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terça-feira, 3 de novembro de 2015

A turma do barulho! - Parte 1

 
Já citei os amigos que tenho aqui em Galway várias vezes nesse blog. Alguns com um pouco mais ou pouco menos de presença, mas o fato é que estamos normalmente juntos, seja fazendo muita coisa você quis dizer: comida, ou não fazendo nada mesmo.

Com isso, e somado ao principal sentimento que obtive nesse intercâmbio (uma enorme curiosidade por diferentes culturas e hábitos), resolvi adaptar uma ideia antiga do blog do Rick, e o propósito dessa semana é ter posts diários de entrevistas com meus amigos!

Foram feitas as mesmas perguntas pra eles, e minhas eventuais observações estão entre parênteses. Sem mais delongas, o primeiro da lista é o Claude. Claude foi basicamente o primeiro amigo que fiz aqui. Apesar de sermos da mesma sala na época, nos conhecemos e batemos um longo papo num pub coisas da Irlanda, no famoso "Pub Night" organizado pela escola, quando semanalmente todos alunos são convidados a visitar o mesmo pub e interagir entre si e entre os nativos. Com seu jeito inocente, o considero o irmão caçula que não tive Camila, estou falando apenas de irmão caçula, do sexo masculino! Não estou te substituindo! Vamos conhecer mais sobre essa galera! Prometo que você vai se surpreender!



Quem é você?

Quem sou eu? Meu nome é Claude, meu nome em inglês é Claude (alguns asiáticos, ao virem pra cá, decidem usar um nome "comum" em inglês como seu nome, devido à dificuldade que as pessoas podem ter pra pronunciar corretamente). Na verdade meu nome na Coréia é Seul Gi Kim, e meus amigos me chamam de Seul Gi. Eu tenho 24 anos, mas quando eu voltar pra Coréia eu vou ter 25 anos, porque a gente tem uma forma diferente de calcular a idade. Eu estou em Galway há cinco meses e tenho por volta de mais dois meses aqui ainda.


De onde você é (cidade e país)?

Eu sou da Coréia - e não é a Coréia do Norte!, e a cidade é Daejeon (soa como Tê-djân). O nome da cidade é baseado no alfabeto chinês, e traduzindo significa "grande território".


O que você faz?

Antes de vir pra Irlanda, eu estava estudando, numa universidade. Meu curso é Engenharia da computação. Eu estudei por 3 anos, e eu tenho que completar mais um ano. Eu tive que interromper porque eu quis vir pra cá, e agora eu estou estudando inglês, e trabalhando pra me manter aqui. Assim que eu entrei na minha universidade, eu decidi entrar na banda de lá, porque eu gosto de música, e gosto de cantar. Eu permaneci lá por 2 anos, e na verdade eu não estudei quase nada nesse meio tempo.

Depois eu precisei parar meus estudos pois eu fui pro serviço militar por 2 anos, porque na Coréia o governo nos obriga a fazer isso. Depois disso eu voltei pra universidade por mais um ano, mas aí eu pensei: "Eu quero estudar inglês, porque eu gosto muito da língua", e aí eu parei o curso de novo pra vir pra cá.

Então foram dois anos estudando na universidade, dois anos no serviço militar, um ano de novo na universidade e agora indo pra um ano aqui, ou seja, quase 6 anos. E teve mais, porque antes de chegar aqui eu passei um tempinho na Índia. Na verdade isso fazia parte do programa de estudar inglês, então eu fiquei lá por 2 meses.


O que você acha da Irlanda e de Galway em geral? Você consideraria morar aqui? Por quê?

Essa é uma boa pergunta, hehe. Na verdade tem algumas coisas que eu preciso dizer sobre a Irlanda, porque é tudo completamente diferente da minha vida na Coréia, então tem um monte de coisa relacionada a outras pessoas, outros países...

Primeiro de tudo, eu acho que a Irlanda é um bom lugar pra se viver, especialmente com relação a pessoas, porque as pessoas daqui, de Galway, são muito gentis. Claro que na Coréia nós somos gentis e temos um bom coração, mas é um pouco diferente. Por exemplo, aqui, independente da pessoa conhecer a gente ou não, eles sempre nos cumprimentam nas ruas, esse tipo de coisa, e eles me passam uma boa impressão.

Com relação a morar aqui por um longo tempo... quer saber? É muito difícil dizer. (Pensando por um tempo). Julgando até agora, eu não sei dizer... (Pensando por mais um tempo). Pra ser sincero, como eu disse, minha formação será em Computação, e poder estudar aqui nessa área seria ótimo, pois é dito que a Irlanda é um dos melhores lugares pra se estudar TI, então por que não? Mas é legal mesmo estudando inglês, que será algo importante pro meu futuro na minha carreira, então o que eu quero é poder usar e aprender inglês o máximo possível até que eu possa conversar com qualquer pessoa. Então tem esses dois aspectos, e nos dois eu acredito que a Irlanda seria uma boa opção. Mas também tem a questão de ser filho único, e acho que seria complicado decidir viver fora do meu país. Além do que, vivendo na Coréia eu também poderia ter a oportunidade de usar inglês, trabalhando lá, ou representando a empresa em outro país. Basicamente eu não sei nada sobre meu futuro, hehe. Mas é isso, se eu tivesse a chance de trabalhar aqui, eu acho que eu tentaria.


Acha que ter vindo morar/estudar aqui valeu a pena? Por quê?

Em termos de estudar inglês por um ano? (eu disse: sim, também, mas avaliando o todo). Eu acho que realmente vale a pena. Isso é irrefutável, hahaha! (a gente tinha aprendido essa palavra em inglês durante a semana). Porque como eu disse, eu não sei absolutamente nada sobre meu futuro, e pode ser que lá eu me arrependa de algo, mas minha sensação agora é que vale a pena. Primeiro pela questão do inglês. Quer dizer, meu inglês não é perfeito, mas em comparação com como eu cheguei aqui eu sei que evolui. E segundo, pela oportunidade de conhecer pessoas. Por exemplo, pessoas da própria Coréia, Brasil, Itália, Suíça, etc, e poder fazer isso na nossa idade eu acho muito legal. E poder ter viajado para rever amigos (conforme falei aqui), manter contato, e combinamos de nos encontrar no meu país é demais! Pode ser que eu me arrependa no futuro, mas poder ter tido essas experiências com vocês, mesmo tendo que suspender meus estudos na Coréia enquanto meus amigos continuam o curso, valeu a pena.

E eu queria dizer mais uma coisa: na Coréia, quando estamos terminando o ensino médio, temos uma pressão absurda para decidir sobre nosso futuro, e depois de concluir a universidade precisamos procurar emprego. Todo mundo faz isso, meus amigos e até meus pais esperam isso de mim, pois do contrário você seria uma pessoa que falhou na vida. E no meu caso eu não tive muito tempo pra pensar no futuro, sobre o que eu gosto ou o que eu sei fazer, qual seria o meu propósito ou meu sonho. A gente se sente muito pressionado com relação a isso, e talvez seja esse o motivo pelo qual muitos coreanos parecem não ter sonhos. Então aqui eu me sinto no tempo perfeito, até por maturidade, pra pensar a respeito disso. Ainda que eu tenha mais um ano na universidade, eu acho aqui um bom momento pra isso. Enfim, acho que esse ano aqui tem sido muito bom, e legal, e adorável. É irrefutável! É isso.


Pôde aproveitar da curta distância entre a Irlanda e outros países europeus pra viajar? Qual foi sua melhor viagem? Pensa em viajar mais? Onde?

Na verdade até agora eu só viajei pra um país (Itália), com meus amigos daqui e pra nos encontrarmos com nosso amigo italiano, e viajamos também para outros lugares lá, como: Milão, Como, Veneza e Roma, e depois que meus amigos voltaram pra Irlanda eu ainda fui pra Florença sozinho. Foi muito legal, pois as pessoas sempre dizem que viajar é maravilhoso, mas eu não entendia o porquê, qual seria o propósito delas. Eu até perguntei pra algumas, e elas disseram que era pela possibilidade de conhecer novas pessoas, novas culturas, ou até porque elas gostam de beber, ou comer. E eu ainda fiquei com essa dúvida. Mas pra mim, depois da minha viagem pra Itália, o propósito maior seria ter boas recordações, especialmente estando com pessoas legais. Pra mim, sequer importa o país, ou o quanto incrível possa ser um monumento, ou o quão grande é uma igreja. Claro que poderia ser fantástico vivenciar esse tipo de coisa, mas eu penso que viajando sozinho não seria a mesma coisa. Acho que mesmo indo pra um lugar que nem parece ser tão legal assim, se estiver com amigos, já valeria a pena.

O lugar que eu mais gostei foi Veneza, pois é completamente diferente de qualquer outra coisa. O segundo seria Florença, porque é muito bonito.

Na verdade eu não fiz nenhum planejamento ainda, mas comprei as passagens pra Suíça e pra Londres. Além desses, eu pretendo ir pra Alemanha, República Tcheca, Espanha, Marrocos e talvez Bélgica ou França, depois de concluir as aulas de inglês aqui.


Cite algo interessante sobre seu país que acha interessante dizer a estrangeiros.

Algo diferente pode ser algo interessante, né? Na Coréia eu diria que as pessoas, o jeito de pensar das pessoas, pois eu acho que é bem diferente em comparação com pessoas da Europa ou da América. A Coréia é um país conservador, o que pode na verdade ser uma desvantagem pra eles, pois isso os faz ser tímidos, porque a gente fica meio reprimido ao conhecer uma pessoa. Logo depois nós criamos uma conexão forte com a pessoa, mas ficamos sempre naquela: "será que ela vai gostar se eu fizer isso?". Nós pensamos demais, especialmente com relação a pessoas mais velhas, o que é uma característica especial do povo coreano, e faz parte da nossa cultura.


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (e que eu não tenha te contado).

