Provando para as inimigas os que acham que eu e/ou esse blog morreu, estamos (eu e o blog) aqui de volta, tirando a poeira e com mais história pra contar. A ideia para esse e os próximos posts é contar da minha jornada de ida, chegada e estadia no Brasil, o que aconteceu nas últimas semanas. Se prepare, e vem comigo!
Assim que minha chefe disse ser OK que eu comprasse as passagens para o Brasil, e que pudesse aproveitar o único período no calendário irlandês em que é possível emendar dois feriados (perto do Natal também dá, mas eu teria que esperar quase um ano!), decidi manter mais ou menos o período que faria usando as passagens que perdi e viajar em Março. Na verdade ainda que eu estivesse usando dois feriados - aqui não existe sexta-feira santa como feriado, mas há um feriado nacional na segunda subsequente -, viajando mesmo eu só usaria o de Saint Patrick's Day, já que no da segunda eu usaria pra dormir e me recuperar da viagem (algo que se mostrou MUITO bem pensado).
Dentro das minhas pesquisas, o mais barato acabou sendo comprar a passagem com destino ao Brasil saindo da Bélgica. Logo, como não planejava levar mala mesmo (sempre viajo só de mochila), a ideia foi ir de Ryanair até Bruxelas, e fazer o mesmo percurso pra voltar pra Dublin. Economizei quase metade do valor que pagaria saindo direto de Dublin, e assim já em Janeiro eu tinha as passagens Bruxelas-Madri-SP-BH e BH-SP-Londres-Bruxelas já garantidas. A questão é que o voo sairia numa terça-feira, e daí decidi aproveitar pra sair de Dublin e passar o fim de semana e os dias até a viagem conhecendo a Bélgica, e uma vez que não teria tanta coisa assim pra fazer lá por 4 dias, também dar um pulo em Amsterdã, indo de trem.
Com passagens pra Bélgica (e dentro da Bélgica) e pra Amsterdã compradas, ainda resolvi incluir mais um item no pacote. Em um dia de completa insônia, enquanto ouvia minha atual
banda favorita no Spotify (ouça
essa versão de Fast Car ou
essa de Hello e tente não se apaixonar!), vi que eles (uma banda americana) estavam em turnê pela Europa, e estariam em Dublin na noite anterior à minha ida pra Bruxelas! Não pensei duas vezes e também comprei o ingresso. O problema é que isso acarretaria em alguns percalços.
O ingresso que comprei indicava "assentos não reservados" e fiquei imaginando como teria assentos em um show de música, mas essa seria a única maneira de ir em um show E DEPOIS ir pro aeroporto, uma vez que minha viagem pra Bruxelas era no sábado às 6:30, e eu já tinha decidido dormir por lá, carregando mochila e tudo mais. Mas era isso, o plano estava feito.
Assim, na bendita sexta, saí de casa com uma mochila com poucas mudas de roupas e um bocado de presentes pra família e amigos e fui trabalhar (!!!). Depois do expediente, ganhei uma carona de um colega de trabalho pros lados do centro e cheguei no local do show. De fato havia lugar pra sentar - era na verdade um teatro, daqueles com vários níveis superiores -, e dei graças a Deus, porque minha mochila estava estufada de tanta coisa e seria impossível ficar de pé. Outra coisa que me impressionou foi a quantidade de brasileiros no local, mas isso ainda sempre me surpreende em Dublin no matter what!
Depois do show (que terminou por volta das 23hs), peguei um ônibus com direção ao aeroporto, onde todos diziam que era só procurar o McDonalds e se esparramar por um de seus sofás por lá. Foi o que fiz, ou melhor, tentei fazer. Até comprei um sanduíche e fiz uma hora lá, mas pouco tempo depois uma atendente veio dizer que aquela área seria fechada, expulsando a mim e a outros "sem teto" que inclusive já dormiam por lá. Procurei umas cadeiras "menos desconfortáveis", mas a verdade é que dormi cronometrados 15 minutos aquela noite, já que somando-se ao desconforto a luz e o barulho que volta e meia surgia no local, eu simplesmente não consegui.
