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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Busca de acomodação em Dublin (ou: A hora do pesadelo)


Assim que recebi a notícia de que iria trabalhar em Dublin, já soube que teria que me mudar pra lá, uma vez que não daria pra encarar 6 horas diárias de ônibus, e gastar modestos 20 euros todo dia pra isso não fazia o menor sentido. Tendo a empresa me dado um mês pra ajeitar minha vida é MESMO muito amor, eu resolvi começar a procurar efetivamente um novo canto com um pouco mais de duas semanas de antecedência. Meu plano no início foi tentar aproveitar a viagem semanal que faço à Dublin e, juntando o fato de que minhas aulas acabaram, usar o dia inteiro pra visitar casas.

Como a empresa fica bem afastada do centro (no norte da cidade quase na divisa com outro condado), meus requisitos eram, primeiramente, morar na rota dos poucos ônibus que vão pra lá, e ter pelo menos um supermercado perto, porque , morando em Galway com 4 supermercados a menos de 10 minutos da minha casa (sem falar no shopping em si), eu não queria perder essas regalias. Não fiz muita questão de morar no centro, por ainda não ser exatamente apaixonado por lá, assim como não queria nada do lado do trabalho porque fatalmente seria no fim do mundo sem nada em volta. Além disso, não poderia custar os olhos da cara, pois mesmo sabendo que jamais pagaria o que pagava em Galway, ainda que trabalhando, eu não tinha virado nenhum milionário.

Comecei as buscas no daft.ie, e após um bom esforço tentando encaixar meus requisitos, achei algumas opções. Fiz as buscas antes do fim de semana com a intenção de entrar em contato entre sábado e domingo (pra visitar na segunda), mas aí é aquela coisa: vários quartos já tinham sido ocupados, e depois gastei mais tempo fazendo a mesma busca de novo.

Ao iniciar os contatos, já começaram as complicações, como: mesmo com anúncio no ar, muitos já estavam alugados; pessoas pedindo pra ligar de novo depois; responsáveis pelo imóvel indisponíveis no período da manhã e tarde na segunda; etc. E com isso não sobrou quase nada. Na verdade sobrou um. O rapaz até quis cancelar (depois eu entendi o porquê), mas já que eu iria em Dublin de qualquer jeito, ele acabou concordando.

Na própria segunda, dei uma última pesquisada, e consegui marcar uma visita no final da tarde em um flat num preço super ok (sequer tinha considerado morar sozinho, mas o preço era quase o mesmo de um quarto, e a localização era bem boa). Lá fui eu cruzar o país de novo e, após ainda precisar pegar um ônibus em Dublin por uns 40 minutos e andar por mais de quinze minutos debaixo de chuva e vento infernais, cheguei na casa. Fui atendido por dois senhores alemães extremamente simpáticos (um dos poucos que sabiam onde MG fica, e entraram num assunto sobre os minerais no estado, e como Minas era possivelmente conectado à África na época da pangeia, e tal). Mas o problema é que o quarto já estava pré reservado - ironia - pra um brasileiro. A casa não era muito boa, mas era a única que vi com suíte, e os housemates pareciam mesmo legais. Ficaram de me deixar "na reserva" caso o brasileiro desistisse, mas eles já haviam recontactado o cara na manhã daquele dia, e o sujeito já havia confirmado.

Saindo de lá e ficando ensopado de novo, fui correndo pro tal flat. Na verdade eu tentei correr, e até chegaria no lugar a tempo, se não fosse o ônibus ter demorado uma eternidade, ao contrário do que exibia o painel de horários e você achando que isso só acontece no Brasil. Depois de uns 40 minutos de espera, peguei o bus e cheguei no destino. Fiquei rodando tentando achar o local (às vezes eles são designados com nomes de "condomínios" ou prédios, e essas informações não são fáceis de achar. Se você não tem a localização exata nem o santo Google Maps te salva!). Após perguntar um bocado, achei o lugar. De porta fechada e sem campainha aparente, liguei pro senhor do anúncio e ele me avisou que o flat já não estava mais disponível. Que alegria! só que não!

Como não sabia qual seria o resultado dessa novela, eu já tinha deixado uma visita agendada pra terça. Meu vacilo foi não ter arrumado uma forma de passar a noite em Dublin (na verdade eu tinha fé de resolver tudo na segunda), daí após meu curso fiz a rota doida de ir pra Galway, dormir e voltar pra Dublin de novo (lembrando mais uma vez que são quase 6 horas de ônibus nessa brincadeira). Tive esperança dessa opção de terça rolar porque seria só pra dividir um apartamento com uma menina, à qual eu já havia enviado um email falando sobre mim e minha situação, e tentando ser o mais simpático possível. O apartamento era a 20 minutos andando do "centrão" (pois é, eu já tava atirando pra todo lado), e lá estava eu após a nova viagem, esperando a moça conforme combinamos. O problema é que bati campainha, liguei, mandei mensagem e até email nos 30 minutos em que fiquei na porta esperando, e até agora a "lady" não deu sinal de vida! Após algumas tentativas de ligação, a "madame" ainda desligou o telefone! Fiquei muito, MUITO puto! Como uma pessoa pode fazer uma coisa dessas, ainda mais sabendo que eu vinha de outra cidade, e a princípio SÓ pra aquela visita! Ah, pessoas...

O que acabou me restando depois disso foi passar uma tarde inteira em um MC Donalds, tentando achar mais casas (a essas horas usando até grupos de Facebook, composto por inúmeros brasileiros oferecendo vagas de cama quase no preço do que eu queria pagar em um quarto!). Após algumas tentativas fracassadas e já entrando em desespero, acabei lembrando de um anúncio em que o responsável me pediu pra ligar e tentar confirmar um horário há alguns dias atrás. O anúncio permanecia ativo após alguns dias aparentemente por dois motivos: o cara não tinha muita disponibilidade, e o anúncio tinha pouca descrição e não tinha foto (o que significava, 1: o lugar estaria caindo aos pedaços e a pessoa não queria mostrar isso ou 2: a pessoa era só avessa à tecnologia mesmo).

Após chegar no lugar - uma região bem residencial e até então a mais próxima do meu trabalho (20 minutos de ônibus) - e ser finalmente recebido sem problemas, pude perceber que a segunda opção fazia mais sentido. A casa era super bem organizada, e com uma aparência de "nova" que a minha em Galway não passava nem perto. O rapaz que me recebeu de roupão (?!) era o mais antigo morador da casa, e responsável por tudo, já que segundo ele o landlord era bastante difícil de se contactar, além de complicado de lidar. Ah, e ele é da Moldávia sim, eu mal sabia se isso era um país, como você, provavelmente.

O quarto era um double bem grande, pois estavam vivendo um casal e um bebê lá (com direito à berço e tudo mais). O preço era ok, e mesmo que somando com as contas mensais daria mais do que eu gasto por mês em Galway com tudo, não dava mais pra encarar as coisas com olhar de estudante e desempregado, e pelo retrospecto das buscas, preferi deixar claro que o quarto me interessava sim. O supermercado não era exatamente do lado, mas até havia um shopping a uns 30 minutos de lá, e pelo conjunto da obra não me parecia ruim. Somando-se ao fato de que eu não tinha concorrência de pessoas interessadas, parecia que tudo conspirava pra dar finalmente certo.
Conseguir adiar o pagamento do depósito até a minha próxima ida a Dublin, e assim, fechei o negócio. Logo, entre mortos e feridos, eu tinha uma nova casa, e um problema a menos pra resolver!

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