E o melhor é que isso tá só começando!!!
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Pensei bastante nos últimos tempos, e acabei decidindo que irei usar desse post pra iconicamente simbolizar o último desse blog. A concepção (e realidade) desse pequeno rapaz foi, na maior parte do tempo, a de um diário de intercâmbio. A realidade, sejamos sinceros, é que não tem mais intercâmbio, e não tem mais Galway. Pensei em mantê-lo apenas como relato das minhas viagens, mas já fiz duas - Escócia e França - as quais sequer consegui começar a escrever aqui. Tenho trabalhado muito você quis dizer: hora-extra todo dia, e como sempre gasto muito tempo pra criar um post, entre escrever/revisar/escolher imagem bonitinha pra ilustrar, fazer isso no pouco tempo livre que tem me restado muitas vezes acabava me dando mais a sensação de obrigação do que de prazer, o que definitivamente não quero que o blog se torne. 

Pode ser que eu mude de idéia amanhã, pode ser que eu crie um outro blog amanhã, ou pode ser que não. O blog não será desativado, e pretendo continuar ajudando todo mundo que tiver dúvidas sobre intercâmbio/Galway/Irlanda com o que eu puder (inclusive em breve chega um projeto muito legal ligado a isso, e fatalmente volto aqui pra fazer uma atualização sobre o assunto). Se alguém quiser me encontrar "pela Internet afora" (a.k.a "redes sociais") eu sei que tem sempre um jeito, afinal muita gente já me achou sem eu nunca ter divulgado nada aqui, rs até na minha conta do Youtube (?!) já apareceu gente. E não, eu não sou youtuber, haha! 

O blog hoje possui alguns milhares de acessos, o que me deixa surpreso e contente, dada a divulgação mínima que fiz sobre ele, mas realmente espero que ele tenha servido/sirva como base de informação ou até entretenimento por entre esses ENORMES 65 posts escritos aqui. Me despeço com alegria de todo mundo que já passou algum tempinho aqui, com um carinho ainda maior aos que "deram as caras" nos comentários. Vocês não sabem o quanto isso é válido e incentivador (por mais clichê que pareça).

No mais um abraço, e até uma próxima!


Lucas

terça-feira, 26 de abril de 2016

A jornada da volta (temporária) pra casa - Parte 4: Brasil



O trem partiu de Amsterdã - e chegou em Bruxelas - no horário, e só precisei me atentar ao fato de que eu não estava no assento correto (preste atenção caso sua passagem seja de assento marcado pois do contrário você será convidado a encontrar o correto!). Dei um pequeno vacilo ao comprar a volta para o centro de Bruxelas ao invés de direto pro aeroporto, então desci numa estação mais próxima ao mesmo e ainda que precisasse correr um pouquinho (pois acompanhei o outro trem chegando pelo tal app) comprei outro passe direto pra lá. 

A partir daqui foi tudo sem ter muito o que contar, tirando o fato de que em 24 horas estive entre Amsterdã, Bruxelas, Madri e São Paulo. Meu voo foi pela Ibéria, e foi engraçado ir com o assento vazio ao meu lado, pensando que era um acaso no mínimo intrigante, já que deve ter ocorrido o mesmo quando perdi a tal passagem de volta pro Brasil pela mesma companhia. As conexões foram tranquilas, e meu voo pra São Paulo saiu de Madri quase meia noite, o que me permitiu dormir um pouco, como sempre.

Os únicos pontos a se destacar foram: 1) o cara super estranho que foi do meu lado - que chegou já tirando os sapatos e colocando os pés pra cima. Além de não ser exatamente super cheiroso, o ~jovem~ cismava em me "pular" caso precisasse ir ao banheiro ou algo do tipo, talvez pensando que dessa maneira me incomodaria menos... E: 2) não lembro se contei antes, mas tenho uma pequena restrição à lactose, e desde então sempre peço comida com esse tipo de restrição no voo (o pedido tem que ser feito com antecedência no site da companhia). O problema é que a comida é sempre MUITO sem graça, e percebo que o servido como padrão raramente tem leite e/ou iogurte, meus principais vilões. Depois de comer legumes cozidos com um frango branco como a neve de jantar E café da manhã, eu resolvi não fazer esse pedido mais (e fui bem sucedido na volta pra Irlanda!).

Momento flashback: A primeira lembrança que tenho ao botar os pés na Irlanda foi de sair do aeroporto e levar uma baforada fria na cara - já me preparando pra como seria a vida nesse país - sendo essa uma situação corriqueira em toda viagem que faço pela Europa. A minha surpresa foi chegar em São Paulo e receber uma baforada quente! Ri muito daquilo, e tive a certeza de que estava de volta ao meu país. Parecia muito engraçado ouvir todo mundo falando português (e conversando MUITO alto!) mais uma vez. Como já esperado, precisei cruzar os terminais do aeroporto de Guarulhos andando novamente por uns 20 minutos sem parar, ainda com bastante sono e num calor danado por conta das roupas que vestia, vindo do final do inverno europeu. O que eu não esperava era, por conta da minha enorme e estufada nada discreta mochila, ter sido "selecionado" pela alfandêga, e esperado por uns 20 minutos até que o responsável pelo scan aparecesse e me liberasse. O gentleman foi hiper arrogante ah Brasil e suas pessoas que se acham superiores por conta de seus cargos... e só não questionou muito porque eu disse que morava na Irlanda, e por parecer que o cara na minha frente estava numa situação mais complicada do que a minha na tal fila.

O terceiro voo da sequência que me levaria a BH foi tranquilo e rápido, e a baforada quente ao descer foi ainda mais intensa. Estava de novo na minha terra! Enquanto o avião ainda estacionava eu olhava aquele imenso céu azul em um dia lindo, e ria por dentro por achar aquilo tão estranho e diferente, algo que fez parte da minha vida por tanto tempo e que agora parecia tão distante. Aliás, boa parte da minha sensação no país era de um distanciamento estranho, acho que principalmente por ter as sensações estranhas de "voltei" e de "só por um tempo" misturadas.

Minha família acabou errando um pouco no horário da minha chegada, e precisei esperar um pouco com uma enorme sensação de cansaço. Mas em pouco tempo lá estavam eles, e lá estava eu novamente entre eles. Nesse ponto tudo é muito engraçado, pois todo mundo parece ter continuado a vida da mesma maneira, enquanto eu havia vivido uma vida inteira nesse quase um ano! Me pagar contando tudo o que tive de experiência desse meio tempo soava até pra mim meio surreal às vezes, talvez por isso tudo parecer ser parte de uma realidade tão distante pra eles (e provavelmente pro meu "eu anterior"). Isso também me fez perceber o quão longe eu de fato cheguei na minha vida até então, pois dentro da minha realidade na Irlanda tudo pareceu mais "um passo depois do outro", mas ao analisar de fora literalmente confesso que me deu uma sensação mesmo que pequena de "Acho que eu venci!". Por mais surreal que aqueles mais de 10 meses de vivência maluca e única tivessem me proporcionado me mostrava que eu tinha crescido, evoluído como pessoa e que era aquilo, era o que eu tinha vivido, e agora eu estava lá de volta!

Já no mesmo dia da volta fui à casa da minha avó, e meu Deus, como é AINDA melhor comida de vó depois de quase um ano longe! Aliás, foi muito interessante poder ter a experiência de fazer um monte de coisa, antes tão corriqueira, pela primeira vez depois de todo esse tempo. De usar a minha língua - que cheguei a titubear em alguns momentos, veja só! - a usar roupas curtas (e como parecia estranho ver homens sem camisa ou meninas com micro roupas!), assistir TV e comer arroz com feijão, tudo era meio que uma "velha novidade".

Meus dias em casa se resumiram a basicamente ficar à toa durante o dia assistindo Fátima Bernardes e coisas do tipo e saindo à noite. Aliás, saí todas as noites, e foi uma sensação muito legal poder rever diferentes amigos e familiares por todos os dias em que estive lá. Pude comer tudo o que eu quis, esvaziar minha mochila distribuir todos os presentes que havia trazido, e botar todas as fofocas em dia ainda que isso muitas vezes se resumisse a contar a mesma história 30 vezes! Algo bem legal também foi poder como poucas vezes antes, gastar simplesmente sem se preocupar com o valor, pois sabia que no final das contas ainda seria barato, por conta da diferença do valor do euro. Justiça fosse feita depois de ter vendido até as cuecas tudo pra poder ir pra Irlanda, né?!

Como cereja do bolo, tive uma experiência fantástica nesse período ao poder, junto com minha família, voltar à cidade que morei por mais de 20 anos. Explicando: Na verdade eu nasci em BH, mas morei quase a vida toda em uma cidade na "região metropolitana" chamada Santa Luzia, numa região mais pobre simples e perigosa com um pouco mais ocorrências policiais que a capital. Ver de onde eu saí e enxergar onde estou me fez refletir demais sobre passado e futuro.

Foi interessante ver o quanto muita coisa tinha permanecido igual, mas também ver que coisas também mudaram. Usei Uber quase todos os dias que saí de casa (e aliás no dia em que usei táxi foi mais caro e o motorista foi bastante inconveniente). As mudanças que mais me preocupavam no entanto eram as sobre o país em geral. A começar pelo surto de Dengue/Zika/Chicungunha especialmente em BH estava um pouco assustador. Tive casos bem recentes na família, e fiquei à base de repelente por todos os dias lá. Me assustei também com uma compra de "guloseimas" que fiz num supermercado. Não sei se julgando apenas pela questão numérica da coisa, mas fiquei impressionado ao ver mais de 100 reais se evaporarem numa compra extremamente simples, ao lembrar que minhas compras semanais aqui, já nem lá tão controladas assim, raramente dão mais que 50 euros. E isso pra não falar da questão política.

No post que escrevi já há quase um ano atrás, falei sobre a minha politização. Acompanho bastante sobre o cenário político do país mesmo estando de longe aliás, acho que mais do que muita gente que está lá de fato. Logo, já imaginava que não teria muitas surpresas, tendo noção de como estava a realidade do país. O que eu não imaginava é que a situação de empregabilidade/inflação (vide paragrafo anterior) parecia mesmo pior que o esperado. Pra piorar, no dia da minha chegada houve toda aquela história do Lula assumir como ministro, áudios da Lava Jato sendo vazados e etc. Fiquei ainda mais assustado com tudo que acontecia, com como o país parecia de fato polarizado, de como a imprensa manipula claramente o que e como contar cada notícia, e ainda saber o quanto aquilo de fato funcionava na cabeça do brasileiro médio. Ao mesmo tempo era visível claramente que a situação geral do país não era boa (bem pior do que quando saí), e que as pessoas esperavam de alguma maneira que os dias de glória nem tão distantes assim voltassem, ainda que ninguém soubesse exatamente como.

