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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A turma do barulho! - Parte 3


E antes tarde do que mais tarde nunca, vamos à nossa terceira entrevistada!

A convidada de hoje é a japonesa Yui. Conheci ela na minha antiga sala, quando ela subiu de nível. No início ela era extremamente tímida, e estava mais naquela coisa de "amigo de amigo". Mas depois nos aproximamos e pude conhecê-la um pouco mais. Yui é uma pessoa super interessante pois, ao mesmo tempo em que é quieta e reservada, não nunca deixa de contestar e de tentar provar que está certa em uma discussão que a envolva. Ah, e foi ela quem criou esses nossos "avatares" (muito parecidos com a gente) já há algum tempo, e eu resolvi usar aqui! Enfim, simbora!



Quem é você?

Eu sou Yui Kanamori, e eu sou japonesa. Eu tenho 21 anos.


De onde você é (cidade e país)?

Eu sou de Fukui, no Japão. (Pergunto se é perto de Tóquio). Não, é perto de Kyoto e Osaka. (claro que eu tive que perguntar como se escreve cada um desses lugares).

(Pergunto se é uma cidade pequena). Sim, é pequena. E é conhecida como a cidade menos famosa no Japão. Mesmo alguns japoneses não sabem onde ela fica!


O que você faz?

Eu sou estudante universitária, e eu estudo Estudos Culturais Comparativos (nem sei se essa é a tradução correta, pois foi a primeira vez que ouvi falar disso). É muito difícil de explicar, então eu prefiro evitar falar sobre isso, hehe.

(Falei apenas para rapidamente me dizer o que ela compara). É muito difícil de explicar! Porque... dentro desse tema eu estudei um monte de coisa como... educação, gênero (homem e mulher, no caso), essas coisas... Mas é algo a respeito do mundo em geral, não só no Japão.


O que você acha da Irlanda e de Galway em geral? Você consideraria morar aqui? Por quê?

Antes de vir pra cá eu queria viver uma experiência em um país com clima como esse, e eu achava que seria bom viver em um lugar assim, mas quando eu cheguei aqui eu percebi que o clima era ruim, e que ventava muito! E por conta do vento nós podemos ser "atacados" pela chuva (experimente a sensação de pegar chuva num lugar que venta muito e verá que a expressão atacar não é exagero).

Mas eu gosto daqui, porque eu não gosto de cidades grandes. Eu gosto de cidades pequenas como Galway. Eu acho que eu poderia permanecer aqui, mas eu não quero, pois é bem caro em comparação com o Japão.


Acha que ter vindo morar/estudar aqui valeu a pena? Por quê?

Sim... Talvez... Tipo isso... Porque, como eu disse, é uma cidade pequena então se você quiser você pode focar em estudar, pode focar em algo, se você quiser.

Eu pude viajar por alguns países, e foi muito bom. No Japão isso seria bem difícil de acontecer, eu acho, na verdade eu não sei. Eu não viajei muito, mesmo no Japão, então eu não tenho certeza. Mas nesse país, devido à sua localização é muito fácil viajar pela Europa, sendo a Irlanda um país europeu. Foram experiências muito boas, e é bem barato viajar aqui.

Então se você fizer amigos aqui, você pode viajar muito, e aproveitar muito... Se você está sozinho eu acho que pode ser difícil, mas talvez estando com amigos pode ser bom viver aqui, eu acho.

(Pergunto a ela há quanto tempo ela está em Galway). 7 meses, e fico mais um mês.


Pôde aproveitar da curta distância entre a Irlanda e outros países europeus pra viajar? Qual foi sua melhor viagem? Pensa em viajar mais? Onde?


Sim, muito! Eu fui pra Bélgica, Escócia, Itália, França, República Tcheca, Alemanha e Holanda.

Na verdade é difícil de decidir (qual foi a melhor viagem). Porque quando eu fui pra Bélgica, eu achei realmente um lugar muito bom, muito legal de estar. Com comida boa, paisagens bonitas, mas pra ser sincera eu não aproveitei muito por conta de uma amiga! Ela foi bem incômoda, e eu precisei ser bem paciente a viagem inteira! Foi bom, mas...

Outro lugar também legal foi a Itália, porque eu fui pra lá com meu namorado (ele veio do Japão pra viajar com ela), e em todo lugar tinha boa comida, e tudo era delicioso, eu aproveitei muito. É um lugar histórico, e a gente pôde aproveitar muito.


Cite algo interessante sobre seu país que acha interessante dizer a estrangeiros.

Nós temos uma coisa que é bem famosa entre estrangeiros, e mesmo entre japoneses: "comida japonesa de mentira" (tradutor sofre!) No Japão, nós temos vários "exemplos" de comida em frente aos restaurantes, mas é de mentira, ninguém pode comer! Elas são de mentira, mas a aparência é muito real!

(Perguntei qual era o propósito disso). É pra mostrar o que se oferece no restaurante. E aí as pessoas entram lá e fazem o pedido da comida. E a qualidade desses "exemplos" é muito alta! É impossível reconhecer se é de verdade ou não. É algo muito interessante, eu acho.


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (e que eu não tenha te contado).

Eu ouvi dizer que os brasileiros gostam do Japão! Sim, eu ouvi isso! Eu não sei o porquê, mas sim! Quando eu estava no Japão a imagem que eu tinha era que o Brasil é um país iluminado (ela está falando de sol, não de questões religiosas, por favor). Eu não sei o quê dizer! E um lugar divertido. Carnaval, Rio... Ah, e todos os japoneses sabem que nós estamos no extremo oposto do Brasil (a bendita história de que se cavarmos um buraco no Brasil, chegaremos no Japão pelo visto também existe lá, mas ao contrário).

(Perguntei se ela conhecia o Ayrton Senna. Pra quem não sabe, na "era de ouro" dele, ele também era ovacionado na terra do sol nascente). Eu acho que sei, mas não tenho certeza. Na verdade eu sei, porque eu me lembro do caracter japonês que representa Ayrton Senna (que na verdade soou como Airito Sena, hehe).

(Também comentei sobre um técnico brasileiro que esteve por um tempo no Japão). Zico! Zico, eu conheço!


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (que você não sabia e que eu te contei).

Brasileiros usam "né" (sim, é mesmo verdade que temos isso em comum, o mesmo som e o mesmo significado!). Porque na verdade ontem eu estava usando o Facebook, e eu vi um comentário seu em português e estava escrito "né". E eu fiquei, tipo: "Ele usou isso!!". Eu fiquei impressionada. "Ele realmente usou isso!"


Deixe um recado pra quem for ler isso.

Sair do meu país foi uma experiência muito boa pra mim. Eu pude ver as coisas por um aspecto diferente. Eu conversei com muita gente de outros países, e às vezes eu ouvi deles coisas impressionantes, às vezes coisas tristes, às vezes coisas engraçadas, enfim, um monte de coisas.

Eu recomendo a você que viaje pra fora do seu país, e que possa ver as coisas por um aspecto diferente. E talvez assim você possa ver as coisas de uma maneira diferente, de um jeito que você não via antes.

Eu sempre ouvi que existem vários japoneses legais, mas também existem vários estrangeiros legais, e existem alguns japoneses que eu não gosto também! Então, acho que nós podemos ver as pessoas pelo que elas são, sem estereótipos, tipo isso.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A turma do barulho! - Parte 2



Continuando as entrevistas, o bate-papo de hoje é com o Paul. Assim como o Claude, eu conheci o Paul em um pub (na verdade, eles estavam juntos nesse dia). A história deles é interessante, pois eles têm um amigo em comum na Coréia, mas não foram apresentados anteriormente, e só foram se conhecer aqui, completamente por acaso quando caíram na mesma turma na escola.

Apesar de passarmos menos tempo juntos (já que ele está sempre viajando), gosto das nossas conversas porque com ele posso falar de assuntos mais filosóficos e ter uma conversa de gente velha um pouquinho mais madura. Se liga!



Quem é você?

Meu nome é Paul, mas esse é meu nome em inglês, pra ser mais fácil de ser dito. Meu nome em coreano é Ungseok Jung (algo como Unsó Jóng). Meu nome é Ungseok e meu sobrenome é Jung. Eu tenho 24 anos, e na Coréia eu tenho 25.


De onde você é (cidade e país)?