Faltando pouco mais de uma hora e meia pro voo, fiz a checagem do passaporte (procedimento da Ryanair para não-europeus) e já fui logo passar pelos detectores de segurança, e comer alguma bobeira em seguida. Só poucos minutos antes do embarque comecei a ter sono pra valer, e dormi pouco menos de 2 horas no período do voo até Bruxelas. Cheguei lá com a maior fila de imigração que já peguei, e gastei mais de meia hora até chegar minha vez e receber o carimbo no passaporte em 30 segundos #SadButTrue.
A partir daí comecei a ter um problema no país, que me perseguiu até os últimos momentos: boa parte dos lugares (e pessoas), mesmo em pontos turísticos e de alta movimentação, é difícil conseguir se comunicar em inglês! Fui direto comprar os tickets pro trem que sai do aeroporto e vai pra parte central da cidade mas, ainda que na "máquina" houvesse opção em inglês, eu inseria meu cartão da Irlanda (que sempre uso quando viajo) no leitor, e aparecia uma mensagem numa língua que acredito ser holandês. ACHO que era algum tipo de erro, e após tentar em outras máquinas, acabei indo comprar na famosa "boca do caixa" mesmo. Ao sair haviam catracas para os trem do lado direto e esquerdo de onde comprei e nenhuma sinalização de qual ia pra onde (pelo menos não fácil de ser reconhecida). Escolhi uma ao léu e fui. Alguns andares abaixo haviam trens parados dos dois lados e de novo nenhuma indicação de pra onde eles iriam. Imagino que seja a mesma rota, uma vez que estavam parados na estação do aeroporto, mas na hora preferi perguntar a um guarda que corria, e me apontou o trem certo.
Com o pressentimento de que minha primeira viagem sozinho me renderia dor de cabeça, cheguei na parte central da cidade após uns 20 minutos. Eu havia alugado um quarto pelo Airbnb numa região muito próxima à praça central de Bruxelas, e por um preço super em conta. Sabia que não precisaria caminhar muito a partir da estação, mas até o Google Maps me enrolou e fiquei andando em círculos por um tempo. Após finalmente chegar à rua que eu queria, veio outro drama: eu simplesmente não conseguia achar o número do prédio! Procurando pelo 50 eu vi 40, 44, 46, 48, 52, 54 e qualquer outra combinação, menos o que eu precisava. O que você pensa numa situação dessas? Vou pedir ajuda, certo? Seria ótimo, se todo mundo falasse inglês, e não francês!
A rua era mesmo na região central, e cheia de restaurantes. Pedi ajuda à 3 garçons, daqueles que ficam parados na porta convidando clientes pra entrar. O primeiro tentava me explicar tudo em francês, mas não dá gente, não é MESMO como espanhol ou italiano! Apenas um deles fala um inglês mais ou menos, e me indicou pro início da rua, onde claro a numeração era perto de 10. Acabei retornando ao primeiro que me ajudou, e com boa vontade ele veio com seu bloco de pedidos escrevendo os números e apontando as lojas ao redor, até que por dedução achamos um (entre o 48 e o 52, mas não estava mesmo escrito 50!), onde havia um interfone com descrições dos nomes dos moradores de cada apartamento. Resolvido? Nada! Nós simplesmente não achamos o nome do tal cara que me alugou o quarto! Aparentemente eles não usam numeração dos apartamentos, já que eu não tinha essa informação pelo Airbnb, e no interfone tinha só papel com os nomes mesmo...
Enquanto checávamos os nomes, uma pessoa saiu do prédio. Pensei: agora consigo perguntar e achar o apartamento. Mas adivinha? Nada de inglês, só francês! Ele acabou deixando a porta aberta, eu hesitei mas resolvi entrar e procurar. Tirando aquele, só haviam restaurantes na rua, só poderia ser mesmo aquele prédio! A questão é que na hora a ideia de entrar parecia fazer sentido, mas imagine entrar em um prédio em que você não sabe o número do apartamento. Eu subi e desci escada, mas não tinha por onde começar, a não ser que eu batesse de porta em porta (correndo o risco de sequer falar a mesma língua de quem aparecesse, como já estava acontecendo)! Saquei meu telefone e comecei a procurar uma forma de me contactar com o rapaz. Lembrando que eu estava em outro país, ou seja, qualquer uso da rede de celular, fosse ligação, SMS ou internet é sempre bem cara. Segundos depois, foi hora da bateria do celular dar tchau!