Acima de tudo, eu sabia que inevitavelmente essa viagem serviria pra que eu analisasse meu futuro. Me dar matéria-prima pra que eu pudesse processar qual seria de fato meu próximo passo. Brasil? Irlanda? Nenhuma das alternativas anteriores? A verdade é que essa sensação de distanciamento que citei no início me acompanhou do primeiro ao último dia, e com ela veio algo como "eu não pertenço a isso mais". Eu pelo menos não consigo me imaginar morando na minha cidade mais, mas minha sensação ao passar esses dias era de que aquela realidade era diferente de mais do que eu era, ou havia me tornado, e me imaginei fatalmente com uma crise de depressão brava se tivesse que voltar em definitivo. Fosse pela completa falta de identificação com a quantidade de energia gasta pelas pessoas em geral com futebol, ou interessadas na vida alheia, ou com a certeza de poder viver bem com pouco na Irlanda, numa vida mais tranquila e sem muitas preocupações e apertos. Em contrapartida, depois de completar praticamente um mês da minha volta quando escrevo esse post, ainda não me imagino vivendo na Irlanda por muito tempo, mas talvez por algum tempo. Minha falta de identificação aqui ainda é grande - embora de uma maneira completamente diferente da mesma sensação com o Brasil -, mas a ideia é ir ficando por um tempinho, enquanto decido de fato qual será o próximo passo.

Por fim, os dias passaram como um foguete, e logo era hora de dar tchau novamente. Com os planos alterados por conta do triste incidente na Bélgica (no aeroporto que eu estava na semana anterior, e para onde eu iria caso a tragédia causada pelo Estado Islâmico não tivesse acontecido), eu acabei mudando a minha rota e desci em Londres, saindo de lá mesmo - mas outro aeroporto - em direção à Dublin. Não dormi nada no voo por já ter acostumado com o fuso brasileiro, e achei o avião da British Airways e o que eles oferecem numa média até um pouco pior do que a tão reclamada Ibéria. Mais uma vez minha casa e minha família ficavam e eu partia, mas a verdade é que a sensação que eu tinha naquele momento era de que aquela era a hora de ir pra casa, e dessa vez o conceito de casa pertencia ao meu lar irlandês.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A jornada da volta (temporária) pra casa - Parte 3: Amsterdã


Saí de Bruges de trem rumando a Amsterdã. Sabia que não teria muito tempo lá (por volta de 1 dia e meio), mas era o que tinha disponível antes da volta de fato pro Brasil. Depois desse período eu ainda precisaria voltar à Bruxelas, de onde o primeiro voo da sequência me levaria "de volta pra minha terra". Por hora, o roteiro pra Amsterdã consistia em sair de Bruges e depois de mais ou menos uma hora e meia chegar em Antwerpen, onde pegaria aguardaria meia hora para pegar um outro trem rumo a capital da Holanda.

Ao chegar em Antwerpen veio logo a surpresa: o meu trem atrasaria meia hora, e mais, o trem anterior com o mesmo destino chegaria quase que no mesmo momento, ou seja, estaria 2 horas atrasado! A estação estava cheia de gente esperando por esses trens, e aproveitei o tempo pra aumentar a minha soma de waffles comidos na Bélgica. A essas horas eu já estava usando o aplicativo do site onde comprei as passagens (e acredito ser a empresa responsável pelos trens), e que trazia as informações completas e atualizadas a respeito de onde o trem estava, além da plataforma correta e a identificação do mesmo não estou fazendo "merchan", o negócio é bom mesmo!. Ou seja, tudo que eu precisava ter quando saí de Bruxelas pra Bruges e mal sabia onde estava. Minha preocupação naquele momento era porque eu voltaria pra Bruxelas no mesmo itinerário desse trem, e comecei a me preocupar se era mesmo tão comum ele se atrasar, uma vez que o planejado já era chegar em no aeroporto bem em cima das 2 horas antecipadas recomendadas.

O trem veio, e após pouco mais de uma hora eu já desembarcava em outro país. Estava com um pouco de receio de chegar tão tarde na cidade e no hostel Brazilian feelings - já era mais de 23hs -  mas o que vi ao sair da estação foi uma Amsterdã linda e ainda bem movimentada. Aliás, a vista ao sair da estação (e do próprio edifício da estação) foi uma das mais bonitas que já pude ver! Precisei andar uns 15 minutos até chegar ao hostel, mas tive uma primeira impressão muito boa da cidade, sem todos os perrengues que tive de cara em Bruxelas. Em Amsterdã me hospedei no Shelter City, um hostel cristão no meio do Red Light District. Por mais contraditório que isso possa parecer, minha experiência lá foi bem tranquila, e com um ótimo custo-benefício, levando-se em conta o pago e o oferecido. Por conta do horário, só cheguei, fiz o check-in e daí foi banho e cama mesmo.

O dia seguinte começou cedo, e após um bom café da manhã no hostel, fui andando para o famoso museu da Anne Frank. Não vou entrar em muitos detalhes aqui - até porque o livro baseado no diário da garota é bastante famoso e você já deve ter ouvido falar nela - mas o fato é que comecei a lê-lo pouco antes de viajar e estava encantado e intrigado com a oportunidade de poder visitar o local onde ela e sua família ficaram trancafiados por anos, se escondendo dos horrores da Segunda Guerra. Curti bastante a caminhada até o museu, cruzando vários dos lindos canais cidade afora, e fiquei aliviado ao ver que ter passado quase um mês verificando diariamente se o ingresso estava disponível pela internet tinha valido a pena, já que a fama é que existe fila pra entrar lá quase que 24 horas, e ela nunca é pequena.

Após algumas horas no museu (ainda assustado com a ideia de como duas famílias viveram por tanto tempo dentro daquele lugar mínimo, onde não se podia sequer abrir as cortinas!), resolvi dar mais uma caminhada, pois o horário do walking tour que eu iria participar era apenas no início da tarde. Resolvi caminhar até o Rijksmuseum (apesar de ter ficado com MUITA vontade de entrar ao passar por ele, não deu tempo de visitar) e tirar a foto do famoso "IAMSTERDAM". A caminhada foi longa, e o que eu já havia reparado ao ir pro museu da Anne Frank, somando-se ao que todo mundo fala da cidade, é de fato verdade: Amsterdã tem MUITA bicicleta! Posteriormente ouvi que realmente existem estimativas de que na cidade existam mais bicicletas do que pessoas, e não é difícil acreditar! Os ciclistas estão por toda parte, e na maior parte dos lugares de grande movimentação eles tem a faixa deles, mas é bom ficar sempre esperto ao atravessar as ruas, porque a qualquer momento você pode ouvir um "plim-plim" te lembrando que não dá pra checar se estão só vindo carros.

Precisei andar um bocado até onde o walking tour começaria, então só tirei a foto mesmo e fui direto pra região. Acabei almoçando no Burger King mesmo me julguem, mas eu não tinha muito tempo! e fui pra Dam Square, há uns 2 minutos dali. O pessoal já se aglomerava, e tinha uma quantidade considerável de gente 90% americanos principalmente por se tratar de uma segunda-feira à tarde. O guia era português, com um sotaque americano idêntico - por ter estudado em escola americana desde criança, segundo ele. O passeio foi legal e andamos bastante nas quase 2 horas e meia (com direiro a pausa em um "pub") e deu pra conhecer bastante sobre a cidade e a história de Amsterdã, famosa pela liberação do consumo da maconha e da prostituição, mas com fatos que demonstram a liberdade, vanguardismo e até compaixão que a cidade e o país em geral sempre tiveram, muitas vezes na contramão da Europa e do resto do mundo. O guia fez piada o tempo todo (mas o tempo todo MESMO) e ainda não cheguei a conclusão de que se isso foi legal ou não. No final ele se despediu de mim com um "Boasss viagenssss" com um sotaque beem carregado, mas como eu acho quase todo sotaque (do Brasil inclusive!) a coisa mais cute, acabei relevando qualquer outra coisa do guia-comediante.

Antes do próximo item do roteiro eu lembrei que tinha lido no blog da Bárbara que ela havia estado na cidade há pouco tempo e recomendou uma torta de maçã perfeita. Resolvi dar uma passada no local e senti uma vibe bem cool lá, não estava lotado e a torta é sem pestanejar muito a melhor torta de maçã que já comi. Depois me aventurei no já mal falado Museu do Sexo e sim, sou mais um a falar que é ruim. É ruim porque é raso, tem um apelo muito mais pornográfico do que histórico não estou sendo pudico, por favor! e tem todos os estereótipos de atração "pega turista". Ainda na linha pudico, confesso que fiquei meio incomodado de estar em um lugar onde pessoas de todas as idades +18 of course! se mostravam interessadas pelo assunto. Sei lá, acho que sou reservado e/ou ingênuo demais pra essas coisas. #NãoNasciDeChocadeira

À noite, vaguei pelo centro e dar uma conferida no famoso Red Light District (sou também careta demais pra ir em CofeeShop meu Deus, eu pareço um velho de 60 anos!). Completando toda a minha pureza, confesso que me senti extremamente incomodado ao ver as mulheres literalmente em vitrines com luz neon, algumas até fazendo gestos "convidativos" ao passar por elas. A sensação era de ver pessoas agindo como meros pedaços de carne, mas também sei que aquilo não existe só ali, e que lá é apenas mais visível. Depois do passeio, encontrei um restaurante italiano/argentino (?!) e devorei um prato com 3 tipos diferentes de carne, como bom filhote de leão carnívoro autêntico que sou.

