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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Buscando novos rumos (Parte 2: A caçada por emprego)


Continuando o relato dos meus últimos grandes acontecimentos em terras irlandesas que começou aqui. Esse também é um longo post de uma jornada, mas acho que vale a pena acompanhar. :)

Foco em trabalho também nunca foi uma prioridade no meu intercâmbio. Não sou nenhum ryco afortunado, mas como também citei nos posts iniciais, me programei pra passar um tempo fora sem precisar me preocupar com esse ponto pois nesse caso sou muito metódico, e do contrário eu nem viria. No entanto, sempre considerei que trabalhar fosse uma opção válida e, uma vez que o visto aqui permite o trabalho por 20 horas semanais (além dos períodos full-time), fosse pra conseguir mais grana, ter mais possibilidade de contato com os locais, ou simplesmente ter os dias ocupados, por que não tentar, né?

Assim que meu processo do visto ficou pronto o que levou mais de um mês, porque eu também não tive lá muita pressa, já estavam abertas as inscrições pro trabalho voluntário que realizei aqui. Dessa forma, me inscrevi lá, mas ainda assim, num novo dia de ócio pela internet, resolvi fazer duas coisas que já havia pensado há um tempo: atualizar meu perfil no LinkedIn e meu currículo, ambos em inglês.

Desde o primeiro momento resolvi tentar acreditar que fosse possível encontrar um emprego part-time na minha área. E decidi fazer isso também por dois motivos: (1) já tinha lido casos de pessoas com o mesmo perfil que o meu que conseguiram emprego dessa forma (ainda que tivesse sido apenas em Dublin, e ainda que em alguns casos o trabalho fosse sem salário), e (2) não tenho nenhuma experiência e a menor aptidão para os empregos normalmente ofertados como part-time aqui, como garçom, cozinheiro, ajudante de cozinha ou mesmo segurando placas nas ruas. Deixando claro que não tenho o menor preconceito com esse tipo de emprego, que aliás é uma mentalidade muito mais brasileira, já que o que muitas pessoas chamam de "subemprego", aqui sequer tem esse nome. A justificativa é que, unindo o fato de não ter urgência para trabalhar à minha COMPLETA falta de jeito para trabalhos manuais e braçais, preferi não considerá-los.

Depois de muitas horas e horas de ajustes no meu CV porque pra ficar minimamente aceitável esse tipo de coisa dá um trabalho danado, ainda mais em inglês, a obra estava criada. O próximo passo do meu plano era tentar me candidatar para vagas de emprego direto com as empresas, e tentar de alguma maneira uma vaga de meio período.

Abrindo um parêntese: apesar de ter citado no início do texto, não sei se todo mundo que acompanha o blog conhece o LinkedIn, então preferi criar essa observação aqui. O LinkedIn funciona como uma rede social profissional, onde pessoas descrevem suas experiências e conhecimentos (CV), e se conectam a outras pessoas e empresas com o intuito meramente profissional lá não rola "bom dia, faces" nem coisas do tipo "que Agosto traga tudo de bom". Também é possível disponibilizar e se candidatar a vagas de emprego, o que acaba centralizando o processo e evitando de ter que criar 300 cadastros em sites diferentes pra preencher as mesmas informações. Ele é particularmente usado pra vagas de TI, mas isso não é exclusivo. Outra curiosidade é que ele é MUITO usado pelas empresas aqui na Irlanda, muito mais do que no Brasil inclusive. Parêntese fechado.

A forma mais efetiva de encontrar vagas de TI ainda é pela internet duh!, então lá fui eu visitar alguns sites de vagas, tanto os conhecidos na Irlanda (como o jobs.ie) ou mundialmente divulgados (como o indeed), além do já citado LinkedIn. Qual foi a minha surpresa ao ver que havia UM MAR de oportunidades, especialmente cargos técnicos, por toda a Irlanda e especialmente Dublin, pelos motivos óbvios. Por mais que a minha intenção ainda no Brasil fosse de mudar um pouco minha área de atuação, a quantidade de vagas aqui e o período que não seria integral acabaram me convencendo, então resolvi dar uma chance e me candidatei a algumas.

Esse dia (ou noite) foi particularmente cansativo, pois devo ter visitado pelo menos uns 10 sites, e fuçando incontáveis vagas das últimas semanas e meses em todos eles. Por conta disso, acabei decidindo não ir à aula no dia seguinte, mas também não consegui descansar muito. Meu telefone e e-mail "pipocaram" durante todo o dia seguinte, principalmente por contato de agências de recrutamento (coisa muito comum aqui, mas que eu não sabia e não havia percebido que também cadastrei em vagas delas). Apesar de "simples" não ser a palavra que melhor define meu entendimento dos irlandeses no telefone, consegui compreender o que queriam, e a avassaladora maioria, assim como via e-mails, questionava sobre o visto de trabalho que me permitiria trabalhar full-time, e que todos sabemos que não tenho.

Ainda assim, após a sugestão de alguns recrutadores para algumas melhorias no meu currículo que foram prontamente atendidas, fui inscrito por eles para algumas vagas de emprego. E sim, eram vagas full-time! Caso se interessassem por mim, essas empresas estariam dispostas a participar do processo de "patrocínio de visto", no qual o empregado fica vinculado ao empregador por pelo menos um ano, e é tão desburocratizado que a pessoa pode mudar o visto e começar a trabalhar aqui com quase nenhuma complicação! Não precisa deixar o país, é necessário fazer o processo oficial que não costuma demorar mais que um mês, e depois disso a pessoa está registrada legalmente com um trabalho na Irlanda. Apesar de não ser muito complexo, esse é um assunto longo e um pouquinho detalhado (embora bastante simplificado pelo governo para áreas tratadas denominadas críticas, como TI), e podem ser encontradas maiores informações aqui.