Eu sou de uma cidade chamada Daegu (soa como Dégu), na Coréia do Sul, a qual é localizada no meio do meu país. É uma cidade grande, e é conhecida por ser a quarta maior cidade da Coréia (por ser um país pequeno, eles não possuem o conceito de estado, como no Brasil).


O que você faz?

Eu sou estudante de nível superior, e meu curso é ligado à aviação, relacionado ao tráfego de aviões, e basicamente o que eu vou fazer é controlar os aviões no ar para evitar acidentes, então provavelmente eu trabalhar numa torre de controle. Eu ainda preciso concluir o último ano do curso, então quando eu voltar eu preciso reiniciá-lo pra concluir minha graduação.

Eu já terminei o serviço militar obrigatório no meu país, mas há dois anos atrás eu precisei entrar lá, por 21 meses. Foi difícil porque tudo é mantido sob controle, e eu não podia fazer nada por minha vontade. Tudo que eu fazia eu precisava antes ter uma permissão.


O que você acha da Irlanda e de Galway em geral? Você consideraria morar aqui? Por quê?

Hmm... Antes de vir pra Galway, Irlanda, eu imaginei o país como sendo um lugar com música em todo canto, porque meu primeiro contato com o país foi através do filme "Once" (pra quem não conhece, é um filme/musical muito famoso que se passa em Dublin e que eu não gosto). E lá falava muito de música, e dos músicos de rua (buskers) cantando em Dublin, então eu pensei: eu gosto de música, então eu gostaria de ir pra lá.
Em se tratando de Galway, eu gosto dessa cidade, mas às vezes eu não gosto, porque chove muito, e principalmente porque eu morava um pouco longe do centro da cidade (25 minutos a pé), então se chovesse eu me molhava muito, e quando eu chegava em casa eu parecia alguém que havia acabado de sair de uma piscina!
A cidade é calma e tranquila em comparação com outras cidades aqui, mas eu gosto da cidade e essa foi a razão pela qual eu a escolhi. Eu não queria ir pra um lugar e viver uma vida estressante. Eu gosto daqui.

Pra sempre? Em Galway? Você tá brincando? Eu disse que eu gosto do país, mas a questão é, pra aprender inglês é muito bom, mas ficar aqui permanentemente seria um inferno! Eu jamais me acostumaria com esse clima, porque chove muito. Se eu tivesse um carro e uma casa própria eu poderia considerar. Se eu tivesse dinheiro suficiente, eu acho que poderia ficar. Do contrário eu escolheria outra cidade pra viver se eu tivesse que escolher e não voltar mais pro meu país.
(Pergunto se seria outra cidade na Irlanda ou outro país). Outro país! Porque chove muito aqui e eu não sou muito bom em lidar com mau tempo, ainda mais sendo inútil usar guarda chuva aqui! Eu já quebrei vários porque o vento é muito forte, e eu não quero gastar mais dinheiro comprando guarda chuva!


Acha que ter vindo morar/estudar aqui valeu a pena? Por quê?

Pra mim é uma boa chance, porque é a minha primeira experiência vivendo fora, estando longe do meu país. Eu nunca tinha vindo à Europa antes, e eu nunca tinha visto tal quantidade de estrangeiros, então eu acho que vale a pena. Eu gastei muito dinheiro vivendo aqui (como eu, ele não trabalha aqui), mas considerando outros países de língua inglesa, como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá ou Austrália, o preço é um pouco mais em conta. Então, se você tiver que aprender inglês, se quiser aprender inglês eu acho que a Irlanda é uma boa opção pra viver e aprender a língua. Eu nunca vivi num outro país que falasse inglês, mas eu acho que na Irlanda você pode encontrar uma diversidade maior de nacionalidades. Eu ouvi dizer de um amigo que foi pro Canadá, que lá ele só conheceu pessoas da Ásia e Arábia, o que não é muito bom se você quer conhecer mais culturas e pessoas. Então eu acho que de certa forma é o melhor país pra aprender inglês.


Pôde aproveitar da curta distância entre a Irlanda e outros países europeus pra viajar? Qual foi sua melhor viagem? Pensa em viajar mais? Onde?

Sim, eu visitei vários países aqui, como França, UK, Bélgica, Áustria, Itália, Espanha, República Tcheca, Alemanha, Noruega, Suécia...
Minha melhor viagem foi em Munique, porque eu tenho boas memórias dessa cidade. Eu estava com amigos que vieram da Coréia pra me ver e viajarmos juntos. E nós ficamos numa acomodação legal, e nós fizemos umas festinhas lá. A cidade à noite é muito bonita. E na minha opinião pessoal, eu gosto de beber cerveja. E a cerveja alemã é a melhor cerveja do mundo! Então toda noite, todos os dias em que eu estive em Munique foram dias fantásticos!

Eu pretendo viajar mais, com certeza! Viajar é na verdade uma das minhas principais razões para ter vindo pra Irlanda, porque é perto pra viajar para países europeus, então eu quero usar dessa oportunidade tanto quanto eu puder.

Com relação a planos, eu vou pra Holanda em novembro, pro Marrocos, na África, em dezembro, e pra Suíça também em dezembro. E antes de voltar pro meu país, eu vou pra Turquia. Se eu tivesse a oportunidade de voltar a algum país, eu voltaria pra Espanha, para o sul da Espanha. Mas não pra Barcelona! (ele teve sua mochila, com carteira e celular, furtados em um parque lá). E gostaria de ir pra algumas cidades não muito famosas na França, como Nice. Sul e oeste da França.


Cite algo interessante sobre seu país que acha interessante dizer a estrangeiros.

Eu conheci alguns estrangeiros na Coréia, e eu perguntei a alguns deles qual foi a coisa mais interessante que eles conheceram lá, e eles disseram: o serviço de entrega! Porque em todo lugar eles entregam! Por exemplo, tem um rio gigante no meio da minha cidade, e nas proximidades tem um parque, que é facilmente acessível indo de metrô. E eles estavam lá, é só precisaram ligar pra um restaurante, tipo KFC, e eles entregaram lá! Então não importa onde você esteja, eles vão entregar! (Perguntei se era possível entregar mesmo em qualquer lugar, no meio da rua). Sim! Se você souber explicar onde você está eles vão, usando uma moto.

(Perguntei se até no meio do mar trocadilho de "sea" com "street") Tá brincando? Jesus! Sério? Mas posso contar uma história? Tem uma ilha, longe das ilhas consideradas grandes, e que também são longe da ilha principal na Coréia, e nesse local eles sequer têm restaurantes. Então as pessoas que visitam lá tentam conseguir comida das outras ilhas, e isso é possível, usando um barco! Eles pedem comida chinesa, por exemplo, de outra ilha, e se usam barcos pra chegar lá e entregar a comida. É mais comum pra turistas, mas até os nativos podem pedir. É interessante porque é diferente, uma cultura diferente.
(Pergunto se é preciso alugar um barco, ou se tem algo comunitário e todos usam ao mesmo tempo) Na verdade eles apenas pegam emprestado, e eles só cobram um pouco mais pois dá trabalho, pela distância e tudo mais, mas não é comum ter um barco só pra fazer entregas. É isso o que eu queria dizer de interessante sobre o serviço de entrega. Não importa onde você estiver, hehe!


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (e que eu não tenha te contado).

Me deixa pensar, me dá uns minutos... (tentei exemplificar mais a pergunta) Bom, o que eu sabia de estereótipo do Brasil, dos caras brasileiros é que todo cara no Brasil gosta de futebol, festa e samba. Mas eu acho que não é verdade, porque eu ouvi de você que não é bem assim. Mas a maior coisa era que eu pensava que todo mundo no Brasil já havia visitado a Amazônia, o que é mentira, porque eu não conheci nenhum brasileiro aqui que tivesse ido lá!


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (que você não sabia e que eu te contei).

Bom, você corrigiu o estereótipo que eu tinha, e recentemente sobre a situação política no Brasil, que vocês estão meio que em pânico. Desculpa, "meio em pânico", haha! Bom, boa parte dos políticos no Brasil não são muito honestos, e ouvi dizer que existem muitos traficantes lá, mas eu achava que isso estava associado apenas ao México, e agora eu vejo que é mais ou menos a mesma coisa entre todos. (nesse momento eu disse que com maior ou menor intensidade, quase todo país na América do Sul têm problemas desse tipo). Ah ok, muito honesto da sua parte, hehe, quase todo país na América do Sul!

