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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Galway International Arts Festival: #EuFui (trabalhar)



Um dos motivos que me fizeram atrasar os últimos posts foi meu primeiro trabalho aqui na Irlanda. Isso mesmo! Durante a 3ª e 4ª semana do mês de Julho, trabalhei como voluntário aqui em Galway, no maior festival da cidade.

Logo quando encontrei as primeiras informações sobre Galway, no momento em que ainda tentava decidir onde realizar meu intercâmbio (como contei aqui), sempre haviam menções a esse festival, que ocorre em Julho. Assim, mesmo antes do início desse mês já foi possível ver muita movimentação a respeito disso e, após a divulgação inicial dos eventos quando vi que boa parte deles era paga e muitos não exatamente baratos para o padrão de vida de um intercambista brasileiro, notei que haviam vagas para trabalho voluntário. Unindo a questão de estar sempre procurando o que fazer pra matar o tempo, com a vontade de estar mais em contato com os irlandeses e sua cultura, convenci alguns amigos, e juntos nos cadastramos pra trabalhar no festival.

Minha primeira opção era tentar linkar esse trabalho com a minha àrea de atuação profissional, e o mais próximo disso era trabalhar com Social Media. Ao realizar o cadastro, era perguntado a prioridade do setor em que gostaria de trabalhar, e essa foi minha primeira opção, seguido de Música, Teatro e o famoso evento Big Top (o qual eu fui selecionado, apesar de não saber direito como funcionou o critério). O Big Top é basicamente "um festival dentro do festival", onde os grandes shows acontecem, e quando famosos artistas e bandas se apresentam na conhecida grande tenda azul montada dentro do campus da maior universidade daqui.

Após algumas reuniões (quando tive o primeiro grande contato com nativos e com o sotaque) para apresentação do festival, falando do conteúdo, da história e da importância dele pra cidade, recebi a relação de dias em que trabalharia nos 6 shows do evento, sempre começando às 17:30hs e só terminando às 23:30hs. Apesar de tudo isso, me incomodou nesse momento perceber que dali a alguns dias eu iria começar a "ralação", mas não fazia a MENOR IDÉIA de qual seria efetivamente meu trabalho. No final das contas, fui informado de que apenas nos dias das apresentações eu seria instruído.

Assim, no primeiro dia (14 de Julho) lá estava eu, com meu amigo coreano e junto de mais aproximadamente 20 pessoas munidos de nossas nada discretas representativas camisas amarelas, para literalmente "iniciar os trabalhos". Fomos sempre orientados pelo Jim, um simpático e ágil senhor com um sotaque bem carregado, que nos passava as informações dos shows, alguma observação pertinente, e que sempre nos reunía no final de cada dia para coletar algum ocorrido e/ou alguma sugestão para os próximos shows. Nesse dia (bem como nos 2 próximos), junto com mais um voluntário, ficamos responsáveis por uma saída de emergência da tenda, ou seja, é tipo aquele pessoal que trabalha de bombeiro ou em ambulância em estádio e que só vai ter trabalho mesmo se alguma coisa sair errado, o que graças a Deus não aconteceu. Além disso, era minha tarefa dar informações gerais do local para as pessoas (banheiro, onde comprar bebida e comida, etc), pedir às pessoas que fumassem apenas fora da tenda, e permitir apenas a membros do "staff" o acesso a tal saída. Um detalhe não muito desagradável entretanto é que essa saída ficava ao lado do palco, a uns 30 ou 40 metros de distância, o que significava poder dar uma boa espiada nos shows sem maiores problemas (o que era permitido, desde que não ficasse só por conta disso). Também como parte do trabalho, no final de cada dia tínhamos todos que recolher os copos descartáveis e o "lixo" em geral deixado pelo respeitável publico, mas era coisa de se fazer em 5 minutos. Não foi só moleza, né!


Vamos trabalhar, minha gente!
Detalhe pra minha cara de não muita animação, haha!

No primeiro dia se apresentaram as bandas Little Green Cars e St. Vincent. A primeira ainda não é muito famosa aqui mas que ganhou meu coração, rs! Sério, são 5 cantores/músicos muito bons, que fazem harmonias maravilhosas em suas músicas. Deixo um vídeo em especial de uma apresentação ao vivo que é ainda melhor que a de estúdio aqui. Já a segunda banda é bastante famosa e focada em performance, me lembrou algo como Lady Gaga cantando rock pesado, hehe.