Na verdade, desde que eu te conheci, eu aprendi várias coisas sobre o Brasil, tais como: corrupção, assalto, mas não só coisas ruins, como pessoas boas, etc. Mas antes disso, eu tinha na minha cabeça um certo estereótipo a respeito do Brasil, como: eles têm várias árvores, e montanhas, a maioria das mulheres são bem sensuais, se eu visitasse o Brasil eu veria cobras gigantes, tipo anaconda, e eu deveria tomar cuidado com esse tipo de coisa. Também aranhas, macacos, e um lugar muito quente. Ah, eles têm a melhor seleção de futebol do mundo, e eles jogam de amarelo.


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (que você não sabia e que eu te contei).

Eu fiquei um pouco chocado quando você me disse certas coisas a respeito de corrupção e assalto, a segurança em geral no Brasil foi um pouco chocante, porque quando você comentou da primeira vez eu achei que não era algo muito sério, mas depois eu pude ouvir de outros brasileiros também, e vários deles já tiveram alguma má experiência desse tipo. Além de certas "zonas" onde pessoas perigosas podem viver (contextualizando, há um tempo eu expliquei o conceito de favela pra ele, mas também disse que lá existem boas e más pessoas, como em qualquer lugar).


Deixe um recado pra quem for ler isso.

Jesus! Não tem nenhum tópico ou algo do tipo? Hmm... (pensando e reclamando que é muito "aberto"). Acho que posso falar sobre meu sentimento ao terminar a entrevista? Bom, na verdade ter vindo pra Irlanda, e ter a experiência de conhecer várias pessoas pra mim valeu muito a pena, e eu estou muito feliz. Então... Eu sou o Claude... É isso!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Acomodação: o lado "de lá" da história


Tudo começou um pouco antes da minha viagem pra Itália, quando o casal de italianos com quem eu dividia a casa aqui comunicou que eles estariam de mudança em mais ou menos 2 meses, pois alguns amigos viriam da terra da Margherita tentar a vida aqui em Galway, e eles passariam a dividir uma casa entre si. Fiquei triste, pois minha relação com eles sempre foi muito boa, como já citei aqui antes, e de fato os considero amigos.

Com isso, a primeira ideia que eu e a outra housemate espanhola tivemos foi de dessa vez entrevistamos e escolhermos nosso novo companheiro de casa. O objetivo era tentar evitar o acontecido da última vez, quando nosso landlord apenas mandou uma pessoa pra nossa casa, e acabamos descobrindo ser uma pessoa com jeito e comportamento diferentes dos nossos, que pouco interage e parece viver num mundo à parte. Vale observar que obviamente cada um tem seu estilo de vida e ninguém precisa prestar contas do que faz ou deixa de fazer ao estar dividindo uma casa, mas a ideia inicial da minha housemate sempre foi tentar buscar alguém com o mínimo de coisas em comum o que praticamente excluiria irlandeses e sua fama de pouca higiene.

A princípio, ela quis limitar bastante as características da pessoa "ideal": não deveria falar espanhol ou português eu não participei disso, não poderia ser casal, e preferencialmente mulher. Precisei gastar alguma lábia com ela e convencê-la, pra que a gente conversasse com as pessoas primeiro, e não apenas julgar baseado em nacionalidade ou gênero. Sempre tive uma ótima relação com ela (ainda melhor do que com os italianos), mas já comecei a imaginar que seria difícil chegar a um acordo pro final dessa história.

Como já deve estar claro pelo que mencionei algumas vezes aqui, meu relacionamento com brasileiros aqui é pequeno. Já falei que às vezes sequer sei como agir com eles, e o quesito afinidade sempre é o mais importante, mas boa parte das vezes o problema é o fato do uso da língua. Cada um sabe o que faz, mas minha intenção ao sair do país não foi e não é continuar usando português. Ainda assim, como falei aí em cima, nunca pensei em descartar completamente brasileiros apenas pelo fato de serem brasileiros, coisa aliás que aconteceu comigo quando procurei casa por aqui no início. A proposta era conversar e ver no que dá.

Com isso, depois de avisarmos o dono da casa sobre nosso procedimento, aguardamos faltarem apenas algumas semanas para que o casal deixasse a casa, e iniciamos o processo. Criei um anúncio no Facebook, no grupo de acomodação mais comum aqui em Galway e meu Deus, houve uma tempestade torrencial de mensagens! Com o intuito de conversar com o máximo de pessoas possível pra poder analisar a que encaixaria melhor, gastei boa parte de uma noite agendando visitas com todas as pessoas que entraram em contato, e tirei o anúncio do ar em poucas horas, pois já nem tinha como encaixar mais gente.

No dia seguinte, avisei a minha housemate sobre o agendamento: 25 pessoas viriam dali a um dia, com uma diferença de 15 minutos entre elas, e ficaríamos basicamente o dia todo por conta disso. Ela quase teve um treco, e já imaginando que a italiana sequer permitiria essa quantidade de gente entrando em seu quarto, começou a pensar numa maneira de fazer isso de forma diferente. Tá bom, confesso que talvez tenha sido um pouco demais, mas só quis basicamente conversar e escolher o melhor, ué!

Sua idéia que discordei totalmente, mas argumentar com mulheres quando elas acham que estão certas é sempre um desafio, rs foi basicamente analisar o Facebook de todos que mandaram mensagem pra poder fazer uma pré filtragem. Acho totalmente falho, pois muita gente simplesmente trava as informações lá, ou simplesmente não coloca, o que fatalmente privilegiaria alguns e prejudicaria outros, mas ela estava tão irredutível que abaixei a cabeça e aceitei.

Assim, depois de inúmeros cortes de irlandeses, em sua maioria estudantes e potenciais baterneiros (o que de novo soa um pouco como preconceito, mas eu diria que jovens irlandeses, que por várias vezes têm bebida como única diversão, poderiam de fato "causar" mais do que estávamos dispostos a arriscar ver). Dos 25, restaram 6, e um acabou avisando que não poderia comparecer. Encaminhei a todos os "excluidos" mensagens de que meus housemates mudaram de idéia e só aceitariam mulheres/pessoas mais velhas/insira sua desculpa aqui.

No dia seguinte, lá estávamos nós entrevistando pessoas. Tivemos uma irlandesa que viveu no Japão por 3 anos e estudava mestrado na universidade aqui perto; um espanhol que falava português (pois morou anteriormente numa cidade próxima à Portugal); duas brasileiras, simpáticas mas bem tímidas e com um nível de inglês que ainda não permitia muita conversa; e um rapaz de Londres, super engraçado e que falava à "mil por hora" sotaque inglês e linguagem "das ruas" confesso que não foi fácil de entender, não! Fizemos perguntas gerais sobre eles, e falamos um pouco da gente e do ambiente que queríamos manter na casa, além de mostrar a casa claro e explicar sobre as regras e obrigações de cada um.

Para minha tristeza, minha housemate não gostou de ninguém! Apenas o rapaz espanhol a agradou um pouco, mas segundo ela o fato de usar a mesma língua poderia ser um impeditivo. Dessa maneira, resolvi no dia seguinte convidar o rapaz mexicano que não pôde comparecer antes, e acabei comentando sobre o quarto disponível com uma brasileira da minha sala. Apesar de a conhecer pouco, sabia do seu nível de inglês, e sempre me pareceu ser uma pessoa legal e que poderia perfeitamente se encaixar no que procurávamos.

No dia posterior, por uma questão de horário, acabamos entrevistando os dois ao mesmo tempo (o que se mostrou uma péssima idéia, mas não havia como saber antes). No fim, novamente minha housemate não se "encantou" com ninguém. Já um pouco estressado com a situação, tive uma conversa mais séria com ela, explicando sobre as vantagens de escolhermos a brasileira, mostrando tudo o que sabia sobre ela, e argumentando que por mais que conversássemos com mais gente, nunca saberíamos mais sobre elas do que eu sabia sobre a menina. Acabei convencendo ela a recebermos minha colega de classe de novo no dia seguinte, mas adivinha: logo após a entrevista, ela implicou com o fato de que a moça receberia o namorado por duas semanas e aí já dá pra imaginar o desfecho.

A partir desse momento ela ficou responsável por criar um novo anúncio e, devido à sua disponibilidade pra receber mais gente (devido a trabalho), o processo acabou se arrastando por mais uma semana.

No início da semana seguinte, recebemos mais um brasileiro tô falando que a cidade tá começando a lotar, hehe, mas o rapaz era tão tímido que apenas os outros brasileiros que o acompanhavam conversaram, e ficou aquela situação estranha. Com mais um "não", ainda precisamos de mais tempo e, após inúmeras dispensas de todos os tipos de pessoas pela internet e essa história rendendo bem mais do que eu esperava me pergunto porque tanta coisa que me acontece ganha contornos de intermináveis novelas, foram agendadas para o fim da segunda semana entrevistas com uma japonesa, outra brasileira e uma italiana. A essa altura, mesmo tendo alguns dias até o dia "oficial" em que deveríamos ter a nova pessoa, o landlord já arrancava seus poucos fios de cabelo ao saber de como as coisas estavam se encaminhando.

No dia e hora marcados, recebemos a japonesa (a brasileira não apareceu e nunca mais deu sinal de vida, apesar de ter implorado a entrevista com minha housemate ai, ai, ai!). A simpática moça tinha um namorado irlandês no Japão (?!) o que a conferia um interessante sotaque de quase irlandesa nativa. A conversa foi ok, e ela foi agradável a ponto de mandar uma mensagem de agradecimento após deixar a casa. No final da noite recebemos a italiana que tinha um comportamento bastante parecido com o dos nossos agora antigos colegas de casa, mas ela havia acabado de iniciar as buscas para o novo lar, e logo precisaria de um mês pra desocupar seu quarto atual.

Assim, depois de algumas semanas de entrevistas, conversas, argumentações e um bocado de dor de cabeça, acabamos chegando a um consenso sobre a japonesa, que concluiu sua mudança ontem. Resolvi também mandar mensagem para as pessoas não-selecionadas, por motivos de: faço com os outros o que espero que façam comigo.