Uma das coisas mais interessantes sobre o Brasil é o futebol, porque em se tratando de futebol, Brasil é o melhor país do mundo, mas atualmente eu não sei o que tem acontecido!

O primeiro grupo de pessoas em que eu estive aqui foi um de brasileiros, eles gostam muito de festa, seja na casa de alguém ou não, e eles gostam de um tipo de "música sensual" e clipes desse tipo, e as mulheres estão quase nuas e dançando, e balançando a bunda. E elas estão muito felizes! Isso foi meio assustador pra mim. A gente tem algo parecido na Coréia, mas é tudo meio escondido, e com eles não, eles gostam de ver e mostram pra todo mundo, compartilham com amigos, essas coisas.


Deixe um recado pra quem for ler isso.

É meio difícil responder isso! Qualquer coisa? Quem é que vai ler isso? (ele começou a perguntar sobre leitores, o tema do blog, etc). Bom, se os seus leitores estiverem interessados na vida na Irlanda e em Galway e estudar inglês, eu acho que deve ser sobre isso que eu devo falar.

Eu altamente recomendo você, que eu não sei quem é, trazer bons agasalhos, sapatos, mochilas e roupas em geral impermeáveis, e tudo mais. Se você ainda não decidiu onde estudar inglês, Galway é uma boa cidade pra estudar, na minha opinião, mas depende de quem você é (o leitor, no caso). Mas se você está consciente de como seria sua vida aqui em Galway, eu acho que essa é meio que a melhor cidade. Se você tem muito dinheiro, vá pra Londres, porque é uma cidade muito legal... Meu Deus, sobre o quê eu tô falando? (questionei se ele estava falando sobre viajar ou estudar em Londres). Tudo lá é bom, o sistema educacional, e faculdades, e tudo mais, tudo é ótimo, eu acho. Mas é muito caro.

Se está planejando vir, você deveria estudar inglês o máximo possível antes pois, por mais que as coisas aqui sejam diferentes da sua escola de inglês, não há muito tempo pra aprender vocabulário (se você já quiser chegar "falando"). Se eu fosse você, eu tentaria memorizar o máximo de vocabulário possível, ou o máximo de gramática possível, pois aqui é o momento perfeito pra praticar seu vocabulário e gramática, e não pra só aprendê-los. É isso, eu estava me sentindo sobre pressão, mas foi legal. Obrigado!

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A turma do barulho! - Parte 1

 
Já citei os amigos que tenho aqui em Galway várias vezes nesse blog. Alguns com um pouco mais ou pouco menos de presença, mas o fato é que estamos normalmente juntos, seja fazendo muita coisa você quis dizer: comida, ou não fazendo nada mesmo.

Com isso, e somado ao principal sentimento que obtive nesse intercâmbio (uma enorme curiosidade por diferentes culturas e hábitos), resolvi adaptar uma ideia antiga do blog do Rick, e o propósito dessa semana é ter posts diários de entrevistas com meus amigos!

Foram feitas as mesmas perguntas pra eles, e minhas eventuais observações estão entre parênteses. Sem mais delongas, o primeiro da lista é o Claude. Claude foi basicamente o primeiro amigo que fiz aqui. Apesar de sermos da mesma sala na época, nos conhecemos e batemos um longo papo num pub coisas da Irlanda, no famoso "Pub Night" organizado pela escola, quando semanalmente todos alunos são convidados a visitar o mesmo pub e interagir entre si e entre os nativos. Com seu jeito inocente, o considero o irmão caçula que não tive Camila, estou falando apenas de irmão caçula, do sexo masculino! Não estou te substituindo! Vamos conhecer mais sobre essa galera! Prometo que você vai se surpreender!



Quem é você?

Quem sou eu? Meu nome é Claude, meu nome em inglês é Claude (alguns asiáticos, ao virem pra cá, decidem usar um nome "comum" em inglês como seu nome, devido à dificuldade que as pessoas podem ter pra pronunciar corretamente). Na verdade meu nome na Coréia é Seul Gi Kim, e meus amigos me chamam de Seul Gi. Eu tenho 24 anos, mas quando eu voltar pra Coréia eu vou ter 25 anos, porque a gente tem uma forma diferente de calcular a idade. Eu estou em Galway há cinco meses e tenho por volta de mais dois meses aqui ainda.


De onde você é (cidade e país)?

Eu sou da Coréia - e não é a Coréia do Norte!, e a cidade é Daejeon (soa como Tê-djân). O nome da cidade é baseado no alfabeto chinês, e traduzindo significa "grande território".


O que você faz?

Antes de vir pra Irlanda, eu estava estudando, numa universidade. Meu curso é Engenharia da computação. Eu estudei por 3 anos, e eu tenho que completar mais um ano. Eu tive que interromper porque eu quis vir pra cá, e agora eu estou estudando inglês, e trabalhando pra me manter aqui. Assim que eu entrei na minha universidade, eu decidi entrar na banda de lá, porque eu gosto de música, e gosto de cantar. Eu permaneci lá por 2 anos, e na verdade eu não estudei quase nada nesse meio tempo.

Depois eu precisei parar meus estudos pois eu fui pro serviço militar por 2 anos, porque na Coréia o governo nos obriga a fazer isso. Depois disso eu voltei pra universidade por mais um ano, mas aí eu pensei: "Eu quero estudar inglês, porque eu gosto muito da língua", e aí eu parei o curso de novo pra vir pra cá.

Então foram dois anos estudando na universidade, dois anos no serviço militar, um ano de novo na universidade e agora indo pra um ano aqui, ou seja, quase 6 anos. E teve mais, porque antes de chegar aqui eu passei um tempinho na Índia. Na verdade isso fazia parte do programa de estudar inglês, então eu fiquei lá por 2 meses.


O que você acha da Irlanda e de Galway em geral? Você consideraria morar aqui? Por quê?

Essa é uma boa pergunta, hehe. Na verdade tem algumas coisas que eu preciso dizer sobre a Irlanda, porque é tudo completamente diferente da minha vida na Coréia, então tem um monte de coisa relacionada a outras pessoas, outros países...

Primeiro de tudo, eu acho que a Irlanda é um bom lugar pra se viver, especialmente com relação a pessoas, porque as pessoas daqui, de Galway, são muito gentis. Claro que na Coréia nós somos gentis e temos um bom coração, mas é um pouco diferente. Por exemplo, aqui, independente da pessoa conhecer a gente ou não, eles sempre nos cumprimentam nas ruas, esse tipo de coisa, e eles me passam uma boa impressão.

Com relação a morar aqui por um longo tempo... quer saber? É muito difícil dizer. (Pensando por um tempo). Julgando até agora, eu não sei dizer... (Pensando por mais um tempo). Pra ser sincero, como eu disse, minha formação será em Computação, e poder estudar aqui nessa área seria ótimo, pois é dito que a Irlanda é um dos melhores lugares pra se estudar TI, então por que não? Mas é legal mesmo estudando inglês, que será algo importante pro meu futuro na minha carreira, então o que eu quero é poder usar e aprender inglês o máximo possível até que eu possa conversar com qualquer pessoa. Então tem esses dois aspectos, e nos dois eu acredito que a Irlanda seria uma boa opção. Mas também tem a questão de ser filho único, e acho que seria complicado decidir viver fora do meu país. Além do que, vivendo na Coréia eu também poderia ter a oportunidade de usar inglês, trabalhando lá, ou representando a empresa em outro país. Basicamente eu não sei nada sobre meu futuro, hehe. Mas é isso, se eu tivesse a chance de trabalhar aqui, eu acho que eu tentaria.


Acha que ter vindo morar/estudar aqui valeu a pena? Por quê?

Em termos de estudar inglês por um ano? (eu disse: sim, também, mas avaliando o todo). Eu acho que realmente vale a pena. Isso é irrefutável, hahaha! (a gente tinha aprendido essa palavra em inglês durante a semana). Porque como eu disse, eu não sei absolutamente nada sobre meu futuro, e pode ser que lá eu me arrependa de algo, mas minha sensação agora é que vale a pena. Primeiro pela questão do inglês. Quer dizer, meu inglês não é perfeito, mas em comparação com como eu cheguei aqui eu sei que evolui. E segundo, pela oportunidade de conhecer pessoas. Por exemplo, pessoas da própria Coréia, Brasil, Itália, Suíça, etc, e poder fazer isso na nossa idade eu acho muito legal. E poder ter viajado para rever amigos (conforme falei aqui), manter contato, e combinamos de nos encontrar no meu país é demais! Pode ser que eu me arrependa no futuro, mas poder ter tido essas experiências com vocês, mesmo tendo que suspender meus estudos na Coréia enquanto meus amigos continuam o curso, valeu a pena.

