Continuando a história que começa aqui.
Após madrugarmos pra pegar o trem em direção a Veneza, foram por volta de 3 horas de viagem até o destino. Não sei se por conta do sono que estávamos, ou do trajeto em si, mas acabei não vendo muito glamour nem paisagens estonteantes pelo pouco que consegui observar enquanto estava acordado fazendo essa viagem de trem.
Assim, chegamos em Veneza por volta das 9 e pouco da manhã, e dessa vez sem ninguém pra nos receber. A estação que descemos, bem como a "parte da cidade" em que nossa acomodação ficava, se chama Veneza Mestre. Pra quem não conhece, uma pequena explicação: Veneza é basicamente dividida entre a parte "famosa" e a parte mais industrial e residencial (fora da rota das águas e que simplesmente se parece com uma cidade comum). A grande jogada é que grande parte das pessoas que viajam pra Veneza e é pobre não quer gastar muita grana, normalmente se hospeda em Veneza Mestre, que fica a poucos minutos de ônibus da parte principal da cidade. Ônibus esses que possuem uma frequência muito grande. No nosso caso, o B&B ficava a um minuto da parada de ônibus para ir e vir de Veneza "não-Mestre", e levávamos por volta de 10 minutos de ônibus pra chegar até a parte central. Nada mal, não é?
Como estava dizendo, chegamos pela manhã na estação de trem, e após alguns longos minutos tentando encontrar uma wifi grátis pra pegar as coordenadas da acomodação (sem sucesso, tendo que ativar meu 3G em roaming e morrendo de medo dos meus créditos acabarem), conseguimos chegar lá sem muito esforço, pois conforme escolhido quando planejamos, o B&B ficava a menos de 5 minutos da estação.
Obviamente o lugar não tinha nem de longe as mordomias que tivemos na casa do nosso amigo em Como, mas colocando na balança a organização, a distância até a parte principal e até o café da manhã (bastante justo pelo que foi pago), gostei bastante do B&B Col Moschin, e achei uma boa opção de custo-benefício. Chegamos por volta de 2 horas antes do horário inicial de check-in, mas nos permitiram entrar e ajeitar nossas coisas sem problemas.
Depois disso e de tomar um generoso café da manhã porque ninguém é de ferro, compramos os tickets de ônibus para os 2 dias que passaríamos lá, e fomos desbravar Veneza. O ônibus chega próximo a Estação Santa Lucia, a parada de trem dessa região de Veneza, enorme e bem bonita. Bastou botar o pé pra fora do ônibus pra se iniciarem os momentos "Uau!". Veneza é uma cidade linda e com certeza única, diferente de tudo que já vi e provavelmente vou ver na vida.
Em boa parte da localização principal de Veneza simplesmente não existem ruas ou avenidas. É tudo água! Assim, os meios de locomoção são mesmo os barcos, sendo possível encontrar lá, além dos particulares, "barcos-táxis", as famosas gôndolas (basicamente usadas pra passeios curtos e com propósitos "românticos"), e o Vaporetto, que em linhas gerais seria o popular "busão".
Quando iniciamos o planejamento, fiquei um pouco relutante em gastar por volta de 30 euros em um ticket de 48h pra ter acesso ilimitado ao Vaporetto, mas chegando lá percebi que seria simplesmente impossível me movimentar pela cidade sem ele. Logo, comprarmos o tal ticket e já fomos pra primeira estação. Essas estações, que estão na beira do Gran Canal (basicamente a "avenida principal" de Veneza), são onde estão disponíveis várias linhas do barco, cada uma seguindo em um sentido, e com diferentes paradas e às vezes até destinos (mas todos pré-fixados, como ônibus mesmo).
Outro ponto imprescindível é comprar um mapa. É muito simples se perder em um lugar que não se conhece, mas em Veneza, onde a parte de terra é basicamente composta de corredores que às vezes parecem labirintos, caminhar sem ter como se guiar lá é tarefa praticamente impossível. Logo, mesmo amargando 3 euros no mapa oficial vendido nas cabines onde se compram os tickets pro Vaporetto, não tivemos muita escolha.
Pegamos o primeiro Vaporetto na direção contrária à correta (ele estava no penúltimo ponto e fomos pro último dah!), visitamos um mercadinho, e pegamos outro na direção certa. Sentamos na parte exterior e não-coberta dele (recomendo, pois mesmo podendo ter o sol na cara, é possível ver tudo mais de perto) e fomos rumo à "Piazza di San Marco", um dos famosos pontos turísticos em Veneza. Foram por volta de 20 minutos, onde pudemos andar por uma parte considerável do Gran Canal, e consequentemente ver do barco boa parte da cidade, que é bonita ao ponto de não importar de que ou de onde se tira foto, sempre fica legal! O clima estava maravilhoso, e deu pra celebrar o calor novamente.