Eu achava que entendia quando as pessoas normalmente se referem ao intercâmbio como uma maneira de aprender a se relacionar ainda mais com os outros, mas agora vejo que esse jogo de cintura é necessário com mais frequência do que eu pensava. Saber expressar sua opinião ao mesmo tempo em que respeita a dos outros, ainda mais quando essas pessoas tem bagagens culturais e modos de viver e ver o mundo diferentes do seu é algo que precisei de fato lidar. Mas assim é a vida, nada mais do que um constante aprendizado, e ainda mais quando se trata do "bicho gente", não é? Só espero que nossa decisão tenha sido acertada, e que nossa casa continue no clima de "home sweet home"!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

5 meses!


No último mês, principalmente por conta da viagem, acabei não fazendo o post-balanço do mês. Vou tentar então, resumir tudo o que aconteceu e que eu lembro durante todo esse período. Here we go:

- Desde que voltei da viagem e que o período de alta temporada na escola, quando havia aluno pra todo canto, acabou, resolvi também voltar ao nível avançado. Nem precisei fazer muita coisa, já que como havia passado no teste quando estive por uma semana lá, não seria necessário passar pelo mesmo processo. Basicamente pedi pra me colocarem lá de volta e pronto. Desde então - isso tem por volta de um mês - tenho gostado bastante (o que mostra que tive mesmo uma triste coincidência de uma professora e alunos "super avançados" quando estive lá). O estilo de aula, mesmo entre diferentes professores, é sempre focar mais na evolução do vocabulário do que necessariamente em gramática (o que eu particularmente prefiro, nessa altura do campeonato). Nas últimas semanas tivemos algumas mudanças, como um professor inglês sim, da Inglaterra mesmo e um aumento de número de brasileiros na minha turma, de um (eu, dah!) pra quatro. Normalmente não há nenhum "problema" nesse sentido, principalmente por estamos no nível mais alto na escola e por consequência num estado em que deveríamos todos nos comunicar em inglês, mas às vezes existem algumas conversas desnecessárias em português. Hashtag preguiça.
Vale citar que, não sei se devido à recente "quase" alteração nas regras de intercâmbio na Irlanda, mas percebi um aumento considerável de brasileiros na escola e nas ruas em geral, mas ainda distante da realidade de Dublin creio eu (estive de passagem em uma escola lá e vi 99% das pessoas serem brasileiras. Sim, a gente ouve falar, mas confesso que me assustei ao presenciar isso).

- Tenho ainda um pouco mais de um mês de aula, o que me incomoda um pouco pois caso não arrume emprego (assunto do próximo tópico), precisarei mesmo encontrar algo pra fazer. Candidatei a uma vaga part-time pela primeira vez aqui (loja de coisas "tech"), mas se nada acontecer, vou definitivamente arrumar pelo menos um trabalho voluntário.

- Com relação a trabalho full-time, já tive quase todas as experiências possíveis: recebi inúmeros "não foi dessa vez" de empresas as quais me candidatei para alguma vaga; já fiz várias entrevistas por telefone, especialmente de agências de recrutamento (extremamente comuns aqui) que prometem entrar em contato quando tiverem algo disponível para o meu perfil de não portador de passaporte europeu, e as que de fato retornam são raras. Hoje vejo que a questão de não ter o passaporte ser meu principal empecilho aqui. Entretanto até entrevista presencial em Dublin eu fiz no último mês. Era pra uma multinacional enorme, mas no final descobri duas coisas: o tipo de trabalho pra vaga que ofertaram - Business Analyst - não tinha ligação nenhuma com o que eu tenho experiência. E pra cereja do bolo, apesar de eu ter informado quando me cadastrei que não tinha o visto de trabalho, aparentemente eles não checaram isso, e no meio da entrevista descobrimos que esse ponto não estava claro (e a empresa não oferece esse tipo de "suporte" que eu precisaria, conforme expliquei aqui).
Olhando para o retrospecto, estou procurando emprego aqui há mais ou menos 3 meses, e pra ser sincero, achei que seria bem mais fácil. A combinação de não possuir o visto de trabalho com a falta de uma enorme experiência na área em que quero focar (apesar de ter alguma) acaba empacando a coisa, e me leva a uma dicotomia. Se não encontrar nenhuma oportunidade aqui, preciso voltar pro Brasil antes do final de janeiro. Vínculos familiares a parte, não sinto hoje a menor vontade de voltar pro país e pro tipo de vida que vivia antes. Daí fica aquela coisa aberta sobre o futuro: se arrumo algo aqui, não faço ideia de como poderia ser essa "nova vida" num outro país (a realidade de "trabalhador" é fatalmente diferente da minha hoje, mas a principio estou disposto a pagar pra ver); senão, preciso voltar e também não sei direito como vai ser. Considerar um retorno para o Brasil hoje seria pra encontrar um emprego que me permitisse trabalhar viajando pelo país e/ou principalmente pelo mundo afora, ou na pior das hipóteses, caso isso não aconteça, consigo me imaginar no máximo vivendo em outro estado. Sempre tive a sensação de que minha cidade é pequena demais pra mim, e agora só consigo ter certeza super estranho o morador de Galway falar sobre não gostar de morar em cidade pequena, rs.

- Ainda na questão profissional, dois dos meus objetivos a serem realizados quando planejei meu intercâmbio estão em execução. O primeiro, aliás, era obter uma certificação a respeito de uma metodologia que estudei e me apaixonei na minha pós. Basicamente precisei reler um livro enorme e fazer a prova nada fácil pela internet. Não sei qual o peso dessa certificação no mercado (a metodologia ainda não é tão difundida) mas acredito tanto nela como solucionadora de vários problemas que presenciei ao longo da minha experiência que precisava de algo que comprove meu interesse, nem que fosse só pra mim. O outro ponto é: estou escrevendo esse post num ônibus, indo pra Dublin! O bendito "curso na área" que tanto citei ao definir o destino do meu intercâmbio finalmente irá começar. Acabei decidindo pegar o de melhor custo-beneficio leia-se mais barato, pois o euro está nas alturas, mas a escola tem uma boa reputação. Por ser uma vez na semana durante os próximos 4 meses, acabei preferindo continuar morando em Galway. Assim, "viajar" pra Dublin às segundas-feiras será minha nova distração o que aliás significa mais tempo dentro do ônibus do que na sala, mas ainda acho que vale a pena.

- Meus dias aqui ainda tem mais ou menos a mesma estrutura: escola pela manhã e ficar com amigos durante a tarde e noite. Por mais "à toa" que isso possa parecer tá bom, às vezes é sempre conseguimos arrumar algo pra nos ocupar e entreter, seja indo ao cinema, cozinhando, ou simplesmente batendo-papo horas a fio. Não costumo fazer nada especial no fim de semana, e sábado é o dia "de caverna", ou seja, sair da cama só pra comer, e por séries/filmes/youtube/blogs em dia. Pra quem trabalhou desde os 16 anos (e estudou até hoje) sem parar, confesso que me dou ao luxo de viver assim por um tempo, hehe.

- Em contrapartida, tenho andado ocupado nas últimas semanas por conta de um projeto pessoal que ironicamente me fez voltar pra área técnica de TI. Ainda não posso dar mais detalhes, mas em breve tudo será esclarecido.

- Continuo com um relacionamento bem legal com meus housemates. Se num acaso encontramos algum assunto que nos interessa, enveredamos nele por horas conversando. Não sei se já citei aqui, mas temos um "quadro negro" que compramos, e onde escrevemos palavras que aprendemos no dia a dia. O legal é que acabo ajudando eles em dúvidas que eles têm, e meu apelido por aqui já é teacher quem me dera. O problema é que o casal de italianos está de mudança, e isso acabou trazendo uma preocupação, que será o tema do próximo post.

À caminho de um semestre na Irlanda!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Pé na estrada: Itália (Parte 3 - Roma)


Concluindo a história que comecei a contar aqui e aqui. Esse post resume 3 longos dias em Roma, e fatalmente será mais um da série: Lucas, como você consegue escrever tanto?? Enfim, aperte os cintos, e vem comigo!


Após deixarmos Veneza, foram novamente mais ou menos 3 horas de trem até Roma. Compramos passagens que nos deixariam numa estação relativamente longe da acomodação não me perguntem porque, e como a parada final do trem ficaria mais próximo de lá, demos uma de "armless John", e esperamos mais 3 minutos pra descer na Termini Station, maior estação de Roma, onde se encontram trens, metrôs e ônibus.

Tendo de encontrar novamente as coordenadas corretas pra acomodação pelo 3G já que Wifi liberado de novo não foi possível, precisamos andar por volta de quinze minutos até o local. Comecei a ter a sensação de "fobia" de cidade grande de novo, pois meu primeiro impacto ao sair da estação foi horrível. Achei a região muito feia (bastante parecida com a rodoviária de BH, e quem conhece sabe o quanto é pavoroso, digno de cenário de Walking Dead pra cima), mas posteriormente percebi que era mais pelo fato de onde estávamos localizados, e não uma característica da cidade como um todo.

Chegamos próximos de onde o mapa localizava o B&B, mas não conseguíamos encontrar direito. Havia basicamente uma porta que dava pra uns prédios isolados da rua que mais pareciam um conjunto de sobradinhos. Aliás essa cena me lembrou uma novela "italiana" que passou na Globo há muito tempo atrás, e esse ponto merece um parêntese, ou melhor, um parágrafo.

Pode parecer muito fútil essa observação, mas por todo o período em que estive na Itália, pude perceber que aprendi um bocado assistindo novelas que retratavam parte da história Brasil/Itália. Fosse com relação a língua (sério, percebi que sabia muito mais palavras e expressões do que imaginava, e muito veio do que assisti na época), ou alguns elementos culturais, tenho que tirar o chapéu para como as coisas foram representadas lá, e dar a cara pra bater caso se levante o argumento de que novela é cultura inútil, rs.