E eu queria dizer mais uma coisa: na Coréia, quando estamos terminando o ensino médio, temos uma pressão absurda para decidir sobre nosso futuro, e depois de concluir a universidade precisamos procurar emprego. Todo mundo faz isso, meus amigos e até meus pais esperam isso de mim, pois do contrário você seria uma pessoa que falhou na vida. E no meu caso eu não tive muito tempo pra pensar no futuro, sobre o que eu gosto ou o que eu sei fazer, qual seria o meu propósito ou meu sonho. A gente se sente muito pressionado com relação a isso, e talvez seja esse o motivo pelo qual muitos coreanos parecem não ter sonhos. Então aqui eu me sinto no tempo perfeito, até por maturidade, pra pensar a respeito disso. Ainda que eu tenha mais um ano na universidade, eu acho aqui um bom momento pra isso. Enfim, acho que esse ano aqui tem sido muito bom, e legal, e adorável. É irrefutável! É isso.


Pôde aproveitar da curta distância entre a Irlanda e outros países europeus pra viajar? Qual foi sua melhor viagem? Pensa em viajar mais? Onde?

Na verdade até agora eu só viajei pra um país (Itália), com meus amigos daqui e pra nos encontrarmos com nosso amigo italiano, e viajamos também para outros lugares lá, como: Milão, Como, Veneza e Roma, e depois que meus amigos voltaram pra Irlanda eu ainda fui pra Florença sozinho. Foi muito legal, pois as pessoas sempre dizem que viajar é maravilhoso, mas eu não entendia o porquê, qual seria o propósito delas. Eu até perguntei pra algumas, e elas disseram que era pela possibilidade de conhecer novas pessoas, novas culturas, ou até porque elas gostam de beber, ou comer. E eu ainda fiquei com essa dúvida. Mas pra mim, depois da minha viagem pra Itália, o propósito maior seria ter boas recordações, especialmente estando com pessoas legais. Pra mim, sequer importa o país, ou o quanto incrível possa ser um monumento, ou o quão grande é uma igreja. Claro que poderia ser fantástico vivenciar esse tipo de coisa, mas eu penso que viajando sozinho não seria a mesma coisa. Acho que mesmo indo pra um lugar que nem parece ser tão legal assim, se estiver com amigos, já valeria a pena.

O lugar que eu mais gostei foi Veneza, pois é completamente diferente de qualquer outra coisa. O segundo seria Florença, porque é muito bonito.

Na verdade eu não fiz nenhum planejamento ainda, mas comprei as passagens pra Suíça e pra Londres. Além desses, eu pretendo ir pra Alemanha, República Tcheca, Espanha, Marrocos e talvez Bélgica ou França, depois de concluir as aulas de inglês aqui.


Cite algo interessante sobre seu país que acha interessante dizer a estrangeiros.

Algo diferente pode ser algo interessante, né? Na Coréia eu diria que as pessoas, o jeito de pensar das pessoas, pois eu acho que é bem diferente em comparação com pessoas da Europa ou da América. A Coréia é um país conservador, o que pode na verdade ser uma desvantagem pra eles, pois isso os faz ser tímidos, porque a gente fica meio reprimido ao conhecer uma pessoa. Logo depois nós criamos uma conexão forte com a pessoa, mas ficamos sempre naquela: "será que ela vai gostar se eu fizer isso?". Nós pensamos demais, especialmente com relação a pessoas mais velhas, o que é uma característica especial do povo coreano, e faz parte da nossa cultura.


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (e que eu não tenha te contado).

Na verdade, desde que eu te conheci, eu aprendi várias coisas sobre o Brasil, tais como: corrupção, assalto, mas não só coisas ruins, como pessoas boas, etc. Mas antes disso, eu tinha na minha cabeça um certo estereótipo a respeito do Brasil, como: eles têm várias árvores, e montanhas, a maioria das mulheres são bem sensuais, se eu visitasse o Brasil eu veria cobras gigantes, tipo anaconda, e eu deveria tomar cuidado com esse tipo de coisa. Também aranhas, macacos, e um lugar muito quente. Ah, eles têm a melhor seleção de futebol do mundo, e eles jogam de amarelo.


Cite algo que você sabe sobre o Brasil (que você não sabia e que eu te contei).

Eu fiquei um pouco chocado quando você me disse certas coisas a respeito de corrupção e assalto, a segurança em geral no Brasil foi um pouco chocante, porque quando você comentou da primeira vez eu achei que não era algo muito sério, mas depois eu pude ouvir de outros brasileiros também, e vários deles já tiveram alguma má experiência desse tipo. Além de certas "zonas" onde pessoas perigosas podem viver (contextualizando, há um tempo eu expliquei o conceito de favela pra ele, mas também disse que lá existem boas e más pessoas, como em qualquer lugar).


Deixe um recado pra quem for ler isso.

Jesus! Não tem nenhum tópico ou algo do tipo? Hmm... (pensando e reclamando que é muito "aberto"). Acho que posso falar sobre meu sentimento ao terminar a entrevista? Bom, na verdade ter vindo pra Irlanda, e ter a experiência de conhecer várias pessoas pra mim valeu muito a pena, e eu estou muito feliz. Então... Eu sou o Claude... É isso!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Acomodação: o lado "de lá" da história


Tudo começou um pouco antes da minha viagem pra Itália, quando o casal de italianos com quem eu dividia a casa aqui comunicou que eles estariam de mudança em mais ou menos 2 meses, pois alguns amigos viriam da terra da Margherita tentar a vida aqui em Galway, e eles passariam a dividir uma casa entre si. Fiquei triste, pois minha relação com eles sempre foi muito boa, como já citei aqui antes, e de fato os considero amigos.

Com isso, a primeira ideia que eu e a outra housemate espanhola tivemos foi de dessa vez entrevistamos e escolhermos nosso novo companheiro de casa. O objetivo era tentar evitar o acontecido da última vez, quando nosso landlord apenas mandou uma pessoa pra nossa casa, e acabamos descobrindo ser uma pessoa com jeito e comportamento diferentes dos nossos, que pouco interage e parece viver num mundo à parte. Vale observar que obviamente cada um tem seu estilo de vida e ninguém precisa prestar contas do que faz ou deixa de fazer ao estar dividindo uma casa, mas a ideia inicial da minha housemate sempre foi tentar buscar alguém com o mínimo de coisas em comum o que praticamente excluiria irlandeses e sua fama de pouca higiene.

A princípio, ela quis limitar bastante as características da pessoa "ideal": não deveria falar espanhol ou português eu não participei disso, não poderia ser casal, e preferencialmente mulher. Precisei gastar alguma lábia com ela e convencê-la, pra que a gente conversasse com as pessoas primeiro, e não apenas julgar baseado em nacionalidade ou gênero. Sempre tive uma ótima relação com ela (ainda melhor do que com os italianos), mas já comecei a imaginar que seria difícil chegar a um acordo pro final dessa história.

Como já deve estar claro pelo que mencionei algumas vezes aqui, meu relacionamento com brasileiros aqui é pequeno. Já falei que às vezes sequer sei como agir com eles, e o quesito afinidade sempre é o mais importante, mas boa parte das vezes o problema é o fato do uso da língua. Cada um sabe o que faz, mas minha intenção ao sair do país não foi e não é continuar usando português. Ainda assim, como falei aí em cima, nunca pensei em descartar completamente brasileiros apenas pelo fato de serem brasileiros, coisa aliás que aconteceu comigo quando procurei casa por aqui no início. A proposta era conversar e ver no que dá.

Com isso, depois de avisarmos o dono da casa sobre nosso procedimento, aguardamos faltarem apenas algumas semanas para que o casal deixasse a casa, e iniciamos o processo. Criei um anúncio no Facebook, no grupo de acomodação mais comum aqui em Galway e meu Deus, houve uma tempestade torrencial de mensagens! Com o intuito de conversar com o máximo de pessoas possível pra poder analisar a que encaixaria melhor, gastei boa parte de uma noite agendando visitas com todas as pessoas que entraram em contato, e tirei o anúncio do ar em poucas horas, pois já nem tinha como encaixar mais gente.