No segundo dia, tivemos o primeiro show lotado: Damien Rice (caso não se recorde, é aquele cara da música "The Blower's Daughter", ou ainda, a música original da versão "Eu não sei paraaar de te olhar" da Ana Carolina e Seu Jorge). Após um show de violino e após as barracas de bebidas fecharem por exigência dele, que não queria ninguém bebendo enquanto ele se apresentava, as quase 4 mil pessoas foram ao delírio com o show principal. Damien é um artista bem intimista, e foi bastante legal ver toda a platéia fazendo silêncio pra focar na apresentação. Um adendo para dizer que meu trabalho nesse dia (e no próximo) foi sofrido: a saída de emergência era basicamente uma abertura em uma das laterais da lona da tenda, que precisava ficar semi fechada. O problema era controlar isso com a ventania absurda daqui! Encontramos uma maneira de tentar resolver isso agarrando os lados dessa abertura da tenda ao nosso corpo, mas o vento era tão forte que empurrou a gente muito forte incontáveis vezes!

Os próximos dias (17 e 18 de Julho, respectivamente sexta e sábado) foram apresentações da Kodaline, uma boa banda de rock muito conhecida entre os jovens da Irlanda. O local estava absolutamente lotado, e no sábado choveu muito, o que significou lama POR TODOS OS CANTOS do evento. Foi triste ver muita gente de vestido e sandália completamente imundo eu também não saí ileso. Nesse dia fiquei responsável por um dos acessos da tenda, e deu bem mais trabalho controlar esse mar de gente com um temporal rolando (especialmente os fumantes que não queriam sair da parte coberta).

O próximo show só foi acontecer na quinta-feira da outra semana, e com uma grande alteração. Um dos artistas mais aguardados, a cantora irlandesa mais famosa internacionalmente Sinead O'Connor, teve o show cancelado (primeiro foi dito que ela estava gripada, mas dias depois revelaram que seu filho está com uma doença bastante complicada já há alguns meses). Com isso, houve uma mudança na apresentação dos artistas: John Grant, que iria abrir o show, na verdade foi o show principal, e com isso Sharon Shannon foi chamada pra substituí-lo na abertura. Não conheço muito sobre ambos, mas até onde entendi ele é americano e amigo da Sinead, e ela comanda uma banda de música tradicional irlandesa, que basicamente só tocou instrumental. A lotação do dia foi bastante reduzida, obviamente pelo fato do público que desistiu depois da mudança de última hora, e as apresentações na minha opinião foram bem mornas. Nesse dia minha ocupação foi cuidar da área onde ficam os equipamentos de iluminação e os profissionais que os operam. Detalhe: um pouco mais afastado do palco do que quando estava na saída de emergência, mas exatamente de frente pra ele. Nada mal novamente!

O último dia de trabalho foi no último sábado (dia 25), com a Coronas, uma banda de rock pesado com um show muito bem feito, usando de efeitos e interação com o público da maneira mais completa que vi. Novamente lá estava eu na área dos equipamentos de iluminação, mas dessa vez bem espremido por conta de mais um dia de lotação máxima.

Além disso tudo, como agradecimento pelo nosso trabalho, ganhamos ingressos para a apresentação "Live Live Cinema", uma peça de teatro onde é exibido um filme antigo mas sem nenhum som original. A surpresa é que no palco os atores recriam todos os sons do filme, bem como as falas, e tudo no exato momento em que as coisas vão acontecendo na tela. Uma experiência muito legal e diferente de tudo que se pode imaginar!

Apesar de não ter acompanhado muito os outros eventos (fui apenas a uma exposição de arte, e nem o tão falado balão Skywale eu vi pois ele apareceu apenas alguns dias devido ao clima) já que ou não coincidia com meu tempo disponível ou eu estava bem cansado, o que ouvi é que o festival foi um sucesso! Mais de 200 mil pessoas acompanharam os 26 eventos disponíveis nessas duas semanas, e não se falou em outra coisa na cidade.

O balanço que faço desses dias foi bastante positivo: tive a oportunidade de estar em contato com vários irlandeses (tanto voluntários que conversei menos do que esperava, quanto com o público em geral); mesmo sem planejar tive a oportunidade de acompanhar shows fantásticos que eu pagaria mais de 200 euros pra assistir (quem me conhece sabe o quanto eu sou fissurado em música, mas por algum motivo nunca fui muito de ir em shows) e ainda encontrei uma boa maneira de me manter ocupado aqui. Ver gente sendo simpática, antipática, pedindo pra tirar foto e tirando foto de mim!, e poder ajudar, seja com uma informação simples, ou segurando um guarda-chuva aqui ou uma bebida acolá, foi uma experiência muito válida. Meu plano pro futuro é, caso não encontre emprego part-time o que parece que não vai acontecer mesmo aqui, vou tentar achar outro trabalho voluntário, e ter ainda mais contato com pessoas e culltura irlandesas. Pra encerrar, um apanhado geral do Festival nesse vídeo e na galeria abaixo. Enjoy!

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