Voltando, depois de um tempinho tentando achar o local, decidimos simplesmente subir as escadas de um dos prédios e, ao chegarmos no segundo andar, deparamos com duas portas. A primeira, fechada, e a segunda, aberta e com senhores aparentemente fazendo uma mudança, pois estavam carregando móveis. Após batermos na porta por algum tempo e sem obter resposta, a dona da casa em mudança (num inglês bem básico) perguntou se queríamos ir para o hostel, e após nossa resposta, se prontificou a ligar para a dona do local. Depois de uns 5 minutos, eis que surge a responsável pelo B&B (ou seja, nem adiantava mesmo ficar batendo lá, e nem sei o que teria acontecido se a tal vizinha não estivesse "na hora certa no lugar certo"). 

A senhora, enquanto pegava nossos dados pra fazer o checkin, foi solicitada por um casal que estava "na parte de dentro" no momento para pagarem por mais uma noite no local. O problema: eles pediram em inglês, e a moça disse que não falava uma palavra da língua! Logo, acionando meu espírito de bom moço, lá fui eu me aventurar no "ítalo-português" novamente. Claro que saiu uma m*, afinal ter que traduzir inglês-português, português-italiano (com meu vocabulário que tende a zero) não foi fácil, mas no final todo mundo se entendeu. 

Na sequência, a moça resolveu me explicar as "regras" do local, pois eu era brasiliano e a entenderia será?. Em termos gerais o lugar era uma casa/sobradinho, e apesar de não ter nenhum luxo novamente (justificando o custo), não era completamente um muquifo também. Entretanto tivemos dois problemas: acabei esquecendo de perguntar sobre como funcionava a questão do café da manhã (oferecido na descrição do B&B e um dos motivos pelos quais escolhemos esse), e durante os 3 dias em que permanecemos lá, o bendito simplesmente não apareceu! Outro problema, relacionado ao primeiro, foi que, tomando de exemplo a situação da chegada, não encontramos a senhora nunca mais! Mesmo no dia do checkout (que esperávamos contar com a boa vontade dela para manter nossas malas lá até a hora de ir para o aeroporto), a moça tomou chá de sumiço, e simplesmente deixamos as chaves no quarto e fomos embora! O barato saiu caro, e não recomendo esse B&B, que aliás já possuía comentários negativos sobre esses pontos no site em que reservamos, mas que resolvi dar uma chance - que não valeu a pena.

Após ajeitarmos as coisas, quando já eram mais de 14 horas, resolvemos ir almoçar. Mais uma vez, o amigo coreano resolveu indicar um restaurante citado em outro blog do seu país, dizendo haver refeições super em conta e relativamente perto dali. Como não tínhamos nenhuma outra referência desse tipo, acabamos indo pro local, bastante perto da Termini. Chegando lá, um doce pra quem adivinhar o que aconteceu: F-E-C-H-A-D-O! Começo a ter a impressão de que dicas coreanas existem para não serem seguidas!!! Procuramos outro restaurante próximo, e por um preço apenas alguns euros mais caro do que o previsto no restaurante-fantasma, almoçamos o chamado cardápio turístico, que incluía entrada, prato principal, sobremesa (fruta) e bebida (água). Better than nothing.

Depois, munidos de mapas (que ganhamos no B&B, ponto positivo!), começamos a cogitar lugares pra ir, mas já havíamos agendado um Free Walking Tour que começaria dali a não muito tempo, e no final resolvemos ir caminhando pra lá sem muita pressa. Durante essa caminhada percebi o quanto Roma é louca: andando pela cidade você pode a qualquer momento cruzar com monumentos de longos anos de história, ao mesmo tempo em que do lado há um outdoor gigante da Calvin Klein ou alguma marca do tipo, enquanto um trânsito muitas vezes caótico está misturado no meio disso tudo! É um fato interessante, mas particularmente esquisito pra mim. 

Nos direcionamos para um lugar conhecido como Spanich Steps e lá nos encontramos com um guia muito simpático, falando inglês num sotaque italiano carregadíssimo, e partimos para duas horas de caminhada e muita informação ao redor da cidade. Visitamos diversas e belas igrejas e vários monumentos cheios de história. Vale destacar também uma sinfonia de violinos em frente ao Panteão tocando "Ai se eu te pego" (??!!), e um senhor "encantador" oferecendo rosas pra minha amiga perto de um ponto turístico e depois quase a obrigando a pagar, quando teve que devolver a flor, tsc, tsc. O ponto final do programa era na famosa Fontana di Trevi, mas Murphy esteve presente mais uma vez, e ao chegarmos lá ficamos sabendo que ela estava em reforma e inativa #Chateado²³¹³²³²¹²³¹¹²¹¹².

Após provarmos o primeiro gelato na cidade, resolvemos dar uma volta descompromissada. O maior problema das visitas turísticas em Roma, já alertado pelo nosso amigo italiano, é que ela é uma cidade bem grande, e boa parte dos monumentos estão espalhados por diversos cantos cidade afora. Assim, mesmo com um cronograma mais organizado dessa vez, já sabíamos que não dava pra ver tudo, e mesmo nessa "caminhada ao redor" acabamos visitando um lugar super interessante: o Fórum Troiano. Ele foi o último fórum construído na Roma Antiga e, apesar de não dispormos de muita informação sobre o local no momento, foi bem legal desbravá-lo podendo observar tamanha carga histórica no início daquela noite.

Após uma boa caminhada ao redor ainda sem muita direção, acabamos chegando no protagonista da cidade: Coliseu. Nosso planejamento era de visitar a parte interna dele apenas dali a dois dias, mas a estrutura imponente do monumento contido nas listas de sete maravilhas do mundo medieval e moderno (ainda mais impressionante com a visão noturna) acabou nos convidando para uma visita rápida. Ao redor havia basicamente muitos turistas, e vendedores de "pau de selfie", além de pintores dessas placas que retratam imagens dos locais usando tinta spray (e particularmente lá, acompanhados cada um com um aparelho de som mais alto que o outro). Depois de um tempinho, caminhamos pra casa, e bastante famintos decidimos comprar algo pra comer num boteco restaurante simples próximo à acomodação. Meu amigo foi de espaguete e eu de lasanha. Fomos dormir relativamente cedo, pois o dia seguinte prometia.

Acordamos bem cedo no segundo dia, pois a programação era desafiadora: fazer o percurso do Vaticano, consistido de: Museus do Vaticano, e praça e Basílica de São Pedro. Detalhe: esse trajeto é normalmente feito em 2 dias, mas faríamos em um. O meu problema é que já acordei tendo "um dia de rei", provavelmente por conta da bendita lasanha da espelunca do lugar que comi no dia anterior. A situação estava bem complicada, mas como tínhamos programação pro dia todo, resolvi arriscar. Comendo apenas algumas frutas pois tô esperando o café da manhã até hoje!, pegamos o metrô com direção à cidade-estado.

Após sairmos da estação, basicamente seguimos a "manada", e após alguns minutos estávamos rumo à Praça de São Pedro. O problema é que, como já sabíamos, haveria uma "reunião" com o Papa no dia, e a visitação ao local só estaria disponível até as 9hs, e aberta novamente às 13hs. Assim, nosso plano era primeiramente visitar os Museus do Vaticano, reservados já há semanas antes da viagem. No caminho da Praça para os Museus (menos de 10 minutos), fomos abordados diversas vezes por senhores, muito bem vestidos e algumas vezes usando crachás, que se diziam membros da organização turística oficial, e que ofereciam um "upgrade" nos nossos tickets dos Museus para passarmos por uma ligação entre eles e a Basílica, supostamente para não enfrentar as normalmente quilométricas filas existentes para entrar no maior edifício religioso do Catolicismo. O problema é que pra mim e meu faro brasileiro de charlatões, esses caras eram certamente farsantes, que tentavam ganhar dinheiro às custas da desinformação das pessoas. Meus amigos quase se deixaram enganar, mas os convenci a ignorar os sujeitos.

Dentro dos Museus, resolvemos também alugar o guia de áudio, pois durante toda a viagem sentimos que não absorvemos tudo dos lugares que visitamos por não ter informações a respeito no momento. Como lá só havia narrativa em português de Portugal, acabei pegando a versão em inglês mesmo, mas fiquei com preguiça de ouvir tudo sobre tudo (é muita coisa, e às vezes são minutos de descrição) e não achei que valeu a pena.

Os Museus são enormes, e uma vez que o próprio nome no plural diz, são inúmeras galerias com obras e monumentos de diferentes etapas da civilização. Seguindo uma sequência mais ou menos estruturada fisicamente, é possível visitar museus de história antiga (sobre Egito e Grécia antiga, onde se observam múmias, sarcófagos, etc), uma sequência enorme de monumentos de faces de pessoas importantes também por volta dessa época; um sem-fim de estátuas gregas e romanas, de inúmeros tamanhos e materiais diferentes; várias galerias com pinturas do chão ao teto, de uma beleza ímpar, além de outras enormes com tapetes antigos de mesma magnitude (nesses locais tudo já é referente a períodos bíblicos, especialmente à vida de Jesus). Já mais ao final, estão os aposentos de Rafael, que possuem simplesmente as pinturas mais lindas que já vi na minha vida! Obviamente, não tenho nenhum conhecimento artístico ou técnico pra julgar essas coisas, mas é absurdo o quanto as pinturas são bonitas, bem acabadas e com contrastes indescritíveis, e tudo isso feito na parede. NA PAREDE! Além disso, após uma sequência de obras já retratando arte contemporânea, chegamos na cereja do bolo: a Capela Sistina. O local, pequeno para o que eu imaginava (mas no final das contas, o conceito de "capela" não é algo grande, né?), possui pinturas que são impossíveis de descrever, sendo ainda mais belas dos que as feitas por Rafael. Lá dentro é proibido tirar fotos, e existem guardas apenas pra pedir silêncio e gritar "no photos, no photos!", apesar de não ter visto ninguém confiscar nada.