No dia seguinte, avisei a minha housemate sobre o agendamento: 25 pessoas viriam dali a um dia, com uma diferença de 15 minutos entre elas, e ficaríamos basicamente o dia todo por conta disso. Ela quase teve um treco, e já imaginando que a italiana sequer permitiria essa quantidade de gente entrando em seu quarto, começou a pensar numa maneira de fazer isso de forma diferente. Tá bom, confesso que talvez tenha sido um pouco demais, mas só quis basicamente conversar e escolher o melhor, ué!

Sua idéia que discordei totalmente, mas argumentar com mulheres quando elas acham que estão certas é sempre um desafio, rs foi basicamente analisar o Facebook de todos que mandaram mensagem pra poder fazer uma pré filtragem. Acho totalmente falho, pois muita gente simplesmente trava as informações lá, ou simplesmente não coloca, o que fatalmente privilegiaria alguns e prejudicaria outros, mas ela estava tão irredutível que abaixei a cabeça e aceitei.

Assim, depois de inúmeros cortes de irlandeses, em sua maioria estudantes e potenciais baterneiros (o que de novo soa um pouco como preconceito, mas eu diria que jovens irlandeses, que por várias vezes têm bebida como única diversão, poderiam de fato "causar" mais do que estávamos dispostos a arriscar ver). Dos 25, restaram 6, e um acabou avisando que não poderia comparecer. Encaminhei a todos os "excluidos" mensagens de que meus housemates mudaram de idéia e só aceitariam mulheres/pessoas mais velhas/insira sua desculpa aqui.

No dia seguinte, lá estávamos nós entrevistando pessoas. Tivemos uma irlandesa que viveu no Japão por 3 anos e estudava mestrado na universidade aqui perto; um espanhol que falava português (pois morou anteriormente numa cidade próxima à Portugal); duas brasileiras, simpáticas mas bem tímidas e com um nível de inglês que ainda não permitia muita conversa; e um rapaz de Londres, super engraçado e que falava à "mil por hora" sotaque inglês e linguagem "das ruas" confesso que não foi fácil de entender, não! Fizemos perguntas gerais sobre eles, e falamos um pouco da gente e do ambiente que queríamos manter na casa, além de mostrar a casa claro e explicar sobre as regras e obrigações de cada um.

Para minha tristeza, minha housemate não gostou de ninguém! Apenas o rapaz espanhol a agradou um pouco, mas segundo ela o fato de usar a mesma língua poderia ser um impeditivo. Dessa maneira, resolvi no dia seguinte convidar o rapaz mexicano que não pôde comparecer antes, e acabei comentando sobre o quarto disponível com uma brasileira da minha sala. Apesar de a conhecer pouco, sabia do seu nível de inglês, e sempre me pareceu ser uma pessoa legal e que poderia perfeitamente se encaixar no que procurávamos.

No dia posterior, por uma questão de horário, acabamos entrevistando os dois ao mesmo tempo (o que se mostrou uma péssima idéia, mas não havia como saber antes). No fim, novamente minha housemate não se "encantou" com ninguém. Já um pouco estressado com a situação, tive uma conversa mais séria com ela, explicando sobre as vantagens de escolhermos a brasileira, mostrando tudo o que sabia sobre ela, e argumentando que por mais que conversássemos com mais gente, nunca saberíamos mais sobre elas do que eu sabia sobre a menina. Acabei convencendo ela a recebermos minha colega de classe de novo no dia seguinte, mas adivinha: logo após a entrevista, ela implicou com o fato de que a moça receberia o namorado por duas semanas e aí já dá pra imaginar o desfecho.

A partir desse momento ela ficou responsável por criar um novo anúncio e, devido à sua disponibilidade pra receber mais gente (devido a trabalho), o processo acabou se arrastando por mais uma semana.

No início da semana seguinte, recebemos mais um brasileiro tô falando que a cidade tá começando a lotar, hehe, mas o rapaz era tão tímido que apenas os outros brasileiros que o acompanhavam conversaram, e ficou aquela situação estranha. Com mais um "não", ainda precisamos de mais tempo e, após inúmeras dispensas de todos os tipos de pessoas pela internet e essa história rendendo bem mais do que eu esperava me pergunto porque tanta coisa que me acontece ganha contornos de intermináveis novelas, foram agendadas para o fim da segunda semana entrevistas com uma japonesa, outra brasileira e uma italiana. A essa altura, mesmo tendo alguns dias até o dia "oficial" em que deveríamos ter a nova pessoa, o landlord já arrancava seus poucos fios de cabelo ao saber de como as coisas estavam se encaminhando.

No dia e hora marcados, recebemos a japonesa (a brasileira não apareceu e nunca mais deu sinal de vida, apesar de ter implorado a entrevista com minha housemate ai, ai, ai!). A simpática moça tinha um namorado irlandês no Japão (?!) o que a conferia um interessante sotaque de quase irlandesa nativa. A conversa foi ok, e ela foi agradável a ponto de mandar uma mensagem de agradecimento após deixar a casa. No final da noite recebemos a italiana que tinha um comportamento bastante parecido com o dos nossos agora antigos colegas de casa, mas ela havia acabado de iniciar as buscas para o novo lar, e logo precisaria de um mês pra desocupar seu quarto atual.

Assim, depois de algumas semanas de entrevistas, conversas, argumentações e um bocado de dor de cabeça, acabamos chegando a um consenso sobre a japonesa, que concluiu sua mudança ontem. Resolvi também mandar mensagem para as pessoas não-selecionadas, por motivos de: faço com os outros o que espero que façam comigo.

Eu achava que entendia quando as pessoas normalmente se referem ao intercâmbio como uma maneira de aprender a se relacionar ainda mais com os outros, mas agora vejo que esse jogo de cintura é necessário com mais frequência do que eu pensava. Saber expressar sua opinião ao mesmo tempo em que respeita a dos outros, ainda mais quando essas pessoas tem bagagens culturais e modos de viver e ver o mundo diferentes do seu é algo que precisei de fato lidar. Mas assim é a vida, nada mais do que um constante aprendizado, e ainda mais quando se trata do "bicho gente", não é? Só espero que nossa decisão tenha sido acertada, e que nossa casa continue no clima de "home sweet home"!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

5 meses!


No último mês, principalmente por conta da viagem, acabei não fazendo o post-balanço do mês. Vou tentar então, resumir tudo o que aconteceu e que eu lembro durante todo esse período. Here we go:

- Desde que voltei da viagem e que o período de alta temporada na escola, quando havia aluno pra todo canto, acabou, resolvi também voltar ao nível avançado. Nem precisei fazer muita coisa, já que como havia passado no teste quando estive por uma semana lá, não seria necessário passar pelo mesmo processo. Basicamente pedi pra me colocarem lá de volta e pronto. Desde então - isso tem por volta de um mês - tenho gostado bastante (o que mostra que tive mesmo uma triste coincidência de uma professora e alunos "super avançados" quando estive lá). O estilo de aula, mesmo entre diferentes professores, é sempre focar mais na evolução do vocabulário do que necessariamente em gramática (o que eu particularmente prefiro, nessa altura do campeonato). Nas últimas semanas tivemos algumas mudanças, como um professor inglês sim, da Inglaterra mesmo e um aumento de número de brasileiros na minha turma, de um (eu, dah!) pra quatro. Normalmente não há nenhum "problema" nesse sentido, principalmente por estamos no nível mais alto na escola e por consequência num estado em que deveríamos todos nos comunicar em inglês, mas às vezes existem algumas conversas desnecessárias em português. Hashtag preguiça.
Vale citar que, não sei se devido à recente "quase" alteração nas regras de intercâmbio na Irlanda, mas percebi um aumento considerável de brasileiros na escola e nas ruas em geral, mas ainda distante da realidade de Dublin creio eu (estive de passagem em uma escola lá e vi 99% das pessoas serem brasileiras. Sim, a gente ouve falar, mas confesso que me assustei ao presenciar isso).