O dia seguinte acabou sendo bem corrido, já que depois do café da manhã e do checkout (podendo ainda deixar a enorme mochila por lá até ir embora de vez S2), cruzei novamente a cidade a pé até chegar ao museu do Van Gogh. Com o ingresso também reservado de antemão, gastei quase 3 horas pelo museu, e apesar de relativamente cheio (mas não lotado, como já vi gente reclamar) achei super legal pois ele tem uma pegada meio galeria (ao exibir boa parte dos quadros pintados por Van Gogh) e meio museu (ao englobar as obras em diferentes momentos de sua vida, e explicar vários acontecimentos - como o caso da orelha cortada - em sequência e com objetos pessoais). Muito legal mesmo, e obviamente tudo lindo.

Quis ainda visitar o principal parque da cidade, o Vondelpark, mas a verdade é que de novo não daria tempo. Saí do museu já procurando um restaurante e após me perder algumas vezes na direção da estação, foi a conta de comer uma pizza (num restaurante italiano no melhor estilo Bom, Bonito e Barato), pegar a mochila e dar tchau pra essa cidade tão simpática e um pouquinho fria. Ah, e o trem não atrasou para nossa alegria!! Era engraçado saber que ao final daquele dia eu estaria voando de volta pro Brasil, e essa é a história do próximo e último ufa! post dessa série.

CONTINUA...

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A jornada da volta (temporária) pra casa - Parte 2: Bruges (Bélgica)


Continuando o papo daqui...

Acordei mais ou menos cedo no outro dia, já que a minha passagem de trem pra pequena e famosa Bruges já estava comprada pra esse dia. Havia escolhido o tal quarto no Airbnb também porque disseram oferecer café da manhã, e chegando lá disseram que eu poderia pegar o que quisesse na geladeira. Não tive a curiosidade de olhar no dia anterior, mas pela manhã verifiquei, e uma palavra define: tristeza. Tentei passar num supermercado perto do apartamento - fechado no domingo pela manhã - e no caminho não muito longo pra estação de trem acabei achando o que na minha opinião mais se assemelhou a uma padaria desde que pus os pés na Europa.

Na estação - já com medo de não encontrar informações como no primeiro dia - vi que também não seria fácil. O ticket (que depois entendi ser válido para o dia todo, ainda que eu tenha escolhido um horário ao comprar) não mostrava quando o trem partia, plataforma nem nada. E o painel principal da estação não exibia nenhuma informação que me desse um rumo. Fui num balcão de informações e consegui descobrir que um trem rumava de Bruxelas pra Bruges em poucos minutos. Ao chegar na plataforma, informações apenas em francês e holandês de novo, e por fim até uma dupla de americanas veio me pedir informações sobre como ir pro mesmo destino o papo de que inglês é língua universal nesse país não cola, não é possível!

Depois de mais ou menos uma hora de viagem, lá estava Bruges. Já havia lido vários relatos de como a cidadezinha é bonita e que vale a pena passar um dia, mas cheguei a conclusão, depois da correria toda do dia anterior, de que não tinha roteiro nenhum do que fazer na cidade. Saquei o celular e fui fuçando no Google mesmo, enquanto seguia o bando que saía da estação. E a ideia foi basicamente essa mesmo, andar mais ou menos onde o fluxo de pessoas se aglomeravam e ir desbravando a cidade, enquanto seguia mais ou menos esse roteiro planejado no Google Maps. Numa temperatura não muito agradável um frio do cão, na verdade fui andando e tirando algumas fotos, num cenário de fato muito bonito. Após chegar numa região mais central, já comecei a ver que a ideia de carregar aquela mochila durante o dia não ia acabar bem - e o sofrimento estava só começando.

Acabei torrando todo o crédito do meu celular no roaming (crédito esse que eu havia recarregado no aeroporto 2 dias antes, e que deveria durar UM MÊS!), mas recarreguei e continuei a aventura usando internet com parcimônia. Depois de passar por algumas lojas de souvenir, cheguei na entrada de uma igreja e, como não entendi o porquê do "fluxo" parar, olhar mas não entrar, fiz o mesmo, já que meu estoque de idas à igreja acabou há um bom tempo na Itália. Depois de descansar um pouco na praça de frente à igreja mentira, era pra aproveitar o sol que finalmente aparecia, e que parece te aquecer só se você estiver parado, segui cidade adentro, passando por um rio (ou seria um canal?) bem bonito até chegar numa parte mais "agitadinha".

Depois de andar um bocado por ruas de comércio e restaurantes, cheguei ao Belfort, uma torre enorme que fica ligada a uma outra construção em sua base. Não dei muita bola e continuei andando, e alguns passos depois vi que estava na praça principal da cidade. Ela é muito bonitinha, e tinha muito uma vibe de "domingo no parque". A essas horas o sol já havia aparecido de vez, e todo mundo parecia ter saído pra passear pela praça, que tinha barraquinhas de comida e outras coisinhas. O problema é que andando pouco menos de uma hora percebi que boa parte da cidade já havia ficado pra trás, e eu ainda tinha MUITO tempo.

Acabei resolvendo voltar ao Belfort, já que a fila não parecia tão grande ainda que precisasse pagar. Minhas costas já davam sinais de sofrimento, e a fila se mostrou, apesar de pequena, extremamente lenta, já que havia um controle de pessoas na torre, e a roleta de entrada só liberava quando alguém saía. Foi engraçado ver casais se separando com cara de desespero, tristeza e até brincando com a situação. Depois de já quase não sentir minhas costas, finalmente comecei a subida. Haviam paradas em alguns "andares", basicamente explicando como a torre foi construída, numa época em que Bruges era um centro de comércio muito importante na Bélgica. O problema é que as escadas eram EXTREMAMENTE, MAS EXTREMAMENTE estreitas, e eram usadas pra subir E descer! Por diversas vezes eu quase me "entalei" nas subidas (por conta do volume da mochila), isso pra não falar quando tinha alguém descendo ao mesmo tempo. Começou a me dar um desespero danado, e naquele tipo de situação "não sei se vou ou se desisto e volto".

Cheguei ao topo com um misto de alívio por ter chegado, e desespero ao saber que sofreria ao descer aquilo tudo tendo os mesmos problemas da subida. Dava pra ver muita coisa lá de cima, mas as aberturas pras "janelas" na verdade tinham telas, o que não contribuía muito para fotos. Mal tinha reparado no sino enorme que havia lá dentro, quando o mesmo começou a tocar no momento em que eu estava lá. Havia entendido na explicação dos andares anteriores que tudo nele funcionava sem intervenção humana, e ver aquele tanto de cabos, manivelas e roldanas fazendo a coisa toda funcionar sozinha foi impressionante! Preciso aprender a tirar fotos dessas coisas pra ilustrar os posts, eu sei!

Desci as escadas com todo o cuidado e paciência do mundo apesar de quase cair várias vezes e parecendo uma velha de 97 anos, e depois tudo que eu queria era achar um banco pra sentar e finalmente comer alguma coisa. Andei um bocado ainda até achar um lugar onde dava pra comer um sanduíche a là Subway, e as tais Belgium fries, já que não tava com saco pra restaurante.

Depois me direcionei pra melhor parte do dia: um museu do chocolate! Acho que foi a primeira vez que fui à um museu temático, e oh: me surpreendi muito com esse! Na entrada a gente já ganha uma barrinha de chocolate belga, e lá dentro são várias salas que explicam desde como o cacau foi "descoberto" por europeus sendo usado por indígenas na América, passando por mais etapas históricas, o cultivo da planta, e inúmeras informações sobre como são feitos vários tipos de chocolates! Já na parte final, acompanhamos um profissional que trabalha no museu (fazendo os chocolates que são vendidos na "lojinha" de lá) fazendo o processo de fabricação de chocolates. Com explicação em inglês, francês e alemão (se não me engano) foi mostrada toda a teoria vista antes na prática. No final, ainda degustamos o chocolate feito na demonstração. Na que eu assisti foi feito algo como um bombom com recheio de creme de avelã e meu Deus, foi simplesmente o melhor chocolate que eu já comi!!

Saí de lá já sem muita coisa pra fazer, então passei em um Carrefour é, lá também tem, hehe e comprei algo pra beber enquanto aproveitava o resto de sol na praça, e via o ainda grande movimento.

Voltei tranquilo depois que o sol quis se esconder pra estação de trem, ainda com muito tempo restante pra fazer várias retrospectivas da vida e esperar o trem que, após uma pequena parada em Antwerpen, me levaria pra Amsterdã.

CONTINUA...

PS: Não viajei com a "fotógrafa oficial" do blog dessa vez, então na galeria tem só algumas fotos que tirei no meu celular em Bruxelas e Bruges...

domingo, 3 de abril de 2016

A jornada da volta (temporária) pra casa - Parte 1: Dublin e Bruxelas


Provando para as inimigas os que acham que eu e/ou esse blog morreu, estamos (eu e o blog) aqui de volta, tirando a poeira e com mais história pra contar. A ideia para esse e os próximos posts é contar da minha jornada de ida, chegada e estadia no Brasil, o que aconteceu nas últimas semanas. Se prepare, e vem comigo!

Assim que minha chefe disse ser OK que eu comprasse as passagens para o Brasil, e que pudesse aproveitar o único período no calendário irlandês em que é possível emendar dois feriados (perto do Natal também dá, mas eu teria que esperar quase um ano!), decidi manter mais ou menos o período que faria usando as passagens que perdi e viajar em Março. Na verdade ainda que eu estivesse usando dois feriados - aqui não existe sexta-feira santa como feriado, mas há um feriado nacional na segunda subsequente -, viajando mesmo eu só usaria o de Saint Patrick's Day, já que no da segunda eu usaria pra dormir e me recuperar da viagem (algo que se mostrou MUITO bem pensado).

Dentro das minhas pesquisas, o mais barato acabou sendo comprar a passagem com destino ao Brasil saindo da Bélgica. Logo, como não planejava levar mala mesmo (sempre viajo só de mochila), a ideia foi ir de Ryanair até Bruxelas, e fazer o mesmo percurso pra voltar pra Dublin. Economizei quase metade do valor que pagaria saindo direto de Dublin, e assim já em Janeiro eu tinha as passagens Bruxelas-Madri-SP-BH e BH-SP-Londres-Bruxelas já garantidas. A questão é que o voo sairia numa terça-feira, e daí decidi aproveitar pra sair de Dublin e passar o fim de semana e os dias até a viagem conhecendo a Bélgica, e uma vez que não teria tanta coisa assim pra fazer lá por 4 dias, também dar um pulo em Amsterdã, indo de trem.