Aposentos do Rafael: tem como não achar isso lindo?

Gastamos mais de 4 horas nesse percurso todo, e em boa parte dele precisei parar e visitar os banheiros pelos motivos já imaginados maldita lasanha!. No fim já estava me sentindo fraco e, ainda com medo de passar mal pelo mínimo que comesse, acabei almoçando apenas salada quem me conhece sabe que pra isso acontecer a coisa tem que estar feia mesmo!. Já sem saber como meu corpo reagiria, resolvi tentar só dar uma passada na Praça de São Pedro, mas chegamos lá vimos que a fila para a entrada na Basílica, (que já relatos dizendo que ela pode ser longa a ponto de dar volta nos muros do Vaticano), ocupava menos da metade da Praça, e acabamos nos decidindo por tentar arriscar. Gastamos menos de meia hora na fila, e após chegar no início da Basílica, vimos a entrada para os "telhados", ou melhor dizendo aqui, para a Cúpula. Pagamos e valor e, mesmo em dúvida se fazia sentido ir pra cima primeiro antes de visitar o interior, iniciamos a jornada.

Já havia lido que o percurso não era simples e que haviam mais de 500 degraus, mas gente, o negócio parece não ter fim, e paga qualquer promessa! O espaço onde estão as escadas é estreitíssimo, e existem avisos para pessoas com problemas no coração ou claustrofóbicas optarem pela subida de elevador (que é um pouco mais cara, o que explica o porquê de eu ter ido de escada, hehe). Existiram duas paradas: uma onde existe uma saída para o exterior da Cúpula mesmo antes de chegar ao topo, e uma com uma visão da parte de dentro da Basílica. O interessante é que uma espécie de missa começou a ser celebrada no momento em que observávamos tudo há vários metros de altura, numa visão geral de tudo. Após mais subida e minha pressão em sentido oposto, chegamos ao topo. É uma visão perfeita de vários pontos da cidade, além de se poder observar toda a imensidão da Praça, que é enorme. A visita à Cúpula é tida como um must em Roma, e eu não poderia concordar mais.

Depois do looooongo período pra descer todas as escadas, chegamos na entrada da Basílica. Meu Deus, como pode existir algo como aquilo? Ao contrário da Catedral de Milão, onde tive a impressão de que o espaço interno não condizia com a visão externa, na Basílica de São Pedro tive a impressão de estar dentro de um local sem fim, tanto horizontal quanto verticalmente. O lugar é enorme, com esculturas, estátuas, vitrais e tudo mais enormes, lindos, indescritíveis. Como já mencionei antes, mesmo não seguindo a religião católica (e historicamente desaprovando MUITO do que ela fez e faz parte), o contexto histórico e a beleza de tudo que está contido naquele lugar é de deixar qualquer um de boca aberta. Encerramos o dia comendo alguma coisa novamente perto da acomodação, mas dessa vez eu e apenas eu (?!) decidi comer em outro lugar.

No dia seguinte, último da nossa viagem de 9 dias, o plano era visitar o "complexo" do Coliseu, composto pelo próprio, além do Palatino e do Fórum Romano. O que não esperávamos era que algo que já me acometeu algumas vezes aqui em Galway fosse acontecer lá. Explico: tenho algum tipo de problema com bebida alcoólica, o qual sinceramente não sei dizer direito o que é, e que simplesmente deixa o meu pé inchado e com dores terríveis nas articulações dos dedos com alguma frequência quando bebo. Tive isso algumas vezes no Brasil (o que complica o ato de se apurar, pois não tem uma ligação sempre direta com a vez em que bebo, e que o inchaço aparece), mas aqui na Irlanda a relação foi quase de um pra um. Tive que tomar anti-inflamatório por várias vezes, e sempre dói muito! Quem me conhece sabe que bebo muito pouco, mas depois das últimas vezes desse problema aqui resolvi simplesmente não beber mais. A questão é que no nosso primeiro dia em Veneza, inocentemente bebi uma taça de vinho branco (e nem senti nada no dia seguinte, momento em que normalmente essa dor ataca). Não sei se por conta do tanto que andamos no dia anterior (ou no conjunto de caminhadas da viagem inteira), ou por sabe-se lá qual motivo, essa dor veio novamente. O pior é que, com medo de ter meus remédios "confiscados" no aeroporto, só levei Paracetamol, o que até tentei, mas não adiantou de nada.

Fizemos o "checkout" no B&B e nos direcionamos à estação Termini, onde deixaríamos nossas bagagens pra poder ficarmos livres e explorar o Coliseu direito. Fui-me arrastando dando graças à Deus por ter levado sandálias, pois tênis naquele dia seria impossível, e chegamos lá gastando o dobro do tempo previsto. Depois de uma burocracia enorme para deixarmos as malas e com o pé no dobro do tamanho, resolvi finalmente tentar comprar o mesmo remédio que trouxe do Brasil numa farmácia dentro da estação. Depois de ter descobrido o nome em inglês, me direcionei pra drogaria mais próxima, e fui informado de que precisaria de prescrição médica para comprá-lo. Já fazendo cara de choro e insistindo com a farmacêutica que nem se mostrou assim tão comovida, ela me disse que poderia vender um com eficácia mais leve mas que poderia me ajudar. Tomei o bendito remédio e nos direcionamos pro Coliseu assim mesmo, ainda que gastando uma graninha a mais no metrô, afinal era meu último dia e Deus sabe quando teria a oportunidade de visitar o Coliseu de novo nessa vida.

Chegando lá, mesmo que no "passo do elefantinho", adentramos o Coliseu. Estávamos cobertos pelo sol do meio-dia ou seja, calor infernal, mas deu pra andar de forma relativamente tranquila. Fiquei um pouco decepcionado, porque achei ele beeeem menor do que eu esperava, e a visão externa dá uma ideia bem diferente do que é por dentro. Ou eu não entendo essa parte da História direito, ou era simplesmente impossível haver a arena dos gladiadores com o espaço existente na parte central do famoso anfiteatro.

Sem demorar muito lá, e com o remédio já fazendo algum efeito thanks, God!, fomos em direção ao Palatino. Ao chegar, percebemos que na parte inicial haviam pouquíssimas ruínas, e o local basicamente parecia um parque, com uma área verde considerável. Andamos por um bom tempo, pois de lá era possível ver boa parte da área conhecida como Roma Antiga.

Nos direcionamos então para o Fórum Romano, um conjunto de estruturas como templos e arcos, pertencentes àquela época da civilização. Sentimos falta novamente de alguma referência pra entender "o que era o quê" e acho que esse foi um dos aprendizados como mochileiros de primeira viagem novatos para as próximas viagens. Apesar de andarmos um bocado por meio das ruínas (que mesmo nesse estado ainda possuem grande magnitude), precisamos correr um pouco e finalizar nossa visita ao local, pois nosso amigo coreano ainda iria para Florença o que não coube no meu orçamento.

Voltamos para a estação pra pegar as malas e despacharmos o rapaz, e depois de matar o tempo visitando a Praça da República e a Basílica de Santa Maria dos Anjos e Martírios, foi hora de pegar nosso ônibus (que estava uma hora atrasado e morremos de medo de perder o voo) e dizer adeus pra Itália.

Essa viagem foi de longe a mais completa da minha vida. Visitar tantos lugares bonitos, com uma dimensão histórica enorme e na companhia de amigos foi uma experiência maravilhosa e inesquecível. Espero que ainda tenha oportunidade de viajar pela Europa mais vezes ainda que com orçamento super-limitado. Aliás, já temos planos para encontrar o bom velhinho fora da ilha dos leprechauns. Já estou sonhando com queijos e chocolates maravilhosos, hehehe!

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Pé na estrada: Itália (Parte 2 - Veneza)


Continuando a história que começa aqui.

Após madrugarmos pra pegar o trem em direção a Veneza, foram por volta de 3 horas de viagem até o destino. Não sei se por conta do sono que estávamos, ou do trajeto em si, mas acabei não vendo muito glamour nem paisagens estonteantes pelo pouco que consegui observar enquanto estava acordado fazendo essa viagem de trem.

Assim, chegamos em Veneza por volta das 9 e pouco da manhã, e dessa vez sem ninguém pra nos receber. A estação que descemos, bem como a "parte da cidade" em que nossa acomodação ficava, se chama Veneza Mestre. Pra quem não conhece, uma pequena explicação: Veneza é basicamente dividida entre a parte "famosa" e a parte mais industrial e residencial (fora da rota das águas e que simplesmente se parece com uma cidade comum). A grande jogada é que grande parte das pessoas que viajam pra Veneza e é pobre não quer gastar muita grana, normalmente se hospeda em Veneza Mestre, que fica a poucos minutos de ônibus da parte principal da cidade. Ônibus esses que possuem uma frequência muito grande. No nosso caso, o B&B ficava a um minuto da parada de ônibus para ir e vir de Veneza "não-Mestre", e levávamos por volta de 10 minutos de ônibus pra chegar até a parte central. Nada mal, não é?

Como estava dizendo, chegamos pela manhã na estação de trem, e após alguns longos minutos tentando encontrar uma wifi grátis pra pegar as coordenadas da acomodação (sem sucesso, tendo que ativar meu 3G em roaming e morrendo de medo dos meus créditos acabarem), conseguimos chegar lá sem muito esforço, pois conforme escolhido quando planejamos, o B&B ficava a menos de 5 minutos da estação.

Obviamente o lugar não tinha nem de longe as mordomias que tivemos na casa do nosso amigo em Como, mas colocando na balança a organização, a distância até a parte principal e até o café da manhã (bastante justo pelo que foi pago), gostei bastante do B&B Col Moschin, e achei uma boa opção de custo-benefício. Chegamos por volta de 2 horas antes do horário inicial de check-in, mas nos permitiram entrar e ajeitar nossas coisas sem problemas.