- Tenho ainda um pouco mais de um mês de aula, o que me incomoda um pouco pois caso não arrume emprego (assunto do próximo tópico), precisarei mesmo encontrar algo pra fazer. Candidatei a uma vaga part-time pela primeira vez aqui (loja de coisas "tech"), mas se nada acontecer, vou definitivamente arrumar pelo menos um trabalho voluntário.

- Com relação a trabalho full-time, já tive quase todas as experiências possíveis: recebi inúmeros "não foi dessa vez" de empresas as quais me candidatei para alguma vaga; já fiz várias entrevistas por telefone, especialmente de agências de recrutamento (extremamente comuns aqui) que prometem entrar em contato quando tiverem algo disponível para o meu perfil de não portador de passaporte europeu, e as que de fato retornam são raras. Hoje vejo que a questão de não ter o passaporte ser meu principal empecilho aqui. Entretanto até entrevista presencial em Dublin eu fiz no último mês. Era pra uma multinacional enorme, mas no final descobri duas coisas: o tipo de trabalho pra vaga que ofertaram - Business Analyst - não tinha ligação nenhuma com o que eu tenho experiência. E pra cereja do bolo, apesar de eu ter informado quando me cadastrei que não tinha o visto de trabalho, aparentemente eles não checaram isso, e no meio da entrevista descobrimos que esse ponto não estava claro (e a empresa não oferece esse tipo de "suporte" que eu precisaria, conforme expliquei aqui).
Olhando para o retrospecto, estou procurando emprego aqui há mais ou menos 3 meses, e pra ser sincero, achei que seria bem mais fácil. A combinação de não possuir o visto de trabalho com a falta de uma enorme experiência na área em que quero focar (apesar de ter alguma) acaba empacando a coisa, e me leva a uma dicotomia. Se não encontrar nenhuma oportunidade aqui, preciso voltar pro Brasil antes do final de janeiro. Vínculos familiares a parte, não sinto hoje a menor vontade de voltar pro país e pro tipo de vida que vivia antes. Daí fica aquela coisa aberta sobre o futuro: se arrumo algo aqui, não faço ideia de como poderia ser essa "nova vida" num outro país (a realidade de "trabalhador" é fatalmente diferente da minha hoje, mas a principio estou disposto a pagar pra ver); senão, preciso voltar e também não sei direito como vai ser. Considerar um retorno para o Brasil hoje seria pra encontrar um emprego que me permitisse trabalhar viajando pelo país e/ou principalmente pelo mundo afora, ou na pior das hipóteses, caso isso não aconteça, consigo me imaginar no máximo vivendo em outro estado. Sempre tive a sensação de que minha cidade é pequena demais pra mim, e agora só consigo ter certeza super estranho o morador de Galway falar sobre não gostar de morar em cidade pequena, rs.

- Ainda na questão profissional, dois dos meus objetivos a serem realizados quando planejei meu intercâmbio estão em execução. O primeiro, aliás, era obter uma certificação a respeito de uma metodologia que estudei e me apaixonei na minha pós. Basicamente precisei reler um livro enorme e fazer a prova nada fácil pela internet. Não sei qual o peso dessa certificação no mercado (a metodologia ainda não é tão difundida) mas acredito tanto nela como solucionadora de vários problemas que presenciei ao longo da minha experiência que precisava de algo que comprove meu interesse, nem que fosse só pra mim. O outro ponto é: estou escrevendo esse post num ônibus, indo pra Dublin! O bendito "curso na área" que tanto citei ao definir o destino do meu intercâmbio finalmente irá começar. Acabei decidindo pegar o de melhor custo-beneficio leia-se mais barato, pois o euro está nas alturas, mas a escola tem uma boa reputação. Por ser uma vez na semana durante os próximos 4 meses, acabei preferindo continuar morando em Galway. Assim, "viajar" pra Dublin às segundas-feiras será minha nova distração o que aliás significa mais tempo dentro do ônibus do que na sala, mas ainda acho que vale a pena.

- Meus dias aqui ainda tem mais ou menos a mesma estrutura: escola pela manhã e ficar com amigos durante a tarde e noite. Por mais "à toa" que isso possa parecer tá bom, às vezes é sempre conseguimos arrumar algo pra nos ocupar e entreter, seja indo ao cinema, cozinhando, ou simplesmente batendo-papo horas a fio. Não costumo fazer nada especial no fim de semana, e sábado é o dia "de caverna", ou seja, sair da cama só pra comer, e por séries/filmes/youtube/blogs em dia. Pra quem trabalhou desde os 16 anos (e estudou até hoje) sem parar, confesso que me dou ao luxo de viver assim por um tempo, hehe.

- Em contrapartida, tenho andado ocupado nas últimas semanas por conta de um projeto pessoal que ironicamente me fez voltar pra área técnica de TI. Ainda não posso dar mais detalhes, mas em breve tudo será esclarecido.

- Continuo com um relacionamento bem legal com meus housemates. Se num acaso encontramos algum assunto que nos interessa, enveredamos nele por horas conversando. Não sei se já citei aqui, mas temos um "quadro negro" que compramos, e onde escrevemos palavras que aprendemos no dia a dia. O legal é que acabo ajudando eles em dúvidas que eles têm, e meu apelido por aqui já é teacher quem me dera. O problema é que o casal de italianos está de mudança, e isso acabou trazendo uma preocupação, que será o tema do próximo post.

À caminho de um semestre na Irlanda!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Pé na estrada: Itália (Parte 3 - Roma)


Concluindo a história que comecei a contar aqui e aqui. Esse post resume 3 longos dias em Roma, e fatalmente será mais um da série: Lucas, como você consegue escrever tanto?? Enfim, aperte os cintos, e vem comigo!


Após deixarmos Veneza, foram novamente mais ou menos 3 horas de trem até Roma. Compramos passagens que nos deixariam numa estação relativamente longe da acomodação não me perguntem porque, e como a parada final do trem ficaria mais próximo de lá, demos uma de "armless John", e esperamos mais 3 minutos pra descer na Termini Station, maior estação de Roma, onde se encontram trens, metrôs e ônibus.

Tendo de encontrar novamente as coordenadas corretas pra acomodação pelo 3G já que Wifi liberado de novo não foi possível, precisamos andar por volta de quinze minutos até o local. Comecei a ter a sensação de "fobia" de cidade grande de novo, pois meu primeiro impacto ao sair da estação foi horrível. Achei a região muito feia (bastante parecida com a rodoviária de BH, e quem conhece sabe o quanto é pavoroso, digno de cenário de Walking Dead pra cima), mas posteriormente percebi que era mais pelo fato de onde estávamos localizados, e não uma característica da cidade como um todo.

Chegamos próximos de onde o mapa localizava o B&B, mas não conseguíamos encontrar direito. Havia basicamente uma porta que dava pra uns prédios isolados da rua que mais pareciam um conjunto de sobradinhos. Aliás essa cena me lembrou uma novela "italiana" que passou na Globo há muito tempo atrás, e esse ponto merece um parêntese, ou melhor, um parágrafo.

Pode parecer muito fútil essa observação, mas por todo o período em que estive na Itália, pude perceber que aprendi um bocado assistindo novelas que retratavam parte da história Brasil/Itália. Fosse com relação a língua (sério, percebi que sabia muito mais palavras e expressões do que imaginava, e muito veio do que assisti na época), ou alguns elementos culturais, tenho que tirar o chapéu para como as coisas foram representadas lá, e dar a cara pra bater caso se levante o argumento de que novela é cultura inútil, rs.

Voltando, depois de um tempinho tentando achar o local, decidimos simplesmente subir as escadas de um dos prédios e, ao chegarmos no segundo andar, deparamos com duas portas. A primeira, fechada, e a segunda, aberta e com senhores aparentemente fazendo uma mudança, pois estavam carregando móveis. Após batermos na porta por algum tempo e sem obter resposta, a dona da casa em mudança (num inglês bem básico) perguntou se queríamos ir para o hostel, e após nossa resposta, se prontificou a ligar para a dona do local. Depois de uns 5 minutos, eis que surge a responsável pelo B&B (ou seja, nem adiantava mesmo ficar batendo lá, e nem sei o que teria acontecido se a tal vizinha não estivesse "na hora certa no lugar certo"). 