Com passagens pra Bélgica (e dentro da Bélgica) e pra Amsterdã compradas, ainda resolvi incluir mais um item no pacote. Em um dia de completa insônia, enquanto ouvia minha atual banda favorita no Spotify (ouça essa versão de Fast Car ou essa de Hello e tente não se apaixonar!), vi que eles (uma banda americana) estavam em turnê pela Europa, e estariam em Dublin na noite anterior à minha ida pra Bruxelas! Não pensei duas vezes e também comprei o ingresso. O problema é que isso acarretaria em alguns percalços.

O ingresso que comprei indicava "assentos não reservados" e fiquei imaginando como teria assentos em um show de música, mas essa seria a única maneira de ir em um show E DEPOIS ir pro aeroporto, uma vez que minha viagem pra Bruxelas era no sábado às 6:30, e eu já tinha decidido dormir por lá, carregando mochila e tudo mais. Mas era isso, o plano estava feito.

Assim, na bendita sexta, saí de casa com uma mochila com poucas mudas de roupas e um bocado de presentes pra família e amigos e fui trabalhar (!!!). Depois do expediente, ganhei uma carona de um colega de trabalho pros lados do centro e cheguei no local do show. De fato havia lugar pra sentar - era na verdade um teatro, daqueles com vários níveis superiores -, e dei graças a Deus, porque minha mochila estava estufada de tanta coisa e seria impossível ficar de pé. Outra coisa que me impressionou foi a quantidade de brasileiros no local, mas isso ainda sempre me surpreende em Dublin no matter what!

Depois do show (que terminou por volta das 23hs), peguei um ônibus com direção ao aeroporto, onde todos diziam que era só procurar o McDonalds e se esparramar por um de seus sofás por lá. Foi o que fiz, ou melhor, tentei fazer. Até comprei um sanduíche e fiz uma hora lá, mas pouco tempo depois uma atendente veio dizer que aquela área seria fechada, expulsando a mim e a outros "sem teto" que inclusive já dormiam por lá. Procurei umas cadeiras "menos desconfortáveis", mas a verdade é que dormi cronometrados 15 minutos aquela noite, já que somando-se ao desconforto a luz e o barulho que volta e meia surgia no local, eu simplesmente não consegui.

Faltando pouco mais de uma hora e meia pro voo, fiz a checagem do passaporte (procedimento da Ryanair para não-europeus) e já fui logo passar pelos detectores de segurança, e comer alguma bobeira em seguida. Só poucos minutos antes do embarque comecei a ter sono pra valer, e dormi pouco menos de 2 horas no período do voo até Bruxelas. Cheguei lá com a maior fila de imigração que já peguei, e gastei mais de meia hora até chegar minha vez e receber o carimbo no passaporte em 30 segundos #SadButTrue.

A partir daí comecei a ter um problema no país, que me perseguiu até os últimos momentos: boa parte dos lugares (e pessoas), mesmo em pontos turísticos e de alta movimentação, é difícil conseguir se comunicar em inglês! Fui direto comprar os tickets pro trem que sai do aeroporto e vai pra parte central da cidade mas, ainda que na "máquina" houvesse opção em inglês, eu inseria meu cartão da Irlanda (que sempre uso quando viajo) no leitor, e aparecia uma mensagem numa língua que acredito ser holandês. ACHO que era algum tipo de erro, e após tentar em outras máquinas, acabei indo comprar na famosa "boca do caixa" mesmo. Ao sair haviam catracas para os trem do lado direto e esquerdo de onde comprei e nenhuma sinalização de qual ia pra onde (pelo menos não fácil de ser reconhecida). Escolhi uma ao léu e fui. Alguns andares abaixo haviam trens parados dos dois lados e de novo nenhuma indicação de pra onde eles iriam. Imagino que seja a mesma rota, uma vez que estavam parados na estação do aeroporto, mas na hora preferi perguntar a um guarda que corria, e me apontou o trem certo.

Com o pressentimento de que minha primeira viagem sozinho me renderia dor de cabeça, cheguei na parte central da cidade após uns 20 minutos. Eu havia alugado um quarto pelo Airbnb numa região muito próxima à praça central de Bruxelas, e por um preço super em conta. Sabia que não precisaria caminhar muito a partir da estação, mas até o Google Maps me enrolou e fiquei andando em círculos por um tempo. Após finalmente chegar à rua que eu queria, veio outro drama: eu simplesmente não conseguia achar o número do prédio! Procurando pelo 50 eu vi 40, 44, 46, 48, 52, 54 e qualquer outra combinação, menos o que eu precisava. O que você pensa numa situação dessas? Vou pedir ajuda, certo? Seria ótimo, se todo mundo falasse inglês, e não francês!

A rua era mesmo na região central, e cheia de restaurantes. Pedi ajuda à 3 garçons, daqueles que ficam parados na porta convidando clientes pra entrar. O primeiro tentava me explicar tudo em francês, mas não dá gente, não é MESMO como espanhol ou italiano! Apenas um deles fala um inglês mais ou menos, e me indicou pro início da rua, onde claro a numeração era perto de 10. Acabei retornando ao primeiro que me ajudou, e com boa vontade ele veio com seu bloco de pedidos escrevendo os números e apontando as lojas ao redor, até que por dedução achamos um (entre o 48 e o 52, mas não estava mesmo escrito 50!), onde havia um interfone com descrições dos nomes dos moradores de cada apartamento. Resolvido? Nada! Nós simplesmente não achamos o nome do tal cara que me alugou o quarto! Aparentemente eles não usam numeração dos apartamentos, já que eu não tinha essa informação pelo Airbnb, e no interfone tinha só papel com os nomes mesmo...

Enquanto checávamos os nomes, uma pessoa saiu do prédio. Pensei: agora consigo perguntar e achar o apartamento. Mas adivinha? Nada de inglês, só francês! Ele acabou deixando a porta aberta, eu hesitei mas resolvi entrar e procurar. Tirando aquele, só haviam restaurantes na rua, só poderia ser mesmo aquele prédio! A questão é que na hora a ideia de entrar parecia fazer sentido, mas imagine entrar em um prédio em que você não sabe o número do apartamento. Eu subi e desci escada, mas não tinha por onde começar, a não ser que eu batesse de porta em porta (correndo o risco de sequer falar a mesma língua de quem aparecesse, como já estava acontecendo)! Saquei meu telefone e comecei a procurar uma forma de me contactar com o rapaz. Lembrando que eu estava em outro país, ou seja, qualquer uso da rede de celular, fosse ligação, SMS ou internet é sempre bem cara. Segundos depois, foi hora da bateria do celular dar tchau!

A sorte é que uma das últimas compras que fiz no Brasil foi um carregador portátil, e ele já salvou minha pele em viagens incontáveis vezes! Resolvi sair do prédio, já que não havia mesmo porque ficar lá. Do lado de fora tentei ligar para o dono do quarto, mas como se a coisa não estivesse ruim o suficiente, a ligação não completava. Mandei um SMS e continuei a vagar pela rua. Depois de alguns minutos ainda resolvi tentar contactá-lo, ligando e mandando mensagem, pelo Whatsapp (que não é 100% comum de ser usado como no Brasil pela Europa afora) e após alguns minutos o rapaz me ligou! Ele disse que não estava em casa mas que seu housemate poderia me receber, e que seu nome estava na lista do interfone do prédio. Já com completa descrença mas por desencargo de consciência resolvi checar a tal lista de novo, e eis que naquele momento eu o achei lá! Eu poderia jurar que aquele nome não existia naquele lugar, mas por fim, depois de por volta de uma hora nessa agonia, eu tinha um quarto!

O prédio era meio "caído", e cheguei a conclusão de que o quarto que eu iria ficar era nada mais nada menos do que do menino que me recebeu, um rapaz de 19 anos da Tunísia, que fala 5 línguas e super bom de papo, já que ele basicamente estava dormindo na sala. A casa era uma bagunça sem fim, e mesmo o quarto não estava muito arrumado ou limpo, mas como era coisa pra uma noite só eu relevei. Peguei uma dica de um lugar pra almoçar com ele (que estava fechado, aumentando a lista de dicas de restaurantes fechados que sempre aparece quando viajo), mas achei um outro minúsculo por perto, com uma comida simples e saudável, com muita cara de "cardápio local" e super em conta. A minha preocupação naquele momento é que muito do que eu havia planejado para o dia, como visitar os principais pontos turísticos da cidade, estava começando a ficar impossível, pois já era início de tarde e nem o walking tour que eu havia planejado fazer às 11hs eu tinha conseguido.

Acabei encontrando um outro walking tour que começaria dali a poucos minutos, então só terminei o almoço e fui direto pra praça principal. Por ter mais de 2 horas, vi que haveria mesmo incompatibilidade de tempo, e não conseguiria ir ao Atomium ou na Mini Europe, dois "must see" de Bruxelas. Teria que ficar pra viagem de volta, a qual eu já havia planejado de encontrar um amigo que conheci na escola em Galway e que mora em Liege, mas esse plano ficava pra ser decidido depois.

O walking tour (que dessa vez não fiz pela Sandemans, e sim pela Viva Brussels), conduzido por um guia simpático da Venezuela foi super interessante, e o ponto alto foi quando fomos ao "Parc de Bruxelles", onde pudemos ter uma verdadeira aula de como foi conduzida a colonização da República Democrática do Congo pela Bélgica, uma história curiosíssima de quando uma área enorme no meio da África do então inexistente país foi tomada como propriedade pessoal (!!) do rei da Bélgica.Visitamos vários lugares com histórias interessantes, e deu pra perceber que Bruxelas é bonita e bem compacta, e minha risga inicial com a cidade começou a se esvair.

Depois de toda a caminhada feita, e de ter provado o famoso waffle belga, eu já não tinha mais forças. Quando a tarde começava a dar adeus eu só consegui voltar pra casa e tentar dormir um pouco. Acordei poucas horas depois, e após um papo sobre a economia mundial com o simpático housemate, ainda saí pelas ruas procurando um restaurante aberto, já à noite. Comi paella pela primeira vez, num combo de refeição completa (entrada + prato principal + sobremesa, também bem comum na Europa afora) num preço bem camarada. Voltei pra casa e fui "terminar de dormir", já que o dia seguinte começaria cedo...