Depois disso e de tomar um generoso café da manhã porque ninguém é de ferro, compramos os tickets de ônibus para os 2 dias que passaríamos lá, e fomos desbravar Veneza. O ônibus chega próximo a Estação Santa Lucia, a parada de trem dessa região de Veneza, enorme e bem bonita. Bastou botar o pé pra fora do ônibus pra se iniciarem os momentos "Uau!". Veneza é uma cidade linda e com certeza única, diferente de tudo que já vi e provavelmente vou ver na vida.

Em boa parte da localização principal de Veneza simplesmente não existem ruas ou avenidas. É tudo água! Assim, os meios de locomoção são mesmo os barcos, sendo possível encontrar lá, além dos particulares, "barcos-táxis", as famosas gôndolas (basicamente usadas pra passeios curtos e com propósitos "românticos"), e o Vaporetto, que em linhas gerais seria o popular "busão".

Quando iniciamos o planejamento, fiquei um pouco relutante em gastar por volta de 30 euros em um ticket de 48h pra ter acesso ilimitado ao Vaporetto, mas chegando lá percebi que seria simplesmente impossível me movimentar pela cidade sem ele. Logo, comprarmos o tal ticket e já fomos pra primeira estação. Essas estações, que estão na beira do Gran Canal (basicamente a "avenida principal" de Veneza), são onde estão disponíveis várias linhas do barco, cada uma seguindo em um sentido, e com diferentes paradas e às vezes até destinos (mas todos pré-fixados, como ônibus mesmo). 

Outro ponto imprescindível é comprar um mapa. É muito simples se perder em um lugar que não se conhece, mas em Veneza, onde a parte de terra é basicamente composta de corredores que às vezes parecem labirintos, caminhar sem ter como se guiar lá é tarefa praticamente impossível. Logo, mesmo amargando 3 euros no mapa oficial vendido nas cabines onde se compram os tickets pro Vaporetto, não tivemos muita escolha.

Pegamos o primeiro Vaporetto na direção contrária à correta (ele estava no penúltimo ponto e fomos pro último dah!), visitamos um mercadinho, e pegamos outro na direção certa. Sentamos na parte exterior e não-coberta dele (recomendo, pois mesmo podendo ter o sol na cara, é possível ver tudo mais de perto) e fomos rumo à "Piazza di San Marco", um dos famosos pontos turísticos em Veneza. Foram por volta de 20 minutos, onde pudemos andar por uma parte considerável do Gran Canal, e consequentemente ver do barco boa parte da cidade, que é bonita ao ponto de não importar de que ou de onde se tira foto, sempre fica legal! O clima estava maravilhoso, e deu pra celebrar o calor novamente.

Chegando na Praça de São Marcos, vimos uma multidão de gente. A praça é enorme, cercada por museus, cafés, e as famosas Torre do Relógio (que marca além das horas, o dia, a fase da lua e o signo do zodíaco correspondente) e a Basílica de São Marcos. Após darmos uma volta ao longo da praça, decidimos desbravar os corredores de Veneza além da praça, que a essa hora era possível ouvir uma sinfonia de violinos vinda de um restaurante ao redor é muito amor.

Gastamos intermináveis horas andando ao redor das lojas de souvenirs que meus amigos fizeram questão de visitar (nem tudo são flores ao se viajar em grupo, né?), e depois de um tempo procuramos algo simples pra comer. Encontramos um cantinho em uma "viela" e ali mesmo tivemos nosso almoço enquanto assistíamos as gôndolas passando. Depois de mais uma volta pelas lojas, retornamos à Praça pra tentar visitar algo.

No meu roteiro estavam incluso locais como o Campanário e o Palácio dos Dodges (ambos localizados na praça), mas por um misto de ter que pegar fila, desembolsar uma graninha e um pouco de desinteresse dos meus amigos, acabamos visitando apenas a Basílica, que era de graça e não tinha uma fila enorme naquele momento. Não é preciso dizer que o interior é muito bonito, e novamente a riqueza de detalhes é de deixar qualquer um de queixo caído.

Após sairmos de lá, sentamos à beira-mar numa espécie de "estacionamento de gôndolas" (e não, não fizemos esse passeio porque não sou obrigado a pagar 80 euros por 40 minutos de entretenimento e ter que vender um rim pra isso) e engatamos um longo assunto sobre religião, especificamente Cristianismo. Como já disse, meus amigos são coreanos, e no país deles religiões que seguem essa "linha" não são extremamente populares, ainda que um deles seja de igreja protestante. Ou seja, tive mais um daqueles momentos de diferenças culturais que tanto gosto de observar e, mesmo não sendo seguidor do Catolicismo, acabei explicando boa parte dos conceitos que aprendemos no Brasil, maior país católico do mundo. Me senti meio que na obrigação de compartilhar essas informações, pois tendo visitado (e ainda por visitar) tantas igrejas Itália afora, muita coisa pra mim fazia sentido, mas aparentemente pra eles não. Além disso, discussões filosóficas do tipo "Por que as pessoas acreditam em Deus?" ao cair da tarde enquanto brincava com água em Veneza não é algo que eu chamaria de ruim, hehe. 

Depois disso, demos uma passada pela tantas vezes mal compreendida Ponte dos Suspiros (o contexto diz que não tem nada de romântico), resolvemos começar a pensar em um lugar pra jantar e voltar pra casa, pois o cansaço por não ter dormido direito na última noite já batia. Acabamos descobrindo que o sentido de volta do Gran Canal estava parcialmente interditado, e teríamos que andar um bocado até a próxima estação livre. Acabou não sendo uma experiência de todo ruim, pois encontramos um pequeno museu de instrumentos musicais super legal no caminho, assim como um grupo de senhoras e senhores dançando músicas típicas em trajes elegantes numa praça.

Dança típica no final da tarde em uma pracinha em Veneza: <3

Após algum tempinho de Vaporetto, chegamos na parada da estação de trem (Santa Lucia) e fomos procurar algum lugar pra jantar. Um dos meus amigos sugeriu procurarmos um restaurante super recomendado em um blog coreano, e iniciamos uma jornada de mais de uma hora literalmente andando de cima pra baixo pelos corredores e pontes de Veneza, tentando encontrar o tal lugar. Passamos diversas vezes nos mesmos locais, e mesmo pedindo informações não conseguíamos localizá-lo. Após um longo tempo, cansados e morrendo de fome, encontramos o restaurante: F-E-C-H-A-D-O! Lembram quando citei do restaurante recomendado pelo meu amigo italiano que também estava fechado em Como? Pois é, aguarde que tem mais.

Devoramos nossas comidas no primeiro restaurante mais ok que achamos (eu pedi uma pizza e veio algo enooooorme!), e ainda ganhamos uma taça de vinho branco for free. Fomos pra estação pegar o ônibus de volta e encerramos o dia não muito tarde.

Nosso segundo dia começou relativamente cedo, e depois de um bate-papo com dois russos que conhecemos ao tomar café-da-manhã no B&B e levarmos um leve esporro porque só poderíamos permanecer no local por 15 minutos pra não ocupar lugar, partimos em direção à Veneza, dessa vez com foco no outro lado do Gran Canal, que não visitamos no dia anterior. Para isso, e juntando o útil ao agradável, pegamos o Vaporetto rumo à Ponte Rialto, um dos cartões postais de Veneza. O triste é que metade da ponte estava em reforma e não deu pra vê-la em sua totalidade. Aliás, um ponto interessante nessa questão de monumentos que estavam sendo reformados pelos lugares que visitamos (inclusive Milão) é que eles sempre colocam um pano pra cobrir o local que está sendo reformado, mas esse pano sempre tem o "desenho" original da área que está sendo trabalhada, ou seja, pelo menos de longe você sequer consegue perceber que não é de fato o monumento completo. Ideia bem legal essa.

Cruzando a ponte, fomos ao lado oposto, também lotado de lojas de souvenir, especialmente com produtos de Murano, uma das ilhas pertencentes ao "complexo" de Veneza, muito famosa por seus objetos feitos com vidros coloridos e modelados. Nesse momento resolvemos seguir uma das dicas que inseri no meu roteiro: se perder por Veneza. Por mais que isso pareça conselho fútil de patricinha blogueira de moda, realmente é algo muito interessante de se fazer, especialmente quando você já entende a "mecânica" da cidade. Obviamente munidos do mapa, nos enfiamos pelos corredores afora e, apesar de ter o objetivo de chegar na "Galleria Della Academia" (outro ponto turístico), andamos por mais de meia hora tentando apenas manter a direção correta. Isso nos permitiu passar por vários locais bem interessantes e mais escondidos, inclusive uma área mais residencial ainda que bem próxima da "muvuca" central, e um "barco-sacolão", típica coisa só possível de se ver lá.

Ao chegarmos na Galleria, a surpresa: sendo segunda-feira, a entrada era permitida apenas até o meio-dia, com tickets comprados até meia hora antes. Estávamos 15 minutos atrasados #Chateado. Com isso, tentamos nos reprogramar e, enquanto nossa amiga queria visitar o museu Peggy Guggenhein, decidi optar por outro item da minha lista: a igreja Santa Maria della Salute.

Após alguns bons minutos andando, encontramos uma vista bem bonita (já que a igreja ficava com sua entrada virada para o Gran Canal) e outra novidade: a igreja estava fechada para visitação no "horário do almoço" e só estaria aberta dali a uma hora. Desisti. Apenas. #Chateado².

Após uma visita a uma "kebaberia" super em conta pra almoçar, reencontramos nossa amiga, mas dessa vez era meu amigo que queria ir em direção à Lido, outra ilha onde ocorria uma Mostra Internacional de Cinema de Veneza. Pegamos o Vaporetto de novo, e após quase meia hora chegamos lá. Essa ilha já tem um "trânsito" de verdade, com carros e ônibus, mas a verdade é que eu não achava muito prudente gastar um pedaço dos meus 2 dias em Veneza indo assistir filme. Dessa forma, deixamos nosso amigo por lá, com a promessa de nos encontrarmos mais tarde, e nos direcionamos para as ilhas Murano e Burano.