A senhora, enquanto pegava nossos dados pra fazer o checkin, foi solicitada por um casal que estava "na parte de dentro" no momento para pagarem por mais uma noite no local. O problema: eles pediram em inglês, e a moça disse que não falava uma palavra da língua! Logo, acionando meu espírito de bom moço, lá fui eu me aventurar no "ítalo-português" novamente. Claro que saiu uma m*, afinal ter que traduzir inglês-português, português-italiano (com meu vocabulário que tende a zero) não foi fácil, mas no final todo mundo se entendeu. 

Na sequência, a moça resolveu me explicar as "regras" do local, pois eu era brasiliano e a entenderia será?. Em termos gerais o lugar era uma casa/sobradinho, e apesar de não ter nenhum luxo novamente (justificando o custo), não era completamente um muquifo também. Entretanto tivemos dois problemas: acabei esquecendo de perguntar sobre como funcionava a questão do café da manhã (oferecido na descrição do B&B e um dos motivos pelos quais escolhemos esse), e durante os 3 dias em que permanecemos lá, o bendito simplesmente não apareceu! Outro problema, relacionado ao primeiro, foi que, tomando de exemplo a situação da chegada, não encontramos a senhora nunca mais! Mesmo no dia do checkout (que esperávamos contar com a boa vontade dela para manter nossas malas lá até a hora de ir para o aeroporto), a moça tomou chá de sumiço, e simplesmente deixamos as chaves no quarto e fomos embora! O barato saiu caro, e não recomendo esse B&B, que aliás já possuía comentários negativos sobre esses pontos no site em que reservamos, mas que resolvi dar uma chance - que não valeu a pena.

Após ajeitarmos as coisas, quando já eram mais de 14 horas, resolvemos ir almoçar. Mais uma vez, o amigo coreano resolveu indicar um restaurante citado em outro blog do seu país, dizendo haver refeições super em conta e relativamente perto dali. Como não tínhamos nenhuma outra referência desse tipo, acabamos indo pro local, bastante perto da Termini. Chegando lá, um doce pra quem adivinhar o que aconteceu: F-E-C-H-A-D-O! Começo a ter a impressão de que dicas coreanas existem para não serem seguidas!!! Procuramos outro restaurante próximo, e por um preço apenas alguns euros mais caro do que o previsto no restaurante-fantasma, almoçamos o chamado cardápio turístico, que incluía entrada, prato principal, sobremesa (fruta) e bebida (água). Better than nothing.

Depois, munidos de mapas (que ganhamos no B&B, ponto positivo!), começamos a cogitar lugares pra ir, mas já havíamos agendado um Free Walking Tour que começaria dali a não muito tempo, e no final resolvemos ir caminhando pra lá sem muita pressa. Durante essa caminhada percebi o quanto Roma é louca: andando pela cidade você pode a qualquer momento cruzar com monumentos de longos anos de história, ao mesmo tempo em que do lado há um outdoor gigante da Calvin Klein ou alguma marca do tipo, enquanto um trânsito muitas vezes caótico está misturado no meio disso tudo! É um fato interessante, mas particularmente esquisito pra mim. 

Nos direcionamos para um lugar conhecido como Spanich Steps e lá nos encontramos com um guia muito simpático, falando inglês num sotaque italiano carregadíssimo, e partimos para duas horas de caminhada e muita informação ao redor da cidade. Visitamos diversas e belas igrejas e vários monumentos cheios de história. Vale destacar também uma sinfonia de violinos em frente ao Panteão tocando "Ai se eu te pego" (??!!), e um senhor "encantador" oferecendo rosas pra minha amiga perto de um ponto turístico e depois quase a obrigando a pagar, quando teve que devolver a flor, tsc, tsc. O ponto final do programa era na famosa Fontana di Trevi, mas Murphy esteve presente mais uma vez, e ao chegarmos lá ficamos sabendo que ela estava em reforma e inativa #Chateado²³¹³²³²¹²³¹¹²¹¹².

Após provarmos o primeiro gelato na cidade, resolvemos dar uma volta descompromissada. O maior problema das visitas turísticas em Roma, já alertado pelo nosso amigo italiano, é que ela é uma cidade bem grande, e boa parte dos monumentos estão espalhados por diversos cantos cidade afora. Assim, mesmo com um cronograma mais organizado dessa vez, já sabíamos que não dava pra ver tudo, e mesmo nessa "caminhada ao redor" acabamos visitando um lugar super interessante: o Fórum Troiano. Ele foi o último fórum construído na Roma Antiga e, apesar de não dispormos de muita informação sobre o local no momento, foi bem legal desbravá-lo podendo observar tamanha carga histórica no início daquela noite.

Após uma boa caminhada ao redor ainda sem muita direção, acabamos chegando no protagonista da cidade: Coliseu. Nosso planejamento era de visitar a parte interna dele apenas dali a dois dias, mas a estrutura imponente do monumento contido nas listas de sete maravilhas do mundo medieval e moderno (ainda mais impressionante com a visão noturna) acabou nos convidando para uma visita rápida. Ao redor havia basicamente muitos turistas, e vendedores de "pau de selfie", além de pintores dessas placas que retratam imagens dos locais usando tinta spray (e particularmente lá, acompanhados cada um com um aparelho de som mais alto que o outro). Depois de um tempinho, caminhamos pra casa, e bastante famintos decidimos comprar algo pra comer num boteco restaurante simples próximo à acomodação. Meu amigo foi de espaguete e eu de lasanha. Fomos dormir relativamente cedo, pois o dia seguinte prometia.

Acordamos bem cedo no segundo dia, pois a programação era desafiadora: fazer o percurso do Vaticano, consistido de: Museus do Vaticano, e praça e Basílica de São Pedro. Detalhe: esse trajeto é normalmente feito em 2 dias, mas faríamos em um. O meu problema é que já acordei tendo "um dia de rei", provavelmente por conta da bendita lasanha da espelunca do lugar que comi no dia anterior. A situação estava bem complicada, mas como tínhamos programação pro dia todo, resolvi arriscar. Comendo apenas algumas frutas pois tô esperando o café da manhã até hoje!, pegamos o metrô com direção à cidade-estado.

Após sairmos da estação, basicamente seguimos a "manada", e após alguns minutos estávamos rumo à Praça de São Pedro. O problema é que, como já sabíamos, haveria uma "reunião" com o Papa no dia, e a visitação ao local só estaria disponível até as 9hs, e aberta novamente às 13hs. Assim, nosso plano era primeiramente visitar os Museus do Vaticano, reservados já há semanas antes da viagem. No caminho da Praça para os Museus (menos de 10 minutos), fomos abordados diversas vezes por senhores, muito bem vestidos e algumas vezes usando crachás, que se diziam membros da organização turística oficial, e que ofereciam um "upgrade" nos nossos tickets dos Museus para passarmos por uma ligação entre eles e a Basílica, supostamente para não enfrentar as normalmente quilométricas filas existentes para entrar no maior edifício religioso do Catolicismo. O problema é que pra mim e meu faro brasileiro de charlatões, esses caras eram certamente farsantes, que tentavam ganhar dinheiro às custas da desinformação das pessoas. Meus amigos quase se deixaram enganar, mas os convenci a ignorar os sujeitos.

Dentro dos Museus, resolvemos também alugar o guia de áudio, pois durante toda a viagem sentimos que não absorvemos tudo dos lugares que visitamos por não ter informações a respeito no momento. Como lá só havia narrativa em português de Portugal, acabei pegando a versão em inglês mesmo, mas fiquei com preguiça de ouvir tudo sobre tudo (é muita coisa, e às vezes são minutos de descrição) e não achei que valeu a pena.

Os Museus são enormes, e uma vez que o próprio nome no plural diz, são inúmeras galerias com obras e monumentos de diferentes etapas da civilização. Seguindo uma sequência mais ou menos estruturada fisicamente, é possível visitar museus de história antiga (sobre Egito e Grécia antiga, onde se observam múmias, sarcófagos, etc), uma sequência enorme de monumentos de faces de pessoas importantes também por volta dessa época; um sem-fim de estátuas gregas e romanas, de inúmeros tamanhos e materiais diferentes; várias galerias com pinturas do chão ao teto, de uma beleza ímpar, além de outras enormes com tapetes antigos de mesma magnitude (nesses locais tudo já é referente a períodos bíblicos, especialmente à vida de Jesus). Já mais ao final, estão os aposentos de Rafael, que possuem simplesmente as pinturas mais lindas que já vi na minha vida! Obviamente, não tenho nenhum conhecimento artístico ou técnico pra julgar essas coisas, mas é absurdo o quanto as pinturas são bonitas, bem acabadas e com contrastes indescritíveis, e tudo isso feito na parede. NA PAREDE! Além disso, após uma sequência de obras já retratando arte contemporânea, chegamos na cereja do bolo: a Capela Sistina. O local, pequeno para o que eu imaginava (mas no final das contas, o conceito de "capela" não é algo grande, né?), possui pinturas que são impossíveis de descrever, sendo ainda mais belas dos que as feitas por Rafael. Lá dentro é proibido tirar fotos, e existem guardas apenas pra pedir silêncio e gritar "no photos, no photos!", apesar de não ter visto ninguém confiscar nada.