CONTINUA...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

(Quase) dois meses em Dublin: Casa, trabalho e outras coisas

 

Depois de quase 9 meses de Irlanda, e ainda sem saber que rumos dar para esse ~glorioso~ blog sim, ainda não sei o que fazer, me sinto meio que na obrigação de deixar registrado aqui como tem sido minha adaptação e minha nova vida em Dublin, ainda que isso tenha começado há quase dois meses atrás. A verdade é que estive bem mais ocupado desde que comecei a trabalhar por motivos óbvios! e arrumando uma coisa aqui e outra acolá no tempo livre, ou seja, finais de semana (e ainda querendo escrever primeiro sobre a viagem pra Suíça), o post foi ficando "pra depois" eternamente.

Ainda que eu já tenha entrado numa rotina nessa nova fase, muita coisa aconteceu desde então, e acho que a melhor forma de sumarizar isso é por meio de alguns tópicos. Então, sem mais enrolação, vamos a eles:

Casa

Tive muito receio de não conseguir lidar com meus flatmates aqui, depois de achar o "dono da casa" meio sistemático no dia da entrevista. Tirando o fato de que ele disse que o outro flatmate ser indiano, quando na verdade o cara era boliviano mas com nome, família e cara de francês, não houveram muitas confusões entre a gente. Apesar de sempre haver essa sensação de que ele e a namorada serem os donos da casa (por já morarem aqui há anos, e terem dividido a casa com várias outras pessoas que passaram por aqui), eles são bastante organizados, tranquilos e até bem simpáticos! Não passo horas conversando como fazia com meus flatmates em Galway, mas até uma "sessão" de Pinã Colada meu coquetel favorito já rolou aqui, e a moça vive cozinhando uma sopa típica do país deles e me oferecendo (aliás, eles vivem me oferencendo comida!).

A casa está sempre organizada e limpa. Pelo fato do frio não deixar manter portas e janelas abertas por muito tempo aqui na Irlanda, a quantidade de sujeira/poeira em casa é consideravelmente menor do que no Brasil. Além disso, todo mundo aqui é bem cuidadoso, então ficamos basicamente no rodízio semanal da faxina, normalmente no sábado.

Precisei mudar minha cama de posição, pois minha cabeça ficava colada na parede que divide o quarto e o banheiro, exatamente onde o chuveiro fica conectado. Ele é muito barulhento além de outros barulhos normalmente vindos de lá, então eu acordava TODO DIA com o boliviano/francês tomando banho pela manhã, antes mesmo do meu despertador tocar! No final essa mudança acabou não adiantando muita coisa (o barulho era alto mesmo!), mas o rapaz acabou mudando de casa há algumas semanas, e já que não tem ninguém tomando banho mais pela manhã, meu sono está a salvo.

Aliás, tirando o problema do banheiro, foi uma pena que o cara se mudou. Ele também era super legal, e cheguei a ter alguns papos filosóficos com ele. Ganhei uma caixa de bombom no dia que ele se mudou aparentemente tava escondida em algum canto e ele achou no meio da mudança, e agora temos um novo companheiro de casa, dessa vez um croata aumentando minha lista de estrangeiros conhecidos na Irlanda, um pouco mais na dele, mas também tivemos alguns bons momentos de conversa - como quando ele me contou desse acontecimento que ocorreu próximo do seu país e que desencadeou a Primeira Guerra e, não sei se por ignorância, mas eu nunca tinha ouvido falar.

Trabalho

Esse aqui já valeria um post inteiro, pois assunto não falta. Mas, vamos por partes. Iniciei no novo emprego com mais 4 pessoas, duas no mesmo cargo que eu (mas obviamente em equipes diferentes), e outras duas nos cargos de "criação" dos cursos. Minhas primeiras duas semanas lá foram basicamente apenas para treinamentos, que englobavam TODOS os setores da empresa. Eu achei isso fantástico, dada a minha experiência - e acredito eu, a realidade da maioria das empresas no Brasil - de simplesmente "jogar" o funcionário na suposta realidade do seu futuro dia a dia, e a partir daí, esperar que aconteça o "sevirômetro". Depois disso, trabalhei apenas mais dois dias até minha viagem de final de ano e o recesso da empresa, ou seja, só voltei em Janeiro mesmo. Entretanto algo que eu não esperava bateu em cheio: a complexidade de entender os nativos.

Quem me acompanha aqui sabe que durante todo meu período em Galway o meu uso de português foi limitadíssimo. Usei inglês o quanto pude nos 7 meses em que morei lá. Mas quem leu sobre toda minha experiência lá sabe que meu contato com irlandeses em geral foi também muito pequeno, coisa que tentei resolver de algumas maneiras, e que vira e mexe me questionava. E de repente eu estava lá: tendo contato diariamente com nativos e não-nativos, e ainda com um certo agravante: a empresa possui funcionários de todo o canto da Irlanda (lembrando que mesmo Dublin possui mais de um sotaque, ou seja...), além de gente dos EUA e Inglaterra e de estrangeiros com "English as a second language" da Polônia, Espanha, Itália, e com certeza outros que ainda não fui apresentado. Além disso é comum termos partes do processo de criação dos cursos feitos por empresas e funcionários terceirizados/freelancer da Índia e Canadá. O problema é que toda essa variedade me deixou louco!

Obs: É claro que existem várias pessoas que consigo entender mais claramente, mas sofro pra captar tudo mesmo com alguns integrantes da minha equipe, e isso é bem chato. Pra tentar exemplificar um pouco, esse cara falando (aparentemente um youtuber famoso pela região da Irlanda e Reino Unido que o Youtube insiste em me recomendar quando acesso aqui) me lembra muito como algumas das pessoas lá falam, e sinceramente ele não me parece ser a pessoa mais fácil de se entender (lembrando que o rapaz é britânico e o sotaque é diferente, mas a velocidade e ritmo na fala é o que quero comparar apesar de achar ele até mais fácil de entender).

Me senti muito mal pois, apesar de ter conseguido entender tudo do que foi passado nos treinamentos (obviamente realizado por pessoas diferentes), na hora de rolar algum tipo de conversa eu: (1) não conseguia entender 100% o que as pessoas falavam, fosse por ser muito rápido, ou por usar palavras que eu de fato não sabia o significado; e (2) travar completamente na hora de falar, por medo/receio de errar, e pelo item 1. Isso ACABOU comigo! Sinceramente, fiquei psicologicamente abalado, e chegava em casa arrasado achando que não iria "dar conta do recado". Somou-se a isso a realidade de ter que me comunicar o tempo todo via e-mail e Skype, o que me remetia a ideia de que writing era a skill que eu sempre treinei menos no meu aprendizado do inglês. Não estava sendo fácil!

Conversei com alguns amigos - alguns deles vivendo e trabalhando aqui em Dublin - e nenhum deles disse ter tido o mesmo problema que eu, o que só aumentava minha aflição! Passei a assistir tudo o que eu já assistia antes sem legenda e também cheguei a duas constatações: (1) o sotaque irlandês em geral é mesmo mais difícil de se entender, (2) ainda não consigo entender 100% do que um nativo, mesmo americano (sotaque que sempre estive mais exposto) fala. Isso pode soar como perfeccionismo barato, mas senti na pele que muitas vezes esse percentual faltante pode fazer alguma diferença, e minar minha autoconfiança.

O que posso dizer, depois desses dois meses lá é que boa parte do meu sofrimento passou. Pessoas que eu não entendia uma vírgula do que falavam, hoje já soam razoavelmente mais claras pra mim. Muita gente diz que isso é "acostumar o seu ouvido", e é no que estou acreditando. Minha situação atual portanto é essa: ainda passo aperto, sinto cada dia melhor, mas ainda com problemas, e não sei como resolver isso! Foi engraçado receber o resultado do TOEIC que fiz um pouco antes de terminar as aulas, onde praticamente gabaritei justamente a seção de listening! Ainda penso que, uma vez que sinto um certo progresso, não acho que procurar escola seja uma saída, pois me virar com o que sei foi basicamente o que me trouxe até aqui, e em teoria isso se provaria ser o suficiente... Mas chega da sessão desabafo!

Falando da minha equipe, no geral eles são legais. Existem pessoas mais na delas e outras mais conversadas, mas os perfis dos profissionais envolvidos em uma equipe de criação de e-learning são ainda mais heterogêneos do que em desenvolvimento de software em si, com o que eu estava acostumado. Todos têm sido extremamente prestativos ao compartilhar informações, e pacientes quando preciso de tempo pra entender o que fazer. Outro ponto interessante é que minha equipe é também composta de 2 brasileiros! Somos em 4 no total da empresa, e todos eles têm sido muito legal comigo também. Bem legal mesmo! Almoçamos sempre juntos (como a empresa fica localizada num parque tecnológico no meio do nada distante, não tem restaurante por perto e aí, ou se pede comida pra entregar lá, ou leva de casa, e todos comem na cozinha/refeitório/não-sei-como-chamar). Algo que pode ser meio "polêmico" é que nesse momento todos conversamos em português. Mas claro sempre que tem alguém por perto, giramos a chave e todo mundo por fim se vira no inglês mesmo.

Boa parte das minhas tarefas agora no início está voltada ao teste dos cursos, em diferentes etapas da sua construção. Isso, apesar de ter sido algo muito bem esclarecido na minha contratação, poderia ser algo que me deixasse meio desanimado, já que não é de fato uma atuação voltada à gerência de projetos. Mas iniciar o trabalho dessa maneira tem me permitido ver o processo funcionar, e entender como todas as partes se encaixam. Creio que minha experiência com software tem me ajudado, e já recebi feedbacks positivos.

O ritmo de trabalho é MUITO intenso, daqueles de raramente dar pra abrir o site de notícias pra ver o que tá acontecendo. Após algumas reuniões com a chefe da equipe (uma gerente de projetos sênior), fiquei responsável por algumas tarefas na assistência dos projetos, e na última sexta, após uma ligação pra me apresentar ao cliente não preciso dizer que quase tive 17 ataques cardíacos, ficou definido que a partir dessa semana serei responsável por gerenciar uma sub-parte de um projeto. Aguardemos cenas dos próximos capítulos.