Levei um choque, pois jamais tinha cogitado esse tipo de coisa na minha cabeça! Deixar de ser intercambista para ser um trabalhador regular na Irlanda, correndo o risco de tão cedo voltar pro meu país era algo definitivamente inimaginável antes. De qualquer forma resolvi tentar, e poucos dias depois recebi a grande notícia: duas empresas (uma de Galway e uma de Limerick) haviam se interessado pelo meu currículo e queriam fazer uma entrevista por telefone! No melhor estilo "quem está na chuva é pra se molhar", aceitei os convites, e passei alguns dias me preparando para as entrevistas, que possuem a fama de serem bastante difíceis, mas também fui bem orientado pelos recrutadores.

No dia da primeira entrevista eu estava bastante nervoso, e no exato horário marcado me ligaram. Eram três pessoas (se não me falhe a memória um gestor e dois membros técnicos da equipe que eu supostamente trabalharia), e sem muita cerimônia "dispararam" diversas perguntas técnicas, às quais se tornam bem mais complicadas de responder quando são feitas em inglês, e por telefone! Mesmo tendo me preparado bastante, senti que derrapei em algumas, mas consegui me explicar bem em outras. Desliguei o telefone e fiquei no aguardo do retorno.

Ainda antes do feedback da primeira, dias depois tive a entrevista da segunda empresa. Esse processo é particularmente interessante aqui na Irlanda, porque as empresas querem sempre saber o quanto você conhece sobre elas, e no caso dessa que ficava em outra cidade, até o que sabia sobre o local fui questionado (mas até isso já me foi antecipado pelo recrutador que poderia acontecer). Apesar de conseguir compreender mais os entrevistadores (dois dessa vez), ele me disse algo no início que inconscientemente acho que usei pra me auto-sabotar: "Não tem problema se você não responder tudo...". Eu me atrapalhei COMPLETAMENTE e simplesmente não conseguia responder as perguntas direito. Foi um misto de monossilabismo, pausas dramáticas e "sorries" que me deixaram até envergonhado. Conclusão: dessa empresa eu não recebi retorno nenhum até hoje! :(

Alguns dias depois recebi o retorno da primeira empresa, de Galway: haviam me selecionado para um teste técnico prático! O estranho é que quando fui explicado sobre o processo, essa etapa não foi citada, mas minha impressão é que decidiram me avaliar tecnicamente mais na prática do que na teoria. Aliás, mesmo no período em que tive a oportunidade de trabalhar "do lado de lá" (contratando), minha avaliação é que o desempenho prático em cargos técnicos conta muito mais do que apenas base teórica. Não que ela não seja importante, mas especificamente nessa área de atuação, é possível perceber a bagagem teórica mesmo através de atividades práticas.

Anyway, após alguns desencontros (o cara que iria me enviar o teste no dia marcado não mandou, e depois justificou com uns problemas pessoais na família), recebi o bendito. Foram enviados via e-mail alguns "exercícios" a serem resolvidos e enviados em 24 horas, os quais a maior parte eu conseguiria encontrar a resposta com 2 minutos de Google! Fiquei sem saber como começar, e me senti extremamente desmotivado, pois novamente discordava do modelo de avaliação da empresa! Entretanto, percebi naquele instante algo que estava sentindo desde que comecei a estudar pra primeira entrevista, e meio que simbolizava um marco na minha carreira: o conteúdo técnico de desenvolvimento de software não me despertava mais interesse mesmo! Nos dias em que estive estudando, era notável pra mim mesmo que esse tema não me traz a mesma dedicação de alguns anos atrás, mas preferi focar na ideia de que conseguindo um emprego desses eu poderia me "mostrar" na empresa, e assim conseguir alcançar os cargos de liderança/gestão que são (e eram, no Brasil) meu objetivo. Sobre esses assuntos sim, volta e meia me pego lendo e refletindo, e acredito que unindo minhas habilidades pessoais com a experiência heterogênea que possuo, poderia atuar da maneira que desejo.

Conclusão: depois de me questionar por longas horas, decidi entrar em contato com a agência e me "auto-excluir" do processo, explicando que eu estava no aguardo de uma bolsa de estudos, e que o resultado disso poderia afetar na minha decisão de optar por trabalhar naquele momento (o que não era mentira). Dessa forma, pela segunda vez na verdade foi a primeira, porque isso aconteceu antes, eu via a possibilidade de uma alteração enorme na minha vida ir embora. Mas na verdade isso trouxe duas coisas boas: primeiro, o alívio de não precisar correr o risco de me ver preso em um cargo que poderia não me fazer feliz por um ano somando isso ao frio que creio que vai se iniciar logo, eu iria pular da primeira ponte que visse na frente; e segundo foi ver, mais recentemente, que vagas técnicas não são a única opção de oportunidades em TI aqui. Cargos com atividades que unam a área técnica com a área de negócios também são possíveis e disponíveis na Irlanda (e era essa minha PRINCIPAL atuação no meu último trabalho), ainda que com uma frequência um pouco menor, e com menos empresas interessadas em patrocinar o visto, mas muito mais "factíveis" pra mim nesse momento ainda que demandem uma carga de conhecimento na língua que não tenho 100% de certeza que tenho.

Assim, fica oficialmente registrado que estou tentando virar um humilde trabalhador aqui na Irlanda atualmente. Inclusive com algumas coisas em estágio inicial de análise, mas que pretendo focar mais depois de realizar minha viagem, que será em menos de duas semanas. Não quero criar nenhuma expectativa, e minha cabeça agora só fica o desejo de que Setembro o futuro traga tudo de bom!

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