Aposentos do Rafael: tem como não achar isso lindo?

Gastamos mais de 4 horas nesse percurso todo, e em boa parte dele precisei parar e visitar os banheiros pelos motivos já imaginados maldita lasanha!. No fim já estava me sentindo fraco e, ainda com medo de passar mal pelo mínimo que comesse, acabei almoçando apenas salada quem me conhece sabe que pra isso acontecer a coisa tem que estar feia mesmo!. Já sem saber como meu corpo reagiria, resolvi tentar só dar uma passada na Praça de São Pedro, mas chegamos lá vimos que a fila para a entrada na Basílica, (que já relatos dizendo que ela pode ser longa a ponto de dar volta nos muros do Vaticano), ocupava menos da metade da Praça, e acabamos nos decidindo por tentar arriscar. Gastamos menos de meia hora na fila, e após chegar no início da Basílica, vimos a entrada para os "telhados", ou melhor dizendo aqui, para a Cúpula. Pagamos e valor e, mesmo em dúvida se fazia sentido ir pra cima primeiro antes de visitar o interior, iniciamos a jornada.

Já havia lido que o percurso não era simples e que haviam mais de 500 degraus, mas gente, o negócio parece não ter fim, e paga qualquer promessa! O espaço onde estão as escadas é estreitíssimo, e existem avisos para pessoas com problemas no coração ou claustrofóbicas optarem pela subida de elevador (que é um pouco mais cara, o que explica o porquê de eu ter ido de escada, hehe). Existiram duas paradas: uma onde existe uma saída para o exterior da Cúpula mesmo antes de chegar ao topo, e uma com uma visão da parte de dentro da Basílica. O interessante é que uma espécie de missa começou a ser celebrada no momento em que observávamos tudo há vários metros de altura, numa visão geral de tudo. Após mais subida e minha pressão em sentido oposto, chegamos ao topo. É uma visão perfeita de vários pontos da cidade, além de se poder observar toda a imensidão da Praça, que é enorme. A visita à Cúpula é tida como um must em Roma, e eu não poderia concordar mais.

Depois do looooongo período pra descer todas as escadas, chegamos na entrada da Basílica. Meu Deus, como pode existir algo como aquilo? Ao contrário da Catedral de Milão, onde tive a impressão de que o espaço interno não condizia com a visão externa, na Basílica de São Pedro tive a impressão de estar dentro de um local sem fim, tanto horizontal quanto verticalmente. O lugar é enorme, com esculturas, estátuas, vitrais e tudo mais enormes, lindos, indescritíveis. Como já mencionei antes, mesmo não seguindo a religião católica (e historicamente desaprovando MUITO do que ela fez e faz parte), o contexto histórico e a beleza de tudo que está contido naquele lugar é de deixar qualquer um de boca aberta. Encerramos o dia comendo alguma coisa novamente perto da acomodação, mas dessa vez eu e apenas eu (?!) decidi comer em outro lugar.

No dia seguinte, último da nossa viagem de 9 dias, o plano era visitar o "complexo" do Coliseu, composto pelo próprio, além do Palatino e do Fórum Romano. O que não esperávamos era que algo que já me acometeu algumas vezes aqui em Galway fosse acontecer lá. Explico: tenho algum tipo de problema com bebida alcoólica, o qual sinceramente não sei dizer direito o que é, e que simplesmente deixa o meu pé inchado e com dores terríveis nas articulações dos dedos com alguma frequência quando bebo. Tive isso algumas vezes no Brasil (o que complica o ato de se apurar, pois não tem uma ligação sempre direta com a vez em que bebo, e que o inchaço aparece), mas aqui na Irlanda a relação foi quase de um pra um. Tive que tomar anti-inflamatório por várias vezes, e sempre dói muito! Quem me conhece sabe que bebo muito pouco, mas depois das últimas vezes desse problema aqui resolvi simplesmente não beber mais. A questão é que no nosso primeiro dia em Veneza, inocentemente bebi uma taça de vinho branco (e nem senti nada no dia seguinte, momento em que normalmente essa dor ataca). Não sei se por conta do tanto que andamos no dia anterior (ou no conjunto de caminhadas da viagem inteira), ou por sabe-se lá qual motivo, essa dor veio novamente. O pior é que, com medo de ter meus remédios "confiscados" no aeroporto, só levei Paracetamol, o que até tentei, mas não adiantou de nada.

Fizemos o "checkout" no B&B e nos direcionamos à estação Termini, onde deixaríamos nossas bagagens pra poder ficarmos livres e explorar o Coliseu direito. Fui-me arrastando dando graças à Deus por ter levado sandálias, pois tênis naquele dia seria impossível, e chegamos lá gastando o dobro do tempo previsto. Depois de uma burocracia enorme para deixarmos as malas e com o pé no dobro do tamanho, resolvi finalmente tentar comprar o mesmo remédio que trouxe do Brasil numa farmácia dentro da estação. Depois de ter descobrido o nome em inglês, me direcionei pra drogaria mais próxima, e fui informado de que precisaria de prescrição médica para comprá-lo. Já fazendo cara de choro e insistindo com a farmacêutica que nem se mostrou assim tão comovida, ela me disse que poderia vender um com eficácia mais leve mas que poderia me ajudar. Tomei o bendito remédio e nos direcionamos pro Coliseu assim mesmo, ainda que gastando uma graninha a mais no metrô, afinal era meu último dia e Deus sabe quando teria a oportunidade de visitar o Coliseu de novo nessa vida.

Chegando lá, mesmo que no "passo do elefantinho", adentramos o Coliseu. Estávamos cobertos pelo sol do meio-dia ou seja, calor infernal, mas deu pra andar de forma relativamente tranquila. Fiquei um pouco decepcionado, porque achei ele beeeem menor do que eu esperava, e a visão externa dá uma ideia bem diferente do que é por dentro. Ou eu não entendo essa parte da História direito, ou era simplesmente impossível haver a arena dos gladiadores com o espaço existente na parte central do famoso anfiteatro.

Sem demorar muito lá, e com o remédio já fazendo algum efeito thanks, God!, fomos em direção ao Palatino. Ao chegar, percebemos que na parte inicial haviam pouquíssimas ruínas, e o local basicamente parecia um parque, com uma área verde considerável. Andamos por um bom tempo, pois de lá era possível ver boa parte da área conhecida como Roma Antiga.

Nos direcionamos então para o Fórum Romano, um conjunto de estruturas como templos e arcos, pertencentes àquela época da civilização. Sentimos falta novamente de alguma referência pra entender "o que era o quê" e acho que esse foi um dos aprendizados como mochileiros de primeira viagem novatos para as próximas viagens. Apesar de andarmos um bocado por meio das ruínas (que mesmo nesse estado ainda possuem grande magnitude), precisamos correr um pouco e finalizar nossa visita ao local, pois nosso amigo coreano ainda iria para Florença o que não coube no meu orçamento.

Voltamos para a estação pra pegar as malas e despacharmos o rapaz, e depois de matar o tempo visitando a Praça da República e a Basílica de Santa Maria dos Anjos e Martírios, foi hora de pegar nosso ônibus (que estava uma hora atrasado e morremos de medo de perder o voo) e dizer adeus pra Itália.

Essa viagem foi de longe a mais completa da minha vida. Visitar tantos lugares bonitos, com uma dimensão histórica enorme e na companhia de amigos foi uma experiência maravilhosa e inesquecível. Espero que ainda tenha oportunidade de viajar pela Europa mais vezes ainda que com orçamento super-limitado. Aliás, já temos planos para encontrar o bom velhinho fora da ilha dos leprechauns. Já estou sonhando com queijos e chocolates maravilhosos, hehehe!