Outras coisas

- Boa parte dos meus amigos coreanos já voltaram pro seu país! Com a diferença de apenas uma semana, encontrei a Boreum e o Paul em um restaurante brasileiro aqui em Dublin (finalmente fomos!) pra despedida dele, e na semana seguinte o Claude (voltando de viagem da Espanha e Portugal) dormiu na minha casa antes de também dar tchau no dia seguinte. Outra a qual falei pouco aqui, a Daoon (namorada do Paul) voltou pra Coréia no último final de semana. Vê-los indo embora assim foi bem chato, mas infelizmente já estava me sentindo longe deles pois estava geograficamente mesmo! assim que vim pra Dublin.

- Ainda não me sinto "cidadão Dubliner". Não sei se por conta de não viver na bagunça muvuca do centro, ou por de fato ter já morado em outra cidade, ou ainda por minha estadia aqui ainda ser de certa forma recente, mas aqui me sinto "na Irlanda" e não "em Dublin". É confuso, deu pra entender? Sei que preciso criar vergonha na cara, e visitar diversos pontos da cidade que sei que são famosos e interessantes, sem falar das cidades ao redor, também conhecidas por serem belíssimas. Além disso, frequentar certos tipos de estabelecimentos que nem haviam em Galway (ou mesmo os que haviam) como teatro, cinema, museus,  etc., devem me fazer conhecer mais a cidade e me sentir mais parte dela. Esse é um plano pra se colocar em prática logo.

- Como já adiantei no último post, estarei de volta ao Brasil em Março (mas apenas por alguns dias)! Após ter feito uma bobeira gigante, acabei perdendo a minha já comprada passagem de volta pro Brasil, que eu comprei quando vim pra cá, e que em teoria estaria usando por agora se não tivesse arrumado emprego. O problema é que me embolei com a data de remarcação dela, e basicamente o assento do avião foi vazio no final de Dezembro, e com ele meu soado dinheirinho. SPOILER: Ainda que a passagem de estudante tenha validade de um ano, a alteração precisa ser feita antes da data de embarque da passagem de volta. Parece óbvio pra mim agora, mas pelo email que recebi da minha agência isso não estava tão claro, e eu acabei me enrolando.

Fiquei muito chateado com isso, pois já estava planejando usar a passagem (em teoria possível até Maio), e foi um dos pontos que usei com minha família pra suavizar a noticia de que ficaria aqui mais um tempo. Mas com o apoio da minha chefe, que me deixou sair 2 semanas de férias e conseguir emendar os únicos 2 feriados possíveis aqui, montei um roteiro louco e daqui a algumas semanas embarco para 11 dias em casa.

Comentei com algumas pessoas que tenho dois receios nessa viagem: ir ao Brasil e não querer voltar pra cá de jeito nenhum, e ir ao Brasil e querer voltar de qualquer jeito. Acho que qualquer uma das duas seria ruim, mas tenho a impressão de que essa viagem vai dizer muito sobre quais serão meus passos pro futuro, seja Brasil, seja Irlanda ou outro lugar, hehe. Mas acho que devo pensar nas coisas boas desse pulo na terrinha primeiro, né? Já estou na contagem regressiva pra dizer: Terra Sol à vista!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 4: Lucerne)



E por fim, a parte final da história:

Precisávamos pegar o trem rumo a Lucerne dali a uma hora, então gastamos aquele tempinho dando uma volta no entorno da estação de Interlaken. Era tudo bem bonito, mas pela data e horário (noite do dia 25/12) não havia quase ninguém na rua, ou algo aberto. Ficamos preocupados com como iríamos comer chegando no destino, mas a única opção de restaurante perto da estação era muito mais do que "só" caro, então fomos "pro tudo ou nada". Devoramos os 4 uma caixa de Ferrero Rocher pra tapear a fome porque era o que tinha, e depois de um tempo, estávamos deixando Interlaken com direção a pequena e linda Lucerne.

Ao planejar nossa viagem pra Suíça, eu não fazia muita ideia de pra onde ir exatamente país afora, tirando claro a cidade do nosso amigo. Meu raciocínio sempre foi Geneva e Zurich porque é de onde se tem notícia da Suíça, mas assim que comecei a procurar pela parte turística da coisa, essa ideia foi meio que perdendo o sentido. Uma das cidades mais indicadas pra passar um dia (ou um pouco mais) e poder ver um resumo do país era justamente Lucerne. Ainda que meu planejamento inicial sequer contemplasse gastar com acomodação e ainda bem que comecei a trabalhar, porque né?, conversamos e entramos em um consenso de que valeria a pena passar um dia na cidade. O transporte pra lá (e de lá pro aeroporto) já estaria garantido pelo Swiss Pass, então o resto era se virar e aproveitar a cidade.

O percurso - que durou por volta de 2 horas - foi aproveitado basicamente por nós jogando truco (ensinei aos coreanos há tempos, e eles sempre pedem pra jogar quando temos chance). Só houve um problema: TODAS AS VEZES que um coreano decide brincar de algo que tenha o mínimo de competição, eles precisam fazer aquilo oferecendo alguma punição pro perdedor. Somando-se a isso o fato de os coitados não aguentarem mais comer chocolate (eles não tem o hábito e sempre acham tudo muito doce) e de termos um bocado com a gente ainda, adivinhem qual foi a punição?? Parece ironia, mas até pra mim que sou uma "formiga" já tava virando uma tortura.

Chegamos em Lucerne já não aguentando mais ver chocolate, mas ainda assim com fome, já que ninguém comeu direito naquele dia. A estação era enorme, e no piso inferior havia um supermercado (?!), nossa salvação no dia seguinte. Como estávamos com medo de que a reserva do hotel (que foi o que de melhor custo/benefício achamos pra basicamente dormir uma noite) expirar, saímos correndo até o endereço não sem claro nos perdermos no caminho! e depois de algum sacrifício, lá chegamos. Vimos um pedaço da cidade e tudo era muito bonito! O lago que envolve a cidade possui duas pontes que são famosos pontos turísticos lá, e elas (e tudo em volta) estavam iluminadas com enfeites de Natal, deixando tudo ainda mais legal!

Deixamos nossas coisas no hotel e fomos rumo à estação (que ficava a uns 10 minutos de lá). No percurso que fizemos pudemos perceber que comer não seria algo fácil aquela hora da noite naquele dia, mas resolvemos ir em direção ao mercado um coreano ainda correu na frente, pois queria comprar cerveja e o horário para venda de álcool já tava encerrando. Encontramos com ele já com a bebida comprada, mas assim que eu iria começar a escolher o que comprar, os funcionários passaram falando que o supermercado estava fechando. Achamos na estação um Chinese Takeaway (caso não saiba, é um tipo de "restaurante" que só vende a comida, e não tem nem onde sentar e aparentemente existe em TODA ESQUINA nessa Europa!), mas eu preferi me aventurar num Burguer King. Olhei os preços naquelas famosas plaquinhas e achei o olho da cara o tal "combo", mas qual foi a minha surpresa ao ver que tudo veio no tamanho grande, aparentemente uma "pegadinha do Malandro" pra pegar os turistas que passam por ali (já que até onde sei, em todo lugar o padrão é o médio). Voltamos pro hotel e comemos tudo por lá mesmo, batendo papo até altas horas e jogando outro jogo maluco coreano (eles também são ótimos pra inventar essas brincadeiras de "puxa-bate-faz-um-gesto").

Pouco antes de dormir, procurei no Google o que de fato havia disponível pra fazer na cidade (já deu pra ver que o planejamento pra lá não foi muito bem feito, né?!), e além de alguns monumentos a se visitar, muitas pessoas sugeriram dar uma volta de barco pelo lago. Ficamos animados com a ideia e, no dia seguinte, depois de fazer o checkout e deixar nossas malas na recepção do hotel, partimos pro supermercado pra tomar um café da manhã "low cost" e de lá pra saída do barco (que era em frente a estação). Descobrimos que também era possível usar o Swiss Pass - que era caro, mas de fato ilimitado! - e lá fomos nós em direção a pequena vila de Weggis, a pouco mais de meia hora de Lucerne.

A viagem em si foi linda, pois apesar de não estar exatamente calor, não estava muito frio, e o dia estava ensolarado como eu nunca vi na Irlanda! A paisagem era linda, e mais uma vez era possível ver as montanhas cercando o horizonte (a visão delas é muito parecida com as que ilustram a embalagem do Toblerone #gordices). Depois de muitas fotos, e de termos percebido que só dava pra ficar no primeiro andar do barco porque o segundo era reservado pra primeira classe #classemediasofre, chegamos em Weggis. Existe uma central de informações turísticas logo na chegada, mas algo estranho e engraçado aconteceu. A moça que nos recebeu - até simpatica por sinal -  já foi logo dizendo: olha, não tem muito o que fazer aqui não. Se quiserem, podem ir à direita e é possível visitar uma parte das montanhas por "teleférico", ou à esquerda vocês acham um parque. Ficamos assustados com a sinceridade da moça, mas por não dispormos de muito tempo (pois ainda queríamos andar em Lucerne em si), resolvemos só dar uma volta no tal parque.

O problema é que ele ficava mesmo perto (menos de 10 minutos) e pasmem, o "parque" era na verdade um playground minúsculo! Me senti chegando na ilha de Burano em Veneza (onde 11 em cada 10 comentários de quem já foi são: "Nothing special"). Mas acabou dando pra aproveitar o sol nunca pensei que iria falar isso estando na Suíça, e no inverno!!! Enrolamos mais um pouquinho sentados de frente pro lago, e pegamos o barco de volta à Lucerne.

Lá chegando, fomos encontrar dois amigos brasileiros, que moram em Galway e fazem parte do Ciência sem Fronteiras. Passamos mais uma vez no supermercado (!!) pra que eles - e nós - comêssemos alguma coisa, e demos uma volta por Lucerne, passando pelos arredores da cidade (ainda com muita coisa fechada, pois além de pós-Natal, era sábado), do rio e das pontes. Ainda fomos nos aventurar na busca de um souvenir - eu sempre compro um imã "de geladeira" pelos países que tenho ido - mas vou falar, quase desisti. O mesmo tipo de imã que eu comprei na Itália por 1 euro ou 2 libras em Londres, na Suíça foram SETE FRANCOS!!