Após mais quase meia hora, chegamos em Murano. Apesar de bastante parecida em estrutura com a parte central de Veneza, ela é bem menos movimentada, e as construções encontradas são basicamente casas dos moradores locais. Existe a famosa fábrica de vidro onde os objetos vendidos são criados, mas confesso que não aguçou muito minha curiosidade, então basicamente parei pra tomar um gelato sempre há tempo pra mais um gelato, passamos em uma igreja simples e demos uma volta pela ilha. Tivemos um fato engraçado, pois as ilhas fora da parte central de Veneza não são tão detalhadas no mapa, então eu e minha amiga basicamente nos perdemos em uma pequena rua que desaguava no mar. Encontramos dois pescadores que não falavam inglês, e só sabiam nos apontar onde era o aeroporto. Detalhe: era em outra ilha, além do mar. Amigo, ainda não aprendi a caminhar sobre as águas.

Já tinha lido que as visitas a essas ilhas não valiam muito a pena, pois não tinham nada demais, e foi exatamente essa a minha sensação em Murano: nada em especial. Aproveitando que já estávamos no meio do caminho, partimos em direção a Burano, com a intenção de vermos algo mais interessante.

Burano é ainda menor que Murano, e na verdade não tem nada além de casas, e pouquíssimos restaurantes e lojas. O legal, entretanto, é que todas as casas têm paredes coloridas, o que dá um contraste bem legal, e deixa a cidade com um ar "fofinho". Cruzamos a ilha até uma parte onde se via o mar, e curtimos o pôr do sol com uma paisagem maravilhosa (tentamos tirar foto mais foi meio fail).

Tentando e falhando ao fazer pose no pôr do sol

Depois de corrermos um pouco pra pegar o próximo Vaporetto, já que nessas ilhas a frequência deles é menor (por volta de 30 em 30 minutos), precisamos fazer baldeação pra pegar outro, e essa viagem toda de volta pra parte central (após voltar pra Lido e pegar nosso amigo) nos tomou mais de uma hora. Isso enfim saciou meu espírito mão-de-vaca de justiça, pois a essas horas estava mais do que provado que o valor do ticket do Vaporetto tinha se pago.

De volta a Veneza, fomos ao restaurante fechado do dia anterior (aberto E com fila dessa vez), e conseguimos comer relativamente bem. No caminho de volta pra pegar o ônibus e ir pra casa, minha amiga encontrou um real (?!) em frente a estação central do metrô. O dia terminou com a sensação de ter aproveitado bastante dessa cidade incrível, e apesar do pouco tempo, tive a sensação de ter conhecido boa parte dela, indo inclusive a pontos que não considerava antes. No dia seguinte, fizemos as malas novamente, e embarcamos pra mais 3 dias cheios de altos e baixos (especialmente pra mim) em Roma. É o que teremos no próximo post!

domingo, 20 de setembro de 2015

Pé na estrada: Itália (Parte 1 - Milão e Como)


Sem muita conversa e depois de alguns dias de sumiço, vamos ao relato de nove dias na linda e quente Itália. Peço desculpas de novo pelo tamanho do post, mas além da explicação inicial, nessa primeira parte estou relatando quatro dias de viagem, ou seja, é bem difícil simplesmente resumir tudo. Mas vamos lá!

Tudo começou há mais de 2 meses atrás, quando eu num momento de cara de pau como poucas vezes na vida questionei um amigo italiano da minha sala se havia um quarto disponível na casa dele para eu e um dos meus amigos coreanos ficarmos, em um final de semana que aconteceria o GP de Fórmula 1, em Monza.

Pausa pra uma explicação rápida: Acho que nunca falei aqui antes, mas já há quase quinze anos acompanho F1 fanaticamente. Mesmo após a era de ouro do Senna e dos brasileiros em geral, sempre me empolguei assistindo, mesmo que isso significasse acordar ou ir dormir nas altas horas da madrugada. Assim que cheguei na Irlanda, já comecei a cogitar a possibilidade de ir para algum país ver uma corrida pois mesmo tendo o GP no Brasil nunca fui, já que é bastante caro. Dentre as opções disponíveis desde que cheguei, a Itália sempre se mostrou a mais viável, considerando passagem, ingresso e hospedagem, que pra esse caso sairia na faixa. Fecha parênteses.

Meu amigo não só gostou da ideia, como incentivou por várias vezes. Depois, dentre várias conversas que tivemos com outras pessoas na época (isso aconteceu também há uns 2 meses), acabamos decidindo por reunirmos todos na terra da Marguerita, encontrando amigos que já teriam deixado Galway e voltado pra suas casas, para desfrutarmos do país e de nossas companhias.

A princípio meu planejamento já que orçamento de intercambista desempregado não é fácil era basicamente assistir o GP e encontrar o pessoal na casa desse amigo, que fica em Como, província da Itália na divisa com a Suiça e muito famosa por seu lago homônimo. A questão é que, indo junto com mais dois amigos coreanos, fui convencido de que não fazia sentido desperdiçar uma oportunidade única de visitar terras italianas e apenas assistir uma corrida. Com isso, acabei desistindo da F1 (apesar de ainda assim mantermos a ideia do mesmo final de semana!), e planejamos uma esticada depois de encontrar o pessoal nos primeiros dias, fazendo um tour por mais alguns outros locais país afora.

Assim, nosso plano se consistiu em 4 dias em Como e Milão, 2 dias em Veneza e 3 dias em Roma. Depois de algum tempo criando roteiro, planejando lugares pra visitar, e reservando acomodações, passagens aéreas, de trem e visitas a museus (aliás, ninguém nunca fala do quanto é cansativo fazer essa parte nada glamourosa das viagens), lá estávamos nós, 3 malucos saindo de Galway para nossa primeira viagem internacional, e em grupo! Detalhe: sequer dormimos no dia anterior, pois o ônibus pra Dublin era 1 da manhã, e antes disso precisamos ajudar uma amiga em uma mudança zumbi: mode on.

A viagem pela companhia preferida dos pobres e oprimidos Ryanair foi tranquila. Não tem conforto nenhum, mas sendo apenas 3 horas e por um preço difícil de se encontrar em outra companhia, acaba sendo justo. Mesmo com um coral de crianças chorando, consegui dormir quase a viagem toda, coisa extremamente difícil de acontecer comigo.

Chegando em Milão (aeroporto Milano Bergamo), algo curioso aconteceu na imigração: meus amigos passaram tranquilamente e sem questionamentos, mas na minha vez, os oficiais perguntaram o que eu estava indo fazer no país. Respondi tranquilamente que estava viajando pelo país com amigos, e um deles me pediu pra ver a passagem de volta. Repliquei que infelizmente ela estava com o rapaz que já havia passado antes, e fizeram uma cara de "ok" (aliás, depois percebi que na verdade NÃO ESTÁVAMOS com a passagem de volta impressa, pois a Ryanair libera o check-in apenas 10 dias antes e ainda não estava disponível, ou seja, poderia ter dado muita merda). Depois ainda questionaram se eu iria na "Expo" (explico depois), e eu disse que havia uma possibilidade. O estranho é que eles perguntaram isso de uma maneira que não entendi se estavam me sugerindo, ou algo como "não acredito que você não vai!". Enfim, qualquer das duas reações, eu não necessariamente esperava nesse tipo de situação!

Na sequência, pegamos um ônibus no aeroporto com destino à estação ferroviária de Milão, onde nosso anfitrião italiano e uma amiga suíça nos esperavam. Após uns 20 minutos, lá estávamos todos, aos abraços e risos depois de alguns meses desde a última vez em que nos vimos. Proseamos um pouco e pegamos um trem com direção a Como, e a essas horas estávamos caindo de fome, pois já era início da tarde. Ah, faltou dizer: a estação é enorme e linda!

Após chegar em Como, ainda precisamos caminhar uns 15 minutos e pegar um ônibus até a casa do nosso amigo. Durante essa caminhada, conhecemos um pouco da cidade, que é super fofa, e pude ter momentos de extrema felicidade ao sentir, depois de quase quatro meses, o que era calor novamente! Pra se ter uma noção da situação, apenas nessa viagem de fato tirei camisas e bermudas da minha mala desde que cheguei na Irlanda! Afinal, esse tipo de "traje" não faz parte do meu dia a dia aqui né! #SadButTrue

Ao chegar na casa do meu amigo (aliás, que casa! Ninguém esperava, mas ele parecia ser a versão italiana do "Riquinho" do Macaulay Culkin, haha!), uma lasanha tamanho família nos esperava! Aliás, tenho a impressão de que os dias em que passamos na casa dele foram os que melhor comi na minha vida!

Depois de um tempinho na "nossa" casa, voltamos a Como pra conhecer o lago. Passamos rapidamente pela catedral da cidade, e já fiquei encantado com a beleza e magnitude da igreja de uma cidade não tão grande, mas que era maior e mais imponente do que todas que já visitei no Brasil. O lago é lindo, e as casas ao redor são bem chiques (George Clooney tem uma mansão lá), e passamos um final de tarde muito agradável, mas não sem antes provarmos a maior delícia da Itália melhor que espaguete e pizza: gellato. Gente, o que é aquilo?! Aliás, me recuso a dizer que gellato é simplesmente sorvete em italiano. Qualquer gellato é melhor do que todos os sorvetes que já provei na vida e ponto!

Nosso amigo precisou fazer uma aula em auto-escola, e acabamos dando uma volta mais longa no lago, e depois de algum tempo de escolha, encontramos um restaurante pra jantar. O lugar era meio chique, mas não nos fizemos de rogados, e como bons intercambistas quebrados, pedimos um macarrão ao pesto amo!, um risoto e uma pizza, e dividimos pra cinco. Além de claro, pedirmos a "deliciosa" e "super em conta" bebida tap water.