Chegando na Praça de São Marcos, vimos uma multidão de gente. A praça é enorme, cercada por museus, cafés, e as famosas Torre do Relógio (que marca além das horas, o dia, a fase da lua e o signo do zodíaco correspondente) e a Basílica de São Marcos. Após darmos uma volta ao longo da praça, decidimos desbravar os corredores de Veneza além da praça, que a essa hora era possível ouvir uma sinfonia de violinos vinda de um restaurante ao redor é muito amor.
Gastamos intermináveis horas andando ao redor das lojas de souvenirs que meus amigos fizeram questão de visitar (nem tudo são flores ao se viajar em grupo, né?), e depois de um tempo procuramos algo simples pra comer. Encontramos um cantinho em uma "viela" e ali mesmo tivemos nosso almoço enquanto assistíamos as gôndolas passando. Depois de mais uma volta pelas lojas, retornamos à Praça pra tentar visitar algo.
No meu roteiro estavam incluso locais como o Campanário e o Palácio dos Dodges (ambos localizados na praça), mas por um misto de ter que pegar fila, desembolsar uma graninha e um pouco de desinteresse dos meus amigos, acabamos visitando apenas a Basílica, que era de graça e não tinha uma fila enorme naquele momento. Não é preciso dizer que o interior é muito bonito, e novamente a riqueza de detalhes é de deixar qualquer um de queixo caído.
Após sairmos de lá, sentamos à beira-mar numa espécie de "estacionamento de gôndolas" (e não, não fizemos esse passeio porque não sou obrigado a pagar 80 euros por 40 minutos de entretenimento e ter que vender um rim pra isso) e engatamos um longo assunto sobre religião, especificamente Cristianismo. Como já disse, meus amigos são coreanos, e no país deles religiões que seguem essa "linha" não são extremamente populares, ainda que um deles seja de igreja protestante. Ou seja, tive mais um daqueles momentos de diferenças culturais que tanto gosto de observar e, mesmo não sendo seguidor do Catolicismo, acabei explicando boa parte dos conceitos que aprendemos no Brasil, maior país católico do mundo. Me senti meio que na obrigação de compartilhar essas informações, pois tendo visitado (e ainda por visitar) tantas igrejas Itália afora, muita coisa pra mim fazia sentido, mas aparentemente pra eles não. Além disso, discussões filosóficas do tipo "Por que as pessoas acreditam em Deus?" ao cair da tarde enquanto brincava com água em Veneza não é algo que eu chamaria de ruim, hehe.
Depois disso, demos uma passada pela tantas vezes mal compreendida Ponte dos Suspiros (o contexto diz que não tem nada de romântico), resolvemos começar a pensar em um lugar pra jantar e voltar pra casa, pois o cansaço por não ter dormido direito na última noite já batia. Acabamos descobrindo que o sentido de volta do Gran Canal estava parcialmente interditado, e teríamos que andar um bocado até a próxima estação livre. Acabou não sendo uma experiência de todo ruim, pois encontramos um pequeno museu de instrumentos musicais super legal no caminho, assim como um grupo de senhoras e senhores dançando músicas típicas em trajes elegantes numa praça.
Dança típica no final da tarde em uma pracinha em Veneza: <3 |
Após algum tempinho de Vaporetto, chegamos na parada da estação de trem (Santa Lucia) e fomos procurar algum lugar pra jantar. Um dos meus amigos sugeriu procurarmos um restaurante super recomendado em um blog coreano, e iniciamos uma jornada de mais de uma hora literalmente andando de cima pra baixo pelos corredores e pontes de Veneza, tentando encontrar o tal lugar. Passamos diversas vezes nos mesmos locais, e mesmo pedindo informações não conseguíamos localizá-lo. Após um longo tempo, cansados e morrendo de fome, encontramos o restaurante: F-E-C-H-A-D-O! Lembram quando citei do restaurante recomendado pelo meu amigo italiano que também estava fechado em Como? Pois é, aguarde que tem mais.
Devoramos nossas comidas no primeiro restaurante mais ok que achamos (eu pedi uma pizza e veio algo enooooorme!), e ainda ganhamos uma taça de vinho branco for free. Fomos pra estação pegar o ônibus de volta e encerramos o dia não muito tarde.
Nosso segundo dia começou relativamente cedo, e depois de um bate-papo com dois russos que conhecemos ao tomar café-da-manhã no B&B e levarmos um leve esporro porque só poderíamos permanecer no local por 15 minutos pra não ocupar lugar, partimos em direção à Veneza, dessa vez com foco no outro lado do Gran Canal, que não visitamos no dia anterior. Para isso, e juntando o útil ao agradável, pegamos o Vaporetto rumo à Ponte Rialto, um dos cartões postais de Veneza. O triste é que metade da ponte estava em reforma e não deu pra vê-la em sua totalidade. Aliás, um ponto interessante nessa questão de monumentos que estavam sendo reformados pelos lugares que visitamos (inclusive Milão) é que eles sempre colocam um pano pra cobrir o local que está sendo reformado, mas esse pano sempre tem o "desenho" original da área que está sendo trabalhada, ou seja, pelo menos de longe você sequer consegue perceber que não é de fato o monumento completo. Ideia bem legal essa.