Depois tivemos a cara de pau de, vendo nossos amigos com malas gigantes (pois haviam passado o Natal numa cidade no sul da França), irmos na recepção do hotel onde deixamos nossas malas o que havia sido um favor, e pedirmos pra deixarem as deles também, a essas horas apenas para podermos ir ao último ponto turístico antes de partirmos rumo ao aeroporto: o Monumento do Leão. Pelas fotos e pelo que lia, imaginava ser uma estátua pequenininha e boba, mas após quase meia hora andando, vi que estava errado. Ele é na verdade um leão esculpido numa parede de pedra enorme, muito maior do que eu esperava! Dizem que ele foi feito em homenagem à morte de soldados suíços numa tentativa de invasão da França, e o leão tem uma feição instigantemente triste!

Voltamos correndo pra pegar as malas, despedimos dos brasileiros e voltamos à estação há poucos minutos do trem partir. A viagem até Basel (onde fica o aeroporto) ainda demandaria por volta de duas horas. Encerramos assim nossa última viagem enquanto grupo de intercambistas amigos. De novo sem nenhum stress, e com tempo pra botar o papo em dia e matar a saudade daquelas piadas internas que só amigos de verdade entendem. Como resumo, a Suíça é linda, organizada e por vários motivos poderia sem considerada "o lugar dos sonhos" por muita gente, mas mesmo seus habitantes sabem que a vida lá é cara. Mesmo não tendo tanto tempo, acho que aproveitamos bastante e conhecemos muita coisa legal e com gosto de novidade.

Se nada mudar, o próximo "Pé na estrada" será também em direção a um "De volta pra minha terra" (apenas por alguns dias!), mas com algumas paradas extras pelo caminho. E que Março chegue logo!!!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 3: Alpes - Jungfrau/Top of Europe)


Tivemos que acordar de manhãzinha, pois apesar da viagem até o destino final não ser tão longa, ela seria composta de várias paradas. Iríamos de carona até a cidade de Interlaken, e de lá pegar o trem que basicamente dá a volta no "circuito" Top of Europe. Explicando: Top of Europe, como o próprio nome diz, é o lugar mais alto da Europa, e faz parte de um circuito de pequenas estações de trem conectadas em torno de uma parte dos Alpes na Suíça. Como essa volta toda demora um bom tempo (normalmente se fica o dia por conta do passeio), precisamos sair cedo pra poder chegar com tempo de curtir tudo - lembrando que nessa época às 5 da tarde já não tem mais sol, e depois disso não seria possível aproveitar muita coisa.

Todo mundo estava no "modo zumbi" durante a viagem de carro, depois de ficar até altas madrugadas jogando video game. Sei que a questão "Mas-vocês-foram-pra-Suiça-jogar-video-game?!" pode eventualmente aparecer, mas nosso amigo tinha um jogo super legal em que os quatro podiam jogar ao mesmo tempo! Só isso já foi motivo pra qualquer turma se esbaldar, e nos divertimos sem pensar no amanhã. Literalmente! Mas ainda assim consegui ver algumas paisagens lindas no caminho, entre uma dormida e outra.

Chegamos em Interlaken antes das 10hs, e os meninos foram comprar os tickets. Talvez não tenha ficado claro, mas o Swiss Pass não dá direito ao roteiro do Top of Europe. Só até a primeira estação (e para a última). O roteiro tem sentido circular, e você pode definir por qual lado partir e chegar (até onde sei não tem muita diferença). Eu acabei comprando o meu com alguma antecedência, pois os coreanos acharam mais um mágico blog onde eles ganhariam um bendito Korean noodle e fizeram a reserva deles por lá, já eu comprei o meu separado. Gastamos um bom tempo na época de reservar isso, pois no ticket padrão você já faz a decisão do roteiro na hora que compra, e tentamos garantir que iríamos todos no mesmo sentido. O que eu não contava é que a mãe do nosso amigo tivesse cupons de 20% de desconto pra usar lá e, uma vez que os coreanos só reservaram, eles puderam cancelar o pedido e usar os cupons. Meu planejamento antecipado acabou sendo uma desvantagem dessa vez. :(

Conseguimos todos encontrar um roteiro em comum (iniciando em Lauterbrunnen), e começamos a subida. Conforme o trem ia rumo ao topo, mais os primeiros indícios de neve iam aparecendo. Fizemos a primeira parada até que o primeiro trem do roteiro em si chegasse. Além de gelo pois não era exatamente neve, haviam muitas lojas pra compra de material pra esqui, restaurantes e alguns hotéis. Meus amigos ainda foram na central de informações turísticas ver se havia como fazer uma das "pernas" da viagem a pé, mas o que informaram é que só com roupa e calçado apropriados seria possível. Como ninguém tinha isso (e eu ainda era o único sem tênis impermeável), todo mundo desistiu da idéia. Andamos mais um pouco, tiramos algumas fotos, e pegamos o segundo trem.

Na segunda parada já pude finalmente encontrá-la! Um mundo de neve na minha frente pela primeira vez na minha vida, onde pessoas andavam, brincavam e esquiavam. Era uma imensidão branca logo ao sair da estação, e mesmo me atolando diversas vezes (e MORRENDO de medo de cair, já que além de tudo meu tênis tem o solado praticamente liso), deu pra me divertir bastante, e finalmente brincar de jogar neve em todo mundo. Na hora de retomar a subida acabamos precisando esperar um segundo trem chegar, poucos minutos após a saída do primeiro, que já havia saído lotado pois era Natal mas isso não desanimou ninguém, pelo visto!

Pegamos o próximo trem, esse tendo o percurso com duração bem maior que os outros, e estando cada vez mais alguns milhares de quilômetros longe do nível do mar. Isso inclusive acabou nos servindo como um experimento meio estranho e engraçado: compramos um "chips" gigante na nossa visita ao supermercado no dia anterior, e conforme fomos subindo, o pacote simplesmente começou a inflar! Mas sério, chegou ao ponto de acharmos que ele ia explodir sozinho!

Por fim a gente decidiu abrir furando um buraquinho, just in case...

Ainda tivemos mais uma parada antes da chegada ao topo, onde numa estação com várias sacadas, era possível admirar a vista já considerável de boa parte das montanhas em volta - e embaixo. Tudo branco, e tudo lindo. Depois de algum tempo (acho que gastamos umas 3 horas desde a saída de Interlaken), lá estávamos nós, na parada final, e a 3454 metros de terra firme. Nessa estação na verdade existe uma "construção", que conta com restaurantes, banheiros e até uma loja da Lindt! Ao sairmos desse "prédio", ainda havia um pedaço onde dava pra ter mais contato com a neve, ver a paisagem e tirar fotos. Nesse momento a temperatura já estava no nível "estou congelando" (acredito eu que já na casa dos negativos), pois foi a primeira vez que senti frio, mesmo com todo meu aparato de inverno, que se consistia de: duas calças, sendo uma de moletom e uma jeans; 4 blusas de frio, de uma mais fina até o meu casaco; meia térmica; luva; cachecol e touca porque não está fácil pra ninguém. Tirei as luvas pra poder tirar uma foto e achei que minha mão iria petrificar. Mesmo assim, haviam uns idiotas irreverentes rapazes asiáticos tirando foto sem camisa lá... Ainda havia uma árvore de Natal enorme e uma bandeira também enorme da Suíça lá marcando presença, e sempre sendo motivo de disputa pra fotos por todos que chegavam.

Já caindo de fome, fomos todos almoçar, e enquanto meus amigos resolveram mesmo encarar o noodle coreano (até o suíço entrou na brincadeira), temi por minhas papilas gustativas e parti pra um sanduíche SUPER simples e que me custou 1 rim e meio. Depois de comer sem pressa, e de uma passada na Lindt, resolvemos já pegar o trem de volta, pois eles estavam disponíveis no esquema "Tele Sena" (de hora em hora). Isso inclusive foi motivo para que pegássemos o trem lotado, e boa parte de nós teve que descer sentada nos degraus da entrada do trem nos moldes de qualquer ônibus lotado pra ir pro trabalho no Brasil. Essa descida foi a mais longa de todas, já que o trem não parava em pequenas estações mais. O cansaço já estava batendo, e nesse momento o sol já se preparava pra se pôr. Após chegarmos a estação de início, pegamos o trem de volta a Interlaken.

Lá chegando, a mãe de nosso amigo já o esperava, e aquele seria nosso adeus a eles, que nos trataram e acolheram tão bem por aqueles dias. Mas a viagem não tinha acabado ali ainda, e estávamos a poucos minutos de embarcar pra mais uma cidade suíça.

Continua...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 2: Bern)


No dia seguinte, após todos terem tido a cara de pau de acordar mais tarde do que o combinado (já que a mãe do nosso colega nos daria carona e estava basicamente nos esperando), tomamos café da manhã e partimos rumo a Bern, a capital de fato da Suíça. A cidade não fica exatamente do lado de Fribourg, mas era muito mais perto do que a viagem do dia anterior. Ao chegarmos lá, nossa gentil mãe-motorista foi dar uma volta, e tivemos tempo para andar pela cidade.

Bern é linda. Tem a típica cara de cidade suíça, e muito do estereótipo que temos no Brasil de como a Europa de fato é, algo que já comentei ter sentido em Londres. Pudemos passar por pontos onde se dava pra ver a cidade como um todo, e logo depois andamos pelas margens ao longo do rio que corta a cidade, até uma ponte que ligava à parte mais central. A ideia era visitarmos dois Christmas Markets (lembrando que já estávamos no dia 24 de Dezembro) e andarmos pela cidade.

Encontramos um mercado pequeno, que estava acontecendo em frente a uma bela igreja. Demos uma volta por ele, e nosso amigo suíço insistiu para que entrássemos na igreja. Confesso que eu já estava bem cheio de visitar igreja (principalmente depois de todas que vimos na Itália, e ainda mais tendo que pagar pra entrar), mas ela tinha uma estrutura diferente, e pudemos visitar a parte de cima que dava vista para todos os limites da cidade. A subida foi um pouco cansativa. Não chega a ser nenhuma Basílica de São Pedro, mas deixa qualquer claustrofóbico (a escada é em caracol e estreitíssima) e cardíaco de cabelo em pé. De lá de cima pudemos ter uma vista mesmo muito bonita, e pude perceber algo que já havia notado desde nossa viagem vindo do aeroporto: a Suíça é mesmo cercada de montanhas! Pra onde se olha, na linha do horizonte você vai encontrar uma montanha coberta de neve (na galeria de fotos no final da série de posts fica bem explícito isso). Tomadas as devidas proporções e claro, tirando a neve, foi algo que me fez lembrar minha cidade, chamada não a toa de Belo Horizonte.