No outro dia, depois de uma noite de sono num quarto que improvisaram pra gente que era maior do que meu apartamento todo no Brasil, tomamos um café da manhã com uma torta maravilhosa feita pela "Mama", e jogamos um pouco da versão italiana do jogo de tabuleiro War (acho que nunca joguei esse jogo direito antes, porque dessa vez achei extremamente divertido!). Combinamos na sequência de irmos almoçar na pizzaria favorita do nosso amigo, mas após algum tempo andando, demos com a cara na porta! Atenção: guarde esse evento na memória, vou citá-lo novamente.

Decidimos voltar à parte central de Como, e visitamos outra atração turística da cidade: o bondinho! Ele basicamente sobe um lugar beeeeem íngrime e alto, e após isso há mais de 30 minutos de caminhada até o topo de um parque, que dá uma vista linda da cidade ao longo do lago. Achei bastante cansativo, mas a vista e a experiência como um todo compensam.

Voltando pra casa, a "Mama" do nosso amigo resolveu nos ensinar a preparar o jantar. Mesmo falando um inglês básico, aprendemos como preparar a entrada - bruschetta amo² - e o prato principal: pasta à carbonara amo²³³³²³², além de ter preparado um outro prato chamado Caponada, que mesmo tendo berinjela (que não sou muito fã), era bem gostoso. Sentados à mesa, reunidos com toda família (Mama, Papà, nosso amigo e sua irmã), podemos notar o quanto o processo de se alimentar é importante e sério para os italianos, com todas as etapas separadas e definidas, e até alguns comportamentos metódicos (Papà quase teve um treco quando nossa amiga suíça misturou queijo parmesão na salada!). Tivemos um bom papo, e conhecemos sobre curiosidades da família e diferenças culturais de todos.

No outro dia, acordamos cedo e depois de outro café da manhã estonteante fomos "bater perna" em Milão. Como nosso amigo estava nos guiando (aliás o roteiro que criei pra Milão antes da viagem se mostrou inútil), não me lembro completamente onde fomos. Do que me recordo: demos uma volta ao redor do Castello Sforzesco, um castelo enorme e muito imponente, mas que visitamos apenas a parte gratuita. Depois, fomos na direção da praça da Catedral de Milão, ou em bom italiano a Piazza del Duomo, o principal ponto turístico da cidade. Ela é enorme (como aliás quase toda praça na Itália), e já de longe é possível ver a catedral.

A Catedral de Milão é um show a parte. Ela possui estilo gótico, é simplesmente a quinta maior igreja do mundo, e levou incríveis 6 séculos pra ficar pronta! São tantos, mas tantos detalhes em todos os cantos mínimos que se olha, que seria preciso mais de um dia só pra apreciar o lado de fora. A entrada não é de graça, e pagamos 11 euros em um ticket que dava direito à parte interna, aos "telhados" e a um museu que não entendi onde ficava nem sobre o que era, ou seja, nem fomos. Por dentro ela é linda, mas confesso que por fora achei bem mais bonita. De qualquer maneira, os vitrais que sempre fico vidrado, perdão pelo trocadilho são belíssimos, as colunas que sustentam a estrutura e as esculturas são também um show a parte. O telhado permite uma visão completa da cidade, além de poder se notar mais detalhes da parte externa e a reluzente estátua da Madonnina, que está no ponto mais elevado da catedral (o que quer dizer MUITO alto). A tradição diz que nenhuma construção em Milão é mais alta que a Madonnina.

Após desbravarmos a catedral, fomos almoçar em um restaurante em Milão. A cidade é bem chique, e mesmo tendo aquele ar característico de cidade grande, não me deixou com aquela sensação estranha de Dublin (cheguei basicamente a conclusão de que simplesmente Dublin não é bonita como eu esperava, mas enfim, isso é papo pra depois). Sem ter muito como escapar, fomos também em um restaurante chique. Pedimos de entrada uma seleção de frios, e de prato principal fui de pizza porque né! aos quatro queijos. Aliás, ainda que o restaurante seja chique, percebi que essa separação de entrada, prato principal, etc, é muito comum lá, assim como a cultura de sempre oferecerem uma cesta com fatia de pães logo no início, coisas que só presenciei em restaurantes bem refinados no Brasil.

Depois de pagar a conta, fomos andar mais um bocado pela cidade. Passamos na porta do maior teatro da cidade, o Teatro alla Scala, e voltamos pra "Piazza" pra poder ir pra outro grande ponto turístico: a Galleria Vittorio Emanuele II. O lugar poderia ser considerado apenas um grupo de lojas, mas é tão lindo que mais parece um museu, além de contar com caríssimas chiquérrimas lojas como Prada, Louis Vuitton, Swarovski, Gucci, Armani, e outras que você nem eu terá bufunfa pra se esbaldar. Outro ponto famoso é o "búfalo da sorte". Dizem que se pisar (e dar voltas) nos testículos do pobre animal pintado no chão da galeria, você terá sorte na vida. Não sei se é verdade ou não, mas o coitado já tem um buraco no lugar, e eu preferi não atormentá-lo ainda mais.

Depois disso, continuando o momento "ryca", passamos pelas ruas famosas do "Quadrilátero da moda", sequência de ruas onde estão localizadas várias lojas de roupas. Comentários dizem que mesmo nas lojas mais chiques, o preço em Milão acaba sendo um pouco mais em conta do que no resto do mundo. Como o máximo que estou chegando é na moda de incríveis 2 ou 3 euros na Penneys aqui na Irlanda, declinei a oportunidade. Cruzamos com uma loja da Disney (de novo!), e ganhamos da nossa amiga suiça pulseiras dos personagens do "Inside Out", exatamente um pra cada um. Voltando à infância, yay!

Inside Out!

Pra encerrar o dia, fomos buscar uma outra amiga italiana que não pôde viajar antes, e concluímos o dia tendo um jantar composto por bisteca à milanesa. E teria um lugar melhor, rs?

Nosso último dia em Como/Milão começou cedo, e embarcamos cedo rumo a famosa Expo. Como prometi, vai aqui a expolicação (desculpa, não resisti): A Expo, também conhecida como "World Fair", é um evento que reúne centenas de países em torno de algum tema em específico. Pra se ter uma ideia da importância e da idade do evento, a Torre Eiffel foi construída como ponto de entrada da Expo de Paris, em 1889. No ano de 2015, ela está sendo realizada em Milão, de 1º de Maio a 31 de Outubro, reunindo mais de 140 países sobre o tema: comida. São esperados mais de 20 milhões de espectadores durante o período, nos mais de 1 milhão de metros quadrados construídos para a exibição de uma plataforma de troca de ideias e soluções sobre o tema da comida, com sugestões de inovação sobre um futuro sustentável, sendo possível encontrar e provar pratos de todo o mundo, enquanto se descobre o melhor sobre as tradições gastronômicas dos países participantes sim, eu traduzi a descrição.

Resumindo muito a história: andamos o dia inteiro pelos pavilhões dos países participantes, onde era possível perceber ainda nas construções (normalmente eram quase prédios), características de cada nação, bem como a estrutura padrão dos países que não tinham condições de bancar algo mais elaborado (especialmente os da África). O lugar é imenso, e sendo um sábado, estava também lotado. Apesar da entrada ser paga (com os contatos do nosso amigo pagamos "apenas" 20 euros, ou seja, quase metade do valor original), a comida disponível "em cada país" também era vendida.

Visitamos a Bélgica (além de provar as originais "Belgium fries" chupa French fries), comemos uns petiscos na Espanha, e por motivos das nacionalidades do grupo, fomos: a um stand/fábrica da Lindt (Suíça), ao pavilhão da Coréia (muito tecnológico e com muitas informações sobre o processo de preparo de seus pratos tradicionais) e ao pavilhão do Brasil. Esse tinha uma espécie de rede/cama elástica gigante na entrada que fez a alegria de todos que esperavam em torno de uma hora nas filas até conseguir entrar, já que esse era o tempo padrão "em cada país". Além dessa estrutura e de uma parte que exibia várias plantas típicas que não entendi o contexto, internamente era possível obter informações sobre vários aspectos da agropecuária do nosso país, sempre com números estratosféricos mostrando o quanto o Brasil é grande em extensão, e um enorme produtor em diversos setores. Claro que as coisas estavam apresentadas de uma maneira mais "bonita" do que sabemos que realmente é, mas prefiro deixar quieto. Uma observação para a parte de "souvenir", sempre bem completa e com preços relativamente justos nos outros pavilhões: no Brasil tinha uma lojinha com meia dúzia de coisas a preços exorbitantes, um bar vendendo caipirinha a 10 euros (faça-me o favor!!!!!) e um restaurante com um cardápio bem simples a quase 50 euros. Amiga, não tem como te defender!

Já exauridos e bem tarde, saímos da Expo e fomos pegar o trem de volta pra Como, onde Mama e Papà nos aguardavam pra nos dar carona, pois já não havia mais ônibus aquele horário. A cara de pau só não foi menor porque dali a poucas horas iríamos novamente contar com a ajuda deles. Explico: compramos as passagens de trem pra Veneza num horário muito cedo (6:25 da manhã), imaginando baseado em nada que a casa do menino fosse perto da estação. O problema é que, como disse antes, precisamos pegar um ônibus e um trem pra chegar em Milão, e simplesmente não havia ônibus antes daquele horário! Até cogitamos pegar um táxi, ou passar a última noite em um hostel em Milão, mas os preços eram absurdos, e nosso amigo não deixou S2 nossa família italiana.

Assim, nas primeiras horas do dia no domingo, apenas pegamos nossas tralhas malas, nos despedimos dos nossos amigos mais uma vez :'( e partimos rumo à Veneza. Nossos dias em Como e Milão foram ótimos, e poder estar com amigos, viajando num lugar tão bonito, com clima e comida agradáveis, já tinha feito da nossa primeira etapa da viagem algo pra nunca mais esquecer. E olha que tava só começando...