A sorte é que uma das últimas compras que fiz no Brasil foi um carregador portátil, e ele já salvou minha pele em viagens incontáveis vezes! Resolvi sair do prédio, já que não havia mesmo porque ficar lá. Do lado de fora tentei ligar para o dono do quarto, mas como se a coisa não estivesse ruim o suficiente, a ligação não completava. Mandei um SMS e continuei a vagar pela rua. Depois de alguns minutos ainda resolvi tentar contactá-lo, ligando e mandando mensagem, pelo Whatsapp (que não é 100% comum de ser usado como no Brasil pela Europa afora) e após alguns minutos o rapaz me ligou! Ele disse que não estava em casa mas que seu housemate poderia me receber, e que seu nome estava na lista do interfone do prédio. Já com completa descrença mas por desencargo de consciência resolvi checar a tal lista de novo, e eis que naquele momento eu o achei lá! Eu poderia jurar que aquele nome não existia naquele lugar, mas por fim, depois de por volta de uma hora nessa agonia, eu tinha um quarto!
O prédio era meio "caído", e cheguei a conclusão de que o quarto que eu iria ficar era nada mais nada menos do que do menino que me recebeu, um rapaz de 19 anos da Tunísia, que fala 5 línguas e super bom de papo, já que ele basicamente estava dormindo na sala. A casa era uma bagunça sem fim, e mesmo o quarto não estava muito arrumado ou limpo, mas como era coisa pra uma noite só eu relevei. Peguei uma dica de um lugar pra almoçar com ele (que estava fechado, aumentando a lista de dicas de restaurantes fechados que sempre aparece quando viajo), mas achei um outro minúsculo por perto, com uma comida simples e saudável, com muita cara de "cardápio local" e super em conta. A minha preocupação naquele momento é que muito do que eu havia planejado para o dia, como visitar os principais pontos turísticos da cidade, estava começando a ficar impossível, pois já era início de tarde e nem o walking tour que eu havia planejado fazer às 11hs eu tinha conseguido.
Acabei encontrando um outro walking tour que começaria dali a poucos minutos, então só terminei o almoço e fui direto pra praça principal. Por ter mais de 2 horas, vi que haveria mesmo incompatibilidade de tempo, e não conseguiria ir ao Atomium ou na Mini Europe, dois "must see" de Bruxelas. Teria que ficar pra viagem de volta, a qual eu já havia planejado de encontrar um amigo que conheci na escola em Galway e que mora em Liege, mas esse plano ficava pra ser decidido depois.
O walking tour (que dessa vez não fiz pela
Sandemans, e sim pela
Viva Brussels), conduzido por um guia simpático da Venezuela foi super interessante, e o ponto alto foi quando fomos ao "Parc de Bruxelles", onde pudemos ter uma verdadeira aula de como foi conduzida a colonização da República Democrática do Congo pela Bélgica, uma história curiosíssima de quando uma área enorme no meio da África do então inexistente país foi tomada como propriedade pessoal (!!) do rei da Bélgica.Visitamos vários lugares com histórias interessantes, e deu pra perceber que Bruxelas é bonita e bem compacta, e minha risga inicial com a cidade começou a se esvair.
Depois de toda a caminhada feita, e de ter provado o famoso waffle belga, eu já não tinha mais forças. Quando a tarde começava a dar adeus eu só consegui voltar pra casa e tentar dormir um pouco. Acordei poucas horas depois, e após um papo sobre a economia mundial com o simpático housemate, ainda saí pelas ruas procurando um restaurante aberto, já à noite. Comi paella pela primeira vez, num combo de refeição completa (entrada + prato principal + sobremesa, também bem comum na Europa afora) num preço bem camarada. Voltei pra casa e fui "terminar de dormir", já que o dia seguinte começaria cedo...
CONTINUA...