Descemos, e ainda dentro da igreja encontramos com a mãe do nosso amigo. Saindo de lá, demos uma volta pela parte mais central da cidade até encontrarmos algo pra comer. O responsável por matar a nossa fome foi um cachorro-quente com salsicha suíça autêntica que nem foi tão cara, mas olhando ao redor já comecei a me apavorar com os preços de tudo que via pela rua. Ao sairmos de lá, fomos visitar o segundo mercado de Natal, esse sim bastante grande, com inúmeras opções de presentes como itens de artesanato e até mesmo o famoso chocolate, assim como encontramos um "bar" onde todo mundo comprava uma bebida que já havíamos visto no mercado anterior: é uma mistura de vinho quente e cravo, aparentemente muito comum lá, já que MUITA gente estava bebendo. Havia inclusive a opção de pegar a bebida e bebê-la mercado a fora, e depois voltar pra devolver a caneca (pegando de volta o dinheiro do "depósito" já pago, ou apenas ficando com ela, caso quisesse).

Saímos de lá quando as primeiras barracas desarmando já anunciavam que era hora de ir embora. Demos mais uma volta rápida pela cidade, onde podemos ver a sede do parlamento, e ficamos sabendo que não é incomum encontrar os políticos de lá nas lojas e restaurantes das redondezas. Fico imaginando isso em alguns lugares no Brasil, poderia não acabar bem. Passamos ainda em um supermercado, para comprarmos algo pra comer na viagem que faríamos no dia seguinte para os Alpes. Achei inclusive Guaraná Antarctica lá, e fiquei me perguntando o porquê de, mesmo com a quantidade absurda de brasileiros em Dublin e na Irlanda em geral, não termos uma seção de produtos brasileiros ou pelo menos um guaraná em algum canto nos supermercados por aqui...

Como última parada, passamos em frente ao relógio principal da cidade, em uma torre muito bonita por sinal. Nossa mãe-turista criou uma expectativa enorme sobre o que acontecia com o relógio quando se completava uma hora, mas acabamos ficando olhando um pro outro depois das badaladas. Aparentemente algo acontecia antigamente, mas como ela se recordava de ter visto na sua infância, algo parece ter mudado desde então, rs.

Partimos então em direção à casa de uma tia de nosso amigo, para a celebração de Natal da família. Após um tempinho de viagem, chegamos num conjunto de casas mais isoladas. A casa era linda, e toda feita de madeira. Tão grande que fizemos um tour guiado por ela! Ao chegarmos, fui fazer a gracinha de me apresentar em francês com uma das únicas frases que sabia falar e a tia cismou o resto da noite que eu falava a língua! A família estava de fato reunida, com tios, primos, avô e avó, todos simpaticíssimos, ainda que os mais velhos não falassem inglês. Aliás, é engraçada e ao mesmo tempo incômoda essa sensação de tentar e não conseguir se comunicar por não saber língua em comum. Por isso, por mais que existam pessoas que levantem a bandeira de que o inglês acabou por ser "imposto" pela postura imperialista norte-americana, ou pela história de guerras e dominação britânica, o fato é que todo mundo conseguir se entender usando uma língua é algo mesmo fantástico, e de fato necessário.

Nos empanturramos de tanto comer fondue! Segundo a tradição da família, se servem opções diferentes da comida (tínhamos a tradicional com 3 queijos, e uma que levava alho) e se revezavam as opções pela longa mesa ao longo do tempo. Houveram as trocas de presentes e todos conversavam (em francês) com muita alegria. Depois que tivemos uma torta de sobremesa, um dos tios nos convidou para conhecer os cavalos da família. Pra falar a verdade foi a primeira vez que cheguei perto de cavalo, mas foi bem legal, e ainda podemos dar de comer pra eles! Após um tempo de conversa, nos despedimos de parte da família, e ainda demos um último pulo na casa da avó para vermos dois pôneis que eram uma graça!

Voltamos pra casa, e depois de mandar um vídeo de Feliz Natal pra minha família (com a participação dos meus amigos dizendo a frase em português!) varamos a noite no video game, mesmo sabendo que o combinado pro dia seguinte era acordar cedo, e dessa vez não dava pra furar!

Continua...

domingo, 24 de janeiro de 2016

Pé na estrada: Suiça (Parte 1: Fribourg)



Nota: Esse post está MEGA atrasado por motivos de: a dona das fotos estava indisponível. Preciso fazer um exercício de memória, e espero lembrar de tudo que aconteceu há mais de um mês atrás. Obrigado. De nada.

A idéia dessa viagem surgiu há um bom tempo, quando um dos vários suíços que estudava na nossa escola convidou um dos meus amigos pra passar uns dias na sua casa - o que aconteceu no início de Agosto, e o convide acabou se estendendo a alguns outros amigos, inclusive a mim. Eu não era exatamente 100% próximo dele, mas começamos na escola (ainda que em níveis diferentes) quase que ao mesmo tempo, estávamos sempre na mesma roda de amigos, e logo no finalzinho ainda fomos todos da mesma sala. Como a possibilidade de ir pra Suíça não era algo exatamente ruim (mesmo estando com o orçamento apertado na época, e nem pensando em encontrar emprego) já começamos a planejar e pouco tempo depois compramos a passagem, aguardando apenas para a fatídica época, em Dezembro. Precisei inclusive apelar para o lado sentimental ao aceitar meu emprego, dizendo que precisaria dos dias próximos ao Natal pra viajar com meus amigos, já que do contrário eu sequer teria onde celebrar a data, primeira na minha vida longe da minha família, e a mais importante dentro desse conceito de "reunir a galera". Fim do flashback.

E lá estava eu indo pro aeroporto, dessa vez já estando em Dublin, no dia 23 de Dezembro. O início dessa viagem já foi bem legal, pois pude rever meus três amigos coreanos de Galway (sim, viajamos todos juntos de novo), poucas semanas depois de ter me mudado pra Dublin. Botamos o papo em dia e embarcamos rumo a Basel, cidade suíça que fica na fronteira entre a Alemanha e a França e pra onde a Ryanair vai, então não dá nem pra reclamar. Ao chegarmos algo engraçado aconteceu na imigração: o agente perguntou pra onde eu iria, e eu prontamente respondi a cidade do nosso amigo suíço, chamada Fribourg. O problema é que na França existe uma cidade de mesmo nome, e como estávamos de fato na fronteira (havia no aeroporto placas que indicavam saídas rumo a Alemanha e França), acabamos eu e ele nos enrolando. Foi algo do tipo:

- Pra onde você tá indo?
- Friboug.
- Na França?
- Sim... Não! Na parte francesa da Suíça.
- Ah, ok... Então você tá indo pra França?
- Sim... Não, pra Suíça.
- Certo, então. Pode ir, obrigado.

Depois da bagunça, encontramos além do nosso amigo-anfitrião, nossa outra querida amiga suíça, que esteve com a gente em Como, na Itália. Depois de beijos e abraços, compramos o famoso Swiss Pass (ticket que dá acesso ilimitado aos meios de transporte em toda a Suíça e que custa os olhos da cara, válido para os próximos dias que passaremos lá). 

Como disse, precisávamos ir do aeroporto até a casa de nosso amigo. O problema era que a distância era bem longa, mas nossa gentil amiga que já havia feito o caminho da ida de carro, deu carona a nós todos. Chegamos no aeroporto no início da tarde, mas com todo o percurso de carro (que deu bem mais de 2hs) chegamos na casa dele já anoitecendo, o que não acontece muito tarde no inverno europeu.

Mais uma vez fomos surpreendidos com relação a acomodação pois, por mais que estivéssemos falando de Suíça, eu não esperava algo mais do que um colchão num cantinho de um quarto pra gente o que já seria de muito bom grado pra quem estava de favor, hehe, mas de novo o que vimos foi uma casa linda, enorme, numa espécie de condomínio - que na Europa normalmente é chamado de "vila" - já bem afastado da cidade. Todos os membros da família nos receberam super bem, e todos falavam inglês bem, especialmente a mãe, com quem passamos boa parte dos dias seguintes. Tivemos um quarto só pros meninos, e já fomos presenteados com barras de chocolate suíço produzidos localmente (na cidade) esperando pela gente nos aposentos.

Como já não tinha muito o que fazer pelo horário que chegamos (e já com bastante fome), jantamos com a família toda reunida, e depois nosso amigo nos convidou pra darmos uma volta em uma estação de esqui próxima a sua casa. Fiquei tentando imaginar onde seria esse "próximo", já que não havia nada em volta a não ser casas enormes. Foi aí que a segunda surpresa do dia apareceu: enveredamos por uma floresta, no meio da noite, e sem NENHUMA iluminação artificial. O mais legal? Só com a luz da lua a gente conseguia se guiar e enxergar tudo! Não sei se é porque algo do tipo nunca me aconteceu antes, mas achei surreal. Estávamos no meio de uma floresta, com árvores enormes, quando a noite já havia caído completamente, e o que iluminava tudo era apenas o luar!

Chegamos no final da floresta, onde a estação deveria estar funcionando. Deveria, porque esse inverno não teve nenhum sinal de neve na Suíça, com isso não havia como esquiar em muitas estações país afora. Aliás, ao ir pra lá um dos meus objetivos pessoais era justamente ver neve pela primeira vez na minha vida, mas alguns colegas de sala vindos da Suíça já nos últimos dias de aula me alertaram que era bem possível que não houvesse neve. O que eu não esperava era que o clima estaria mais ameno do que em Dublin, rs.

Terminamos o dia com a última surpresa do dia: nosso amigo, como bom geek que se preze, tinha um verdadeiro salão de jogos na sua casa, com mesa de ping-pong, totó ou pebolim, dependendo de onde você seja no Brasil, e todas as variedades de video-games e jogos que eu jamais imaginei. Fizemos intermináveis campeonatos de ping-pong até que nossa amiga suíça precisou voltar pra casa, e após mais algum tempo de diversão, fomos dormir exaustos pelo dia relativamente cheio, e nos preparando pra mais aventura no dia seguinte.

Continua...