Cruzando a ponte, fomos ao lado oposto, também lotado de lojas de souvenir, especialmente com produtos de Murano, uma das ilhas pertencentes ao "complexo" de Veneza, muito famosa por seus objetos feitos com vidros coloridos e modelados. Nesse momento resolvemos seguir uma das dicas que inseri no meu roteiro: se perder por Veneza. Por mais que isso pareça conselho fútil de patricinha blogueira de moda, realmente é algo muito interessante de se fazer, especialmente quando você já entende a "mecânica" da cidade. Obviamente munidos do mapa, nos enfiamos pelos corredores afora e, apesar de ter o objetivo de chegar na "Galleria Della Academia" (outro ponto turístico), andamos por mais de meia hora tentando apenas manter a direção correta. Isso nos permitiu passar por vários locais bem interessantes e mais escondidos, inclusive uma área mais residencial ainda que bem próxima da "muvuca" central, e um "barco-sacolão", típica coisa só possível de se ver lá.
Ao chegarmos na Galleria, a surpresa: sendo segunda-feira, a entrada era permitida apenas até o meio-dia, com tickets comprados até meia hora antes. Estávamos 15 minutos atrasados #Chateado. Com isso, tentamos nos reprogramar e, enquanto nossa amiga queria visitar o museu Peggy Guggenhein, decidi optar por outro item da minha lista: a igreja Santa Maria della Salute.
Após alguns bons minutos andando, encontramos uma vista bem bonita (já que a igreja ficava com sua entrada virada para o Gran Canal) e outra novidade: a igreja estava fechada para visitação no "horário do almoço" e só estaria aberta dali a uma hora. Desisti. Apenas. #Chateado².
Após uma visita a uma "kebaberia" super em conta pra almoçar, reencontramos nossa amiga, mas dessa vez era meu amigo que queria ir em direção à Lido, outra ilha onde ocorria uma Mostra Internacional de Cinema de Veneza. Pegamos o Vaporetto de novo, e após quase meia hora chegamos lá. Essa ilha já tem um "trânsito" de verdade, com carros e ônibus, mas a verdade é que eu não achava muito prudente gastar um pedaço dos meus 2 dias em Veneza indo assistir filme. Dessa forma, deixamos nosso amigo por lá, com a promessa de nos encontrarmos mais tarde, e nos direcionamos para as ilhas Murano e Burano.
Após mais quase meia hora, chegamos em Murano. Apesar de bastante parecida em estrutura com a parte central de Veneza, ela é bem menos movimentada, e as construções encontradas são basicamente casas dos moradores locais. Existe a famosa fábrica de vidro onde os objetos vendidos são criados, mas confesso que não aguçou muito minha curiosidade, então basicamente parei pra tomar um gelato sempre há tempo pra mais um gelato, passamos em uma igreja simples e demos uma volta pela ilha. Tivemos um fato engraçado, pois as ilhas fora da parte central de Veneza não são tão detalhadas no mapa, então eu e minha amiga basicamente nos perdemos em uma pequena rua que desaguava no mar. Encontramos dois pescadores que não falavam inglês, e só sabiam nos apontar onde era o aeroporto. Detalhe: era em outra ilha, além do mar. Amigo, ainda não aprendi a caminhar sobre as águas.
Já tinha lido que as visitas a essas ilhas não valiam muito a pena, pois não tinham nada demais, e foi exatamente essa a minha sensação em Murano: nada em especial. Aproveitando que já estávamos no meio do caminho, partimos em direção a Burano, com a intenção de vermos algo mais interessante.
Burano é ainda menor que Murano, e na verdade não tem nada além de casas, e pouquíssimos restaurantes e lojas. O legal, entretanto, é que todas as casas têm paredes coloridas, o que dá um contraste bem legal, e deixa a cidade com um ar "fofinho". Cruzamos a ilha até uma parte onde se via o mar, e curtimos o pôr do sol com uma paisagem maravilhosa (tentamos tirar foto mais foi meio fail).
Tentando |
Depois de corrermos um pouco pra pegar o próximo Vaporetto, já que nessas ilhas a frequência deles é menor (por volta de 30 em 30 minutos), precisamos fazer baldeação pra pegar outro, e essa viagem toda de volta pra parte central (após voltar pra Lido e pegar nosso amigo) nos tomou mais de uma hora. Isso enfim saciou meu espírito
De volta a Veneza, fomos ao restaurante fechado do dia anterior (aberto E com fila dessa vez), e conseguimos comer relativamente bem. No caminho de volta pra pegar o ônibus e ir pra casa, minha amiga encontrou um real (?!) em frente a estação central do metrô. O dia terminou com a sensação de ter aproveitado bastante dessa cidade incrível, e apesar do pouco tempo, tive a sensação de ter conhecido boa parte dela, indo inclusive a pontos que não considerava antes. No dia seguinte, fizemos as malas novamente, e embarcamos pra mais 3 dias cheios de altos e baixos (especialmente pra mim) em Roma. É o que teremos